segunda-feira, 11 de junho de 2018

Reguengos: Moura, Pablo e Caetano em recitais de arte e temple

A ilustre Família do saudoso Dr. Manuel Correia foi homenageada antes da
corrida pelo presidente da Câmara de Reguengos
Ao início da corrida, guardou-se um respeitoso minuto de silêncio em memória
do Dr. Manuel Correia, médico veterinário de renome e homem de bem
No primeiro toiro, com pouco som e escassa transmissão, João Moura teve
uma lide aplaudida
Notável e brilhante a segunda actuação do Maestro João Moura com um toiro
complicado e que pedia contas e frente ao qual deu mais uma lição de grande
e incontornável maestria
Faltou toiro a Pablo Hermoso na sua primeira lide, mas
sobrou o valor, o temple e a arte, sobretudo na fantástica
brega e nos recortes com que galvanizou o público
A segunda actuação de Pablo Hermoso de Mendoza foi memorávei, frente a um
toiro nobre, mas complicado, em que pôde evidenciar toda a classe e toda a arte
que o distinguem como grande figura do toureio a cavalo
Na lide do seu primeiro toiro, Moura Caetano abriu praça brilhou com a nova
estrela da quadra, o "Hip-Hop", que muitos apontam já como o sucessor do
"Temperamento"
Moura Caetano com o fantástico "Temperamento" na lide brilhante do último
toiro, que foi "indultado" - um recital de magia, de arte e de bom toureio!


Moura, Pablo e Caetano em tarde de recitais de magia ontem em Reguengos frente a toiros nobres de Guiomar Moura, da nova ganadaria de Irmãos Moura Caetano. Faltou esgotar a lotação da praça, que era o que este cartel impunha.

Miguel Alvarenga - Mesmo com céu cinzento, a ameaçar chuva e sem o calor habitual desta data e desta altura do ano (vamos ter Verão em Outubro, Novembro e Dezembro e as pessoas ainda não se convenceram disso…), esperava-se uma maior presença de público na grande corrida que o empresário Vasco Durão ontem montou em Reguengos de Monsaraz - e o cartel, dos melhores da temporada, impunha-o.
A praça, que nem é das maiores do país, registou uma agradável entrada de três quartos - mas uma corrida destas obrigava a lotação esgotada e isso não ter acontecido é preocupante.
O espectáculo resultou em termos artísticos pela grandiosidade e pela arte dos três cavaleiros - João Moura, Pablo Hermoso e João Moura Caetano -, pela eficácia dos dois grupos de forcados - Montemor e Monsaraz - e pela nobreza e colaboração dos toiros com o ferro de Maria Guiomar Moura, propriedade dos Irmãos Moura Caetano, que apesar de os três primeiros terem pouco som e escassa transmissão, não defraudaram e proporcionaram momentos de muita inspiração e temple aos artistas.
De apresentação desigual, foram mais dóceis os três primeiros, pequeno e escorrido o terceiro, sendo “mais toiros” os três últimos, de excelente nota, a arrear e a pedir contas, destacando-se o bom comportamento do sexto, que regressou ao campo para semental da nova ganadaria.

Moura embalado deu notas de maestria

Embalado pelo triunfo de Lisboa, o Maestro João Moura abriu a corrida com uma lide brilhante ao primeiro toiro, onde evidenciou a sua maestria em recortes de maravilha, boa brega e ferros de emoção com a sua marca. De sempre.
O seu segundo toiro não tinha nada da “doçura” do primeiro, foi nobre, era bem rematado e pedia contas. João Moura falhou os três primeiros compridos que apontou, por visível defeito da ferragem, mas o público protestou, o que o fez encastar-se e brilhar de seguida com os curtos, quase sempre atacando e indo de praça a praça ao encontro do oponente, provocando-lhe a investida e quarteando-se sempre num palmo de terreno, cravando com emoção.
Chama-se a isso maestria e embora mais complicada que a lide do seu toiro anterior, foi neste que Moura alcançou o seu maior triunfo, deixando ver, quarenta anos depois, toda a arte e toda a garra que permanecem intactas - e sempre em crescendo na sua tauromaquia. Única.

Temple, arte e Hermoso em tarde grande

Pablo Hermoso de Mendoza, chegado de muitos quilómetros de estrada depois da na véspera ter toureado em Bilbau, enfrentou em primeiro lugar um toiro demasiado murube, sem som, que não transmitiu nada e lhe permitiu luzir-se sobretudo com a arte da sua brega e com os seus recortes assombrosos de um temple que, mesmo escasso de emoção, chega ao público. Faltou toiro e faltou emoção, mas a verdade é que sobrou arte e classe e o público esteve com Pablo Hermoso.
O seu segundo toiro era áspero e complicado e aí, sim, pôde o rejoneador navarro fazer alarde do seu estatuto de primeiríssima figura mundial, contornando todas as reservas de um oponente que não facilitava em momento algum, impondo a maestria da sua arte e a experiência da sua técnica, com os seus magníficos cavalos, resultando a lide emotiva e de imenso valor. Praça de pé rendida à força e ao triunfo de Pablo Hermoso, que continua sendo um ídolo para o público português.

Moura Caetano imparável 
deu dois recitais de grande nível

Não era fácil, como o não fora em Lisboa, para João Moura Caetano entrar em praça depois das memoráveis exibições de dois monstros do toureio a cavalo. Mas o cavaleiro de Monforte vive um momento altíssimo e de incontornável solidez, alcançou um plano notável e é hoje reconhecido como um triunfador nato. Os êxitos do Campo Pequeno e do Montijo solidificaram um inicío de temporada brilhante e Moura Caetano reafirma de tarde em tarde a força e a arte que traduzem a consolidação e o coroar de uma carreira a todos os títulos brilhantes, baseada numa concepção muito artística e muito própria de interpretar a verdade do toureio a cavalo com um fulgor e um sentimento muito seus e a que ninguém fica indiferente.
É um dos cavaleiros mais bem montados há alguns anos e a verdade é que ontem deu um recital de magia, de temple e de bom toureiro com o “Temperamento” no último toiro e no primeiro, um animal mais pequeno e com menor transmissão, pôs à prova uma das novas estrelas da quadra, o “Hip-Hop”, que se começa a revelar como brilhante e alguns apontam já ser o sucessor do seu famoso craque.
João Moura Caetano é já um dos grandes candidatos ao trono da temporada e ontem em Reguengos voltou a galvanizar o público com pinceladas de uma arte rara e recortes com as montadas que foram verdadeiros muletazos de uma imensa arte - em duas lides que resultaram memoráveis e reafirmaram o poderio e a força com que vai embalado nesta campanha de 2018. Imparável!

Boas pegas e homenagens 

As pegas estiveram ontem a cargo dos Forcados Amadores de Montemor, grupo consagrado e dos Forcados Amadores de Monsaraz, formação que se vem impondo e destacando e que ontem reafirmou a sua qualidade de conjunto.
As seis pegas, como já aqui se referiu em pormenor, foram executadas à primeira e sem dificuldades de maior, não apenas pelo brilhantismo dos forcados, mas também pela nobreza dos toiros, que investiram com clareza e sem maldade, indo pelo seu caminho, sem derrotar muito nem fazer estragos.
José Maria Vacas de Carvalho, Vasco Carolino e o grande Francisco Maria Borges pegaram pelo Grupo de Montemor, enquanto que pelo de Monsaraz foram caras Paulo Caturra, Miguel Valido e Hugo Torres.
Distinção, sem abuso de capotazos, dos bandarilheiros intervenientes: João Ganhão e Filipe Gravito, José Franco “Grenho” e Ricardo Raimundo, Pedro Paulino e João “Belmonte”, seis figuras dos toureiros de prata.
Ao início da corrida, prestou-se breve homenagem aos 40 anos de alternativa de João Moura e à memória do médico veterinário Dr. Manuel Fialho Correia. O presidente da Câmara de Reguengos, José Calixto, acompanhado de outros autarcas, agraciou a Família do homenageado, na arena, depois de ter sido lido um texto evocativo da grandeza da sua lembrada personalidade.
Bem dirigida por Agostinho Borges, que esteve ontem assessorado pelo médico veterinário Dr. Matias Guilherme, a corrida de Reguengos decorreu em ritmo agradável e sem demoras, sem chuva, mas também sem sol, sem uma emoção por aí além no que diz respeito aos toiros, mas foi uma tarde de triunfo e de arte e o público saiu satisfeito da praça - nada a apontar, por isso.
Uma nota final para lamentar apenas o aspecto degradado do imóvel, a que a Santa Casa da Misericórdia, sua proprietária, nunca mais fez obras (pinturas, que fossem) de conservação.

Fotos Emílio de Jesus