João Moura emocionou-se por diversas vezes ao longo do emotivo discurso do presidente da Câmara, Gonçalo Lagem |
Pela importância, pelo sentimento e pela emoção das suas palavras, reproduzimos aqui na íntegra o eloquente discurso feito por Gonçalo Lagem, presidente (exemplar) da Câmara de Monforte, proferido no último sábado no acto de inauguração do monumento de homenagem aos 40 anos de alternativa do Maestro João Moura.
Ex. Sr. João António Romão de Moura
Minhas Senhoras, Meus senhores, Caros munícipes!
Em primeiro lugar, agradecer em nome do município ao Miguel Alvarenga, não só por esta intervenção e disponibilidade sempre, mas também pela sua amizade, dedicação e admiração ao nosso João Moura. Foi o Miguel quem organizou o jantar do passado dia 30 de Maio, onde foi feita homenagem nacional. Foi um momento muito sentido, com muita participação. E foi muito grato, toda a manifestação de carinho para com João Moura, da família, de amigos, de anónimos admiradores, de colegas de profissão e foram muitos…Fiquei muito feliz de ter participado. Bem haja Miguel.
Agradecer aos monfortenses e a todos, quantos fizeram questão de estar aqui hoje e alguns vieram mesmo de muito longe.
Agradecer à banda Filarmónica de Póvoa e Meadas na pessoa do seu maestro, meu caro amigo José Agostinho.
Fez no passado dia 11 de Junho 40 anos, que um rapaz de Monforte de 18 anos de idade, tomou a alternativa de cavaleiro profissional, das mãos de Mestre David Ribeiro Teles, e como testemunha Mestre Batista. É a assinalar esta efeméride, que hoje aqui estamos. Mais uma merecida e justa homenagem a um homem que sempre fez questão ao longo da sua brilhante carreira, de a acoplar ao nome da sua terra, do seu Concelho, Monforte. João Moura, foi, é e será sempre o nosso grande embaixador.
A carreira e as conquistas de João Moura, foram alvo dos maiores e mais distintos reconhecimentos, da sociedade civil e institucional. Entre muitos outros, destaco a comenda da ordem civil do mérito agrícola, pelas mãos do Presidente da República, Mário Soares, o reconhecimento e a admiração dos Presidentes Jorge Sampaio e General Ramalho Eanes e do Rei de Espanha D. Juan Carlos. Na sua terra, João Moura, tem o nome de uma rua, precisamente onde hoje reside, tem a medalha de ouro, mérito municipal e hoje inauguramos este monumento da autoria do Município, sendo o painel de azulejos e os versos, propriedade artística de outro monfortense, o Patico, assente em granito rosa Monforte.
A vontade do Município, é a vontade das pessoas, monfortenses, que muito estimamos, não só a carreira de João Moura e o que alcançou, mas também a sua personalidade, o seu amor à terra, humildade, carinho e amizade que nos dedica. Falo como munícipe, que também o sou e na gratidão que as nossas gentes têm para com o nosso mais ilustre conterrâneo.
Lembro a história de um menino de apenas 3 anos de idade, que assistiu aos 6 toiros de Santarém, no colo dos pais, juntamente com um vasto número de pessoas de Monforte que o acompanharam nessa data importante.
Esse menino de 3 anos, morava em Monforte, perto da casa de João Moura, no Largo da Madalena e cresceu deslumbrado, com toda a movimentação, antes e depois das corridas, a tensão do partir, rumo a importantes viagens e compromissos, bem como o alívio da chegada, com os ramos de flores, cuidadosamente e carinhosamente guardadas, para de seguida, serem levadas para a igreja da Donana. Aquela casa era um rodopio de gente a entrar e a sair, havia cavalos nas cocheiras da casa da Dona Maria Guiomar, ali mesmo ao lado, e onde naturalmente se respirava um ambiente de grande afición. O menino, esse, vivia num mundo de fantasia, já consciente de que João Moura era um fenómeno da tauromaquia mundial, em que muita gente importante frequentava a sua casa. Colegas de profissão, famosos, ganadeiros, os mais importantes criadores de cavalos. Que melhor montra havia, do que ter um dos seus cavalos nas mãos de João Moura. cumprimento o sr. Manuel Braga e o Jaime Saramago e o Tiago Tomé. E tudo girava sempre à volta do Largo da Madalena.
Os anos foram passando e as prestações de João Moura, eram surpreendentes. Se poucas dúvidas havia, sobre a sua genialidade, eram rapidamente desfeitas. Todos estavam rendidos a João Moura, mas neste mundo, perante a feroz competitividade, havia que o provar todos os dias. E João Moura provava. Tinha o Mundo aos seus pés.
O povo de Monforte, vibrava, havia mesmo um grande grupo, que não perdia uma corrida do seu menino prodígio, acompanhava-o para todo o lado, e orgulhosos, exclamavam: Nós somos da terra do João Moura. Além do seu núcleo duro, dos que faziam parte da sua equipa.
De ano para ano, João Moura acrescentava sempre algo de novo, reinventava-se, fazia o impossível e o impensável. Explorava na plenitude as diferentes potencialidades de cada cavalo, percebia como ninguém do comportamento do toiro e as coisas resultavam sempre em todo o seu explendor.
Estava consolidada a sua carreira, era inquestionável o seu talento e as prestações e anos de glória repetiam-se corrida após corrida, temporada após temporada.
Todos os empresários queriam nas suas praças o cavaleiro, garantia de sucesso na bilheteira e da oferta de um excelente espetáculo para o seu público.
Porque João Moura toureou sempre a gosto e a intensidade e o risco que assumia, eram iguais em todas as praças, fosse onde fosse. O Moura estava sempre à Moura. Quem o via na bancada, era como se o relógio parasse no tempo, num ladear mais apertado e interminável, num quiebro arriscadíssimo, em que os corações saltavam do peito, ou em terrenos até ao momento inexplorados, de grande compromisso. Se a emoção e risco era contagiante da arena para a bancada, era absolutamente inspiradora, da bancada para a arena, onde estava João Moura, sempre insatisfeito e a cravar mais e mais um ferro, porque esta sempre foi a zona de conforto do cavaleiro de Monforte. Os cavalos e os toiros, são definitivamente o oxigénio e o alimento de João Moura. Ainda hoje é notório, a sua garra, a sua energia, a sua devoção e dedicação ímpares, sinal inequívoco que é onde e como se sente bem.
O tal menino, também cresceu e tal qual os seus pares de Monforte, viviam intensamente a carreira do João Moura. O privilégio de privar com a maior figura do toureio de todos os tempos, fazia felizes os monfortenses e João Moura do alto da sua humildade ficava feliz em privar com os monfortenses. Ele foi sempre o mesmo, nos mesmos sítios, na sua casa que sempre foi Monforte.
Portalegre, Montijo, Campo Pequeno, Moita, Santarém, Cascais, Badajoz, Estremoz, eram autênticas romarias de monfortenses a estas praças para ver o seu toureiro. Havia mesmo quem não perdesse uma única corrida do nosso querido João António e aqui destaco uma das muitas pessoas em jeito de homenagem. A minha madrinha Angelina Lopes Pires, que juntamente com o seu marido Prof. Lopes Pires, estavam em todas as corridas de João Moura, outrora seu aluno, sempre com um ramo de flores para oferecer na sua volta triunfal… e ai de quem ousasse fazer a mais pequena crítica que fosse…. Madrinha Angelina, um beijinho grande e achei que era justo evocá-la aqui hoje.
Quando João Moura toureava em Madrid, ou em qualquer outra corrida de Espanha televisionada, os cafés de Monforte, enchiam-se de gente, como que de claques se tratassem a torcer pelo toureiro da terra. Ainda hoje é assim. E como estamos no mundial, João Moura é o Cristiano Ronaldo do Toureio a cavalo. Ainda assim eu prefiro dizer, que Cristiano Ronaldo é o João Moura do Futebol.
Apesar de ter conquistado tudo o que havia para conquistar, os reconhecimentos, os triunfos, João Moura nunca orientou a sua carreira, com vista à obtenção desses mesmos reconhecimentos. O seu foco, sempre foi fazer aquilo que gosta e com um enorme prazer. E isso transpareceu e de que maneira à escala e magnitude mundial.
Muitas pessoas contribuíram ao longo destes 40 anos, para tal sucesso. Outros mesmos determinantes. Os seus pais Dona Maria Adelaide e João Moura pai, o seu tio, António Benito, o sr. Cláudio Moura e o saudoso seu irmão Benito Moura, a sua família em geral, o sr. Francisco Romão Tenório, o João Florindo, António Luís Chagas, Carlos Barreto, José Franco "Grenho", o Cabecinha, os próprios colegas de profissão, os assíduos apoiantes e amigos o Pinha, o João Margalho, de forma altruísta a Maria João Franco, é também justo nomeá-la aqui. etc… etc. Muitos fizeram parte deste brilhante percurso com 40 anos de profissional, que correspondem quase a uma vida.
João Moura, inspirou, não só os seus filhos e de alguma forma João Moura Caetano, apesar deste, naturalmente ter outro grande senhor do toureio a cavalo como referência, seu pai Paulo Caetano, mas também a grande maioria das principais figuras do toureio de hoje. Todos nos recordamos de Pablo Hermoso de Mendoza, ser presença constante em Monforte, no início da sua carreira… João Moura influenciou toda uma sociedade, motivou vocações. "Grenho", Hugo Silva, Ricardo Raimundo, Grupo de Forcados, João Silva, grandes equitadores, Rosendo, Vasco Maldonado, Fábio Derreado moços de espadas etc… etc.
As crianças nas escolas, brincam às touradas. A localização do monumento, não é só junto da praça de toiros… é também a caminho da escola, onde passam centenas de crianças, os homens do amanhã…e só avançamos para o futuro, conhecendo bem o passado.
O tal menino como todos os monfortenses, hoje é amigo de João Moura, mas seu admirador ao longo de toda a sua vida, conhecia todos os cavalos da quadra, antes da temporada iniciar, rumava à quinta de Santo António, para perceber que novidades havia em termos de montadas, e, nas corridas, adivinhava o cavalo a utilizar em cada toiro….acompanhava bem de perto toda a evolução de João Moura. Chorava, emocionado, quando a praça se levantava em fulgurosos aplausos, ou quando o João António, arriscava demais para agradar ao público, num misto de alegria e preocupação, com receio que algo de mal lhe acontecesse... João Moura um dia brindou-lhe uma lide e emocionou-se, como se soubesse de tudo atrás descrito. O tal menino também se emocionou. Ele esteve presente nas quatro corridas dos 6 toiros de João Moura, Santarém, como já referido, ao colo dos pais, as duas vezes do Campo Pequeno e a última, a 2 de Outubro de 2013 em Elvas.
O tal menino, tem hoje 41 anos e é actualmente o Presidente da Câmara Municipal de Monforte. Foi dele a decisão de erguer este monumento, juntamente e de forma unânime com o restante executivo, portanto habilitado e profundo conhecedor de quem foi e é João António Romão de Moura, o que fez e o que representa para o seu, para o nosso Município de Monforte.
De maneira que por tudo isto é com redobrada honra, com uma eterna satisfação e agradeço a Deus, por me ter dado esta oportunidade, erguer uma obra com um único objectivo: Imortalizar através deste monumento a história do maior embaixador de Monforte, que foi um génio, que revolucionou o toureio, de quem sou amigo, admirador e acompanhei de perto a sua vida. Que tamanho privilégio.
Sendo a vida um conjunto de experiências, ao longo das suas diferentes etapas, obrigado João António, por todas as sensações que nos proporcionou.
Obrigado por ter enriquecido a nossa vida.
Sei que a emoção se apoderou de muitos de vós ao longo do discurso, porque quase todos personificaram o que acabei de ler.
Esta é a história de João Moura e que a tantos tocou profundamente.
João Moura escreveu a história, João Moura faz parte das nossas vidas.
E homenagear João Moura, é homenagear todos, quantos fizeram e fazem parte da sua vida, da sua história. Daqueles que já partiram e daqueles que continuam entre nós, numa atitude de enorme respeito pela sociedade e pelos nossos antepassados.
Muito obrigado João Moura!
Fotos Maria Mil-Homens