sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Triunfador da noite!


Miguel Alvarenga - Antes de me alongar na análise daquela que foi uma das melhores corridas desta temporada, queria só dizer-te umas palavras, meu querido Emílio.
Do outro lado do telefone, és um piegas do caraças, deve-te ter escorrido pela cara uma dúzia de lágrimas quando na quarta-feira me ligaste a dizer que ias ao Campo Pequeno.
- Até que enfim, Emílio dum raio!, exclamei.
E tu explicaste:
- Vou e vou para a trincheira, fotografar!
- Mas não andas ainda de muletas?
- Ando, mas que se lixe, ponho-me quieto num burladero e já está!
E assim foi.
Houve tantos triunfadores na noite de ontem, Emílio, que corrida tão fantástica, mas a tua presença deu um toque especial, tão significativo, tão importante. Para ti. Para mim. Para todos.
Foi bonito o brinde que te fez o Luis Rouxinol Jr., foi pena que mais nenhum cavaleiro se tenha lembrado, sequer, de te dedicar um ferro. Que algum forcado se tivesse lembrado do teu regresso. Que foi, como nos filmes e nas grandes epopeias, o regresso de um Herói.
És um exemplo de vida. Para mim já o eras há anos. Agora estás a sê-lo para todos. Duas máquinas a tiracolo, deves ter feito ontem um esforço sobrenatural, mas tu és uma máquina, Emílio.
Pensei, a sério, que tão cedo não te ia ver numa praça, que só voltarias quando estivesses recuperado a cem por cento dessa maldita infecção na perna que ainda te obriga a andar de muletas. Mas voltaste. Marcaste a noite e marcaste-nos a alma. És um espectáculo, meu querido!
Gostei tanto da corrida, mas confesso-te que gostei ainda mais de te ver lá em baixo, de poder voltar a gritar "ó Emílioooooo!", de ter ver a sorrir com esse teu sorriso tão bondoso e tão verdadeiro que tantas vezes nos iluminou as nossas loucas viagens.
Ontem não te pude dar aquele abraço que queria, estavas lá em baixo. Dei-to depois da corrida pelo telefone. Mas vi tantos e tão bons amigos abraçar-te.
Os teus conselhos de irmão mais velho e mais sabedor das estórias da vida, a tua amizade pelos meus filhos, que te tratam carinhosamente por tio Emílio, a parelha que fizemos e havemos de continuar a fazer de Deus quiser e Ele há-de querer, os milhares de quilómetros que percorremos os dois no teu carro com vidros à prova de bala, aquele GNR que já não me podia ver pela frente e eu a pedir-lhe que disparasse uma bala contra o vidro para eu ver se, afinal, era mesmo à prova de bala como dizias, o que rimos, as santas loucuras que vivemos, as angústias que repartimos nos momentos menos bons, tanta merda, Emílio, que eu ontem recordei naquele breve espaço de tempo em que fixei o meu olhar nas tuas eternas luvas brancas, no teu rosto de felicidade por estares ali outra vez, nessa garra imensa com que lutaste sempre contra as adversidades e não foram poucas, e não têm sido poucas, e eu lembro-me sempre daquele dia em que me disseste que tinhas um cancro e eu fiquei calado, apeteceu-me chorar, gritar, voar, sei lá, tudo o que eu pudesse fazer, só não consegui foi falar e quem me tranquilizou foste tu, "tenho e vou dar cabo dele".
Gosto tanto de ti, meu querido Emílio. Que bom foi ver-te ontem no Campo Pequeno, meu grande triunfador da noite!
Toma lá um abraço. E não comeces a chorar, piegas dum raio!

Foto Maria Mil-Homens