terça-feira, 3 de abril de 2018

Pedro Louceiro passeado em ombros ontem em Sousel

Pedro Louceiro surpreendeu pela positiva, teve uma auspiciosa estreia em
Portugal, foi passeado aos ombros e seria interessante vê-lo esta temporada em
mais corridas por cá
Lides pautadas pela regularidade e pela desenvoltura: Francisco Cortes é um
toureiro de valor a quem as grandes empresas não têm dado o merecido relevo
Sónia Matias reencontrou-se ontem em Sousel e levou o público ao rubro
sobretudo no seu segundo toiro


Mendonça Dias - Apesar das péssimas condições climatéricas ao longo de toda a manhã, fazendo prever o cancelamento do espectáculo, a organização da corrida de ontem em Sousel (Fernando Canto) não privou os aficionados de assistirem a um dos mais tradicionais festejos da temporada e levou por diante a função - que decorreu a um ritmo agradável e rodeado da festa sempre habitual nas bancadas, sem intervalo e com excelentes intervenções dos três cavaleiros e dos dois grupos de forcados, que enfrentaram toiros de Santos Silva, alguns de apresentação menos própria, mas que deram bom jogo e proporcionaram um excelente espectáculo. Cumpriu-se a tradição - que em Sousel, de facto, ainda é o que era.
Esta corrida, antecedida dos tradicionais piqueniques em redor da praça que tem o nome do grande Pedro Louceiro, é sempre um espectáculo diferente e que por isso mesmo, sobretudo pela saudável animação que se vive nas bancadas, tem que ser analisado sob outro prisma, que não o convencional. Mas o que importa e sobressai, para lá daquilo a que Miguel Alvarenga um dia baptizou, sem com isso desprestigiar de algum modo este espectáculo, como "a corrida das bebedeiras", é o que se passa na arena e não na bancada. Se bem que a animação popular, os cânticos, a euforia, contribuam, de facto, para que esta corrida de segunda-feira de Páscoa em Sousel tenha um selo distinto do que é convencional e seja mesmo "uma coisa diferente de tudo".
Marco Gomes esteve muito bem na direcção da corrida e a organização teve o bom senso de não fazer intervalo, permitindo com isso que o espectáculo decorresse a um ritmo agradável e sempre em crescendo, sem tempos mortos e com uma duração qb. O público saíu satisfeito da praça, as bancadas registaram uma enchente e há que enaltecer a atitude do empresário Fernando Canto de ter ido com o festejo por diante, apesar do mau tempo e de todas as dúvidas que o céu cinzento e carregado, nas horas que o antecederam, motivaram nos aficionados quanto a um mais que provável cancelamento.
Artisticamente, com um cartel apelativo e que tinha como aliciante maior a estreia entre nós do cavaleiro Pedro Louceiro III, o espectáculo teve um nível elevado, apesar da pequenez de alguns toiros, um curro com apresentação desigual, mas que serviram e deram bom jogo.
Francisco Cortes é um toureiro de valor - a quem as grandes empresas não têm dado o relevo merecido. Alegra e fica bem em qualquer cartel, por ser um cavaleiro desenvolto e desembaraçado, por ser bom toureiro e por estar sempre bem montado. Conquistou ontem os aplausos do público na lide dos seus dois toiros, esteve ao seu (alto) nível e não chateou ninguém... Há toureiros que chateiam e nos dão sono. Quando Cortes toureia ninguém dorme! Deixou bem aberto o apetite para o vermos dia 29 em Estremoz com João Moura e António Telles.
Depois de uma passagem menos gloriosa pela arena de Santarém, há duas semanas, Sónia Matias reocupou ontem o lugar que é seu. Andou regular na lide do seu primeiro toiro, sem defraudar, e teve depois uma actuação mais destacada no segundo, sobretudo em dois ferros curtos de extraordinária execução, levantando o público das bancadas.
A grande surpresa foi, na verdade, Pedro Louceiro. Actuando em cavalos emprestados, demonstrando ser um exímio lidador e fazendo gala de excelente equitação, o neto do saudoso Pedro Louceiro evidenciou ainda uma raça intuitiva e uma facilidade imensa em chegar ao conclave, que galvanizou sobretudo no último toiro da tarde, destacando-se na brega e nas sortes frontais. Esteve, como se costuma dizer, a gosto, entusiasmando tudo e todos e no final foi muito justamente passeado em ombros na arena. Não sabemos se vai tourear mais esta época em Portugal - mas seria interessante que o fizesse.
As pegas estiveram a cargo dos grupos de forcados de Évora e do Redondo e decorreram sem incidentes e com alguma emoção. Pelos eborenses foram caras os forcados Rui Bento (à segunda), António Alves (à primeira) e José Maria Caeiro, que concretizou ao segundo intento: pelos do Redondo pegaram João Ricardo (à segunda), Sérgio Passos (à primeira) e André Falé (à segunda).

Fotos Maria Mil-Homens