terça-feira, 11 de dezembro de 2018

2019, o ano da grande Cruzada de Rui Bento: entrevista exclusiva

"Não sou o todo-poderoso da Tauromaquia, prefiro dizer que vou ter no próximo
ano maiores responsabilidades e mais trabalho, mas vou rodear-me de uma
equipa sólida para levar todos os barcos a bom porto"
"Rouxinol Jr. tem valor e tem ambição para ser figura. João Moura Júnior é
indiscutivelmente uma primeira figura, é o número um da nova vaga"
"Luis Rouxinol é uma primeiríssima figura com mais de trinta anos de alternativa,
Luis Rouxinol Jr. é um dos mais destacados toureiros da nova vaga e vamos
prosseguir o trabalho iniciado por Francisco Penedo para consolidar a sua
posição e o seu nome entre os primeiros"


Nesta entrevista em exclusivo ao "Farpas", Rui Bento fala da (inesperada) união, como novo apoderado, a Luis Rouxinol e Luis Rouxinol Júnior, ontem anunciada oficialmente, duas semanas depois de também ter regressado à equipa de João Moura Júnior, após um ano de "travessia do deserto" no que à gestão de toureiros diz respeito. As praças que também vai gerir e os "mistérios" que continuam a rodear a vinda de Diego Ventura ao Campo Pequeno foram também temas de uma conversa em vésperas do arranque de um novo ano que se avizinha de muito trabalho, mas também de imensa e confessada ilusão, para o todo-poderoso da Tauromaquia nacional. O ano da grande Cruzada de Rui Bento

Entrevista de Miguel Alvarenga

- Rui, este apoderamento dos Rouxinóis não estava no "programa"...
- De facto, não estava...

- Depois de um ano em que fez uma "travessia do deserto" no que a apoderamentos diz respeito, voltou há duas semanas para o lado de Moura Júnior e esteve vai-não-vai para apoderar também João Telles e Francisco Palha, mas os Rouxinóis foram a surpresa que ninguém esperava...
- Sim, parei um ano com os apoderamentos. Precisava de descansar, de aclarar ideias e de me dedicar a cem por cento ao Campo Pequeno. Com João Moura Júnior, quando nos separámos no final da temporada de 2017, dissemos ambos que podia ser apenas uma paragem momentânea e que poderíamos voltar a unir-nos mais tarde e foi o que aconteceu, era uma situação que estava praticamente programada, digamos assim. Foi uma sequência lógica de um trabalho importante que ambos fizemos e que vai agora ter continuidade. Com João Telles e com Francisco Palha houve, de facto, conversações e até mesmo negociações, mas nos dois casos não se chegou a um acordo. Estivemos perto, tanto no que respeita a João Ribeiro Telles, como no que respeita a Francisco Palha, dois toureiros que, confesso, me dava grande ilusão apoderar. Mas nem sempre as coisas são como se sonham... E seguimos cada qual os nossos caminhos...

- E como surge o apoderamento dos Rouxinóis?
- Surge na sequência da fatalidade do inesperado falecimento de Francisco Penedo. Éramos amigos de há muitos anos, como o sou de seu irmão Pedro e de toda a família, mas ultimamente andávamos afastados...

- Zangaram-se, cortaram relações...
- Foi. Por motivos estritamente profissionais, que não importa recordar. sobretudo num momento destes. Fiquei profundamente chocado com a sua morte, aliás, foi o Miguel que me telefonou a comunicar essa fatalidade e eu nem queria acreditar. Não estive no funeral porque nesse dia estava em Madrid na apresentação da Agenda Taurina, mas na véspera estive em casa da família. Não nos falávamos nos últimos tempos, mas era um amigo de sempre e tenho pena que tenha morrido sem termos ultarpassado, como o Miguel há dias disse a propósito de um diferendo que também nós os dois tivemos, essas estupidezes...

- E como se produziu então o novo apoderamento?
- Na semana passada o Pedro Penedo telefonou-me a perguntar se eu podia reunir com o Luis Rouxinol. Disee-me que o Francisco, com os muitos afazeres profissionais que tinha ultimamente, estava com pouco tempo para dedicar ao apoderamento dos Rouxinóis e tinha aconselhado ao Luis André (filho) que viesse ter comigo para eu o apoderar. Claro que disse ao Pedro que sim senhor, que falaria com o Luis Rouxinol e marcámos um encontro. Estava longe de imaginar que apoderaria também o Luis (pai), a ideia com que fiquei é que queriam falar comigo pelo tema do filho...

- E depois...
- Depois, o Luis pediu-me também para o apoderar. Falámos e chegámos a acordo. Está feito. Não estava nada à espera desta situação, confesso, mas é um desafio e acredito que pode resultar muito positivamente. O Luis Rouxinol é uma primeiríssima figura, assim como o João Moura Júnior. São duas primeiras figuras. de épocas distintas e curiosamente, são os dois cavaleiros que mais vezes sairam em ombros pela porta grande do Campo Pequeno desde a reabertura. O Luis saíu duas vezes e o João cinco. O trajecto de luta e de vitória do Luis Rouxinol no mundo taurino é um pouco semelhante ao que eu vivi como novilheiro e matador de toiros e isso toca-me, sempre o admirei muito pela forma como lutou e venceu, como se afirmou entre os primeiros. Quanto ao Luis André, foi um dos jovens cavaleiros mais destacados da última temporada, a sua primeira temporada depois da alternativa, é um toureiro que está a subir os degraus à custa do seu muito valor e acredito, já acreditava, que vai ser figura a seu tempo. Não toureou no Campo Pequeno esta temporada, por divergências de acordo com o seu então apoderado, mas penso também que com ele posso fazer um trabalho positivo. Há matéria para isso, estou cheio de ilusão nestes três apoderamentos... Havia já datas para os Rouxinóis fechadas pelo Francisco Penedo, estão confirmadas e estou já a trabalhar para outras.

- Mais as praças, Rui, não são instrumentos a mais para tocar?...
- Serão, sim, mas há tempo e há espaço para tudo e para todos. E não vou estar sózinho nesta empreitada toda. Vou agora, com tempo e com calma, constituir uma equipa que me vai apoiar.

- Luis Rouxinol é um dos toureiros que mais corridas faz por temporada. Vai mudar esse andamento?
- Em princípio, vou. Já falei isso com o Luis e ele deu-me carta branca para agir como entender. Considero e disse-lhe isso mesmo, que tem sido mal administrado. Não pelos apoderados que teve, não é uma crítica aos apoderados, mas por ele próprio, com essa ânsia de ir a todo o lado, de tourear em todas as praças. O Luis Rouxinol é uma primeira figura e a partir daqui vai ter que dar mais categoria à sua carreira. Vai ter que tourear menos e cobrar mais. Bem sei que o momento não é o melhor para isso, mas vamos tentar dar a volta a essa situação.

- Vai ser um ano de grande azáfama, Rui...
- Vai, mas por isso mesmo e como disse vou estruturar uma equipa sólida para juntos levarmos os vários barcos a bom porto. Penso que a temporada de 2019 vai ser uma grande temporada, sobretudo depois de toda a visibilidade que a Tauromaquia teve nos últimos tempos, muito por obra e graça destas investidas anti-taurinas, que acabaram por ser benéficas. Há muitos anos que a Tauromaquia não tinha uma visibilidade tão grande, não era tantas vezes notícia de abertura dos telejornais e capa dos principais jornais. Creio que agora devemos aproveitar essa onda. E é nesse sentido que vou planificar a temporada dos três cavaleiros e projectar as praças que vou gerir.

- No ano passado disse que ia parar para se dedicar a cem por cento ao Campo Pequeno. Com mais praças e três cavaleiros, isso não vai ser possível no próximo ano...
- Desde que haja uma equipa a funcionar, vai haver tempo para me dedicar a tudo e sobretudo ao Campo Pequeno, que é e será sempre a minha primeira preocupação e a praça em que estarei mais empenhado, o que não significa que o não esteja nas outras. Vou gerir a praça da Nazaré em parceria com a sua proprietária, a Confraria, é uma praça importante e carismática, com um público e uma aficion especiais. Estou na da Figueira da Foz, gerida por Ricardo Levesinho, como assessor do Coliseu Figueirense. E a de Almeirim, de que sou também assessor da Santa Casa, sua proprietária, vai também reabrir no próximo ano. Pode ainda haver mais praças...

- Quais?
- Por enquanto... prefiro falar só quando as coisas estiverem concretizadas.

- Transforma-se assim no todo-poderoso da Tauromaquia nacional...
- Não diria assim. Vou ter, obviamente, maiores responsabilidades e muito mais trabalho. Mas estou cheio de ilusão e confiante em que se pode fazer, a todos os níveis, um trabalho muito positivo.

- O tema da entrevista era sobretudo o novo apoderamento dos Rouxinóis, que ninguém esperava, mas vou perguntar-lhe como estão as negociações para Diego Ventura vir finalmente ao Campo Pequeno...
- Estão a decorrer. Ainda ontem tive conversas com o seu apoderado Lozano. Ventura quer vir a Lisboa e Lisboa quer que Ventura venha. Neste momento está a pedir uns dinheiros que são incomportáveis para o Campo Pequeno...

- Mas está no momento de pedir dinheiro... um rabo em Madrid, um indulto no México...
- Eu sei que sim. Ventura está no seu momento. Teremos que chegar a um acordo que seja bom para as duas partes. Vamos tentar. Neste momento o que posso dizer é que as negociações estão a decorrer e as portas estão abertas dos dois lados.

- Outro tema em foco é o da venda do Campo Pequeno... como estão as coisas, Rui? O facto de estar já noutras praças e de ter reatado os apoderamentos é uma precaução para a possibilidade de sair do Campo Pequeno?
- É um tema que está a ser gerido pela Drª Paula Resende e com o qual não tenho directamente a ver. A adjudicação pode ser vendida em qualquer momento. Há gente interessada, gente que é do meio taurino, mas com quem já houve reuniões e posso dizer que as corridas não estão em perigo, venha quem vier. Pelo menos esta próxima temporada já a estamos a delinear, devemos fazer a apresentação dos primeiros cartéis em Fevereiro e nada se vai alterar para já. Depois, o futuro o dirá.

- Que projectos pode já anunciar para a próxima temporada no Campo Pequeno?
- 2018 foi uma temporada essencialmente torista, como se tinha anunciado. Penso que correu muito bem e terminou em beleza com três grandes corridas de praça cheia. Houve uma noite negativa, a de Morante e Manzanares, já nos penitenciámos disso, acontece, houve vários contratempos que impediram que fosse um êxito, como sonhávamos, mas foi apenas uma corrida má num contexto que foi altamente positivo. Em 2019 vamos continuar, há já vários projectos agendados que a seu tempo serão anunciados. A temporada vai abrir na primeira ou segunda quinta-feira de Abril, antes da Páscoa.

- Além de Ventura, houve outras ausências. A já referida de Rouxinol Júnior, a de Bastinhas...
- Houve toureiros com quem, por isto ou por aquilo, não se chegou a acordo, são coisas que sucedem em todas as praças, com todas as empresas. Ventura vai ter que vir; Rouxinol Jr. deveria ter vindo no ano que se seguiu à sua triunfal alternativa, mas não houve entendimento com o seu apoderado, mas no próximo ano vem certamente; tínhamos agendado a reaparição do Maestro Joaquim Bastinhas, oxalá Deus o permita, esperemos que recupere do mau momento por que está a passar, mas o principal é que recupere. Se tourear ou não, logo se verá, queremos é vê-lo recuperado. Quanto a seu filho Marcos, óbvio que vamos contar com ele em 2019 e também nas outras praças, sobretudo a da Nazaré, onde o público tem um carinho muito especial pelos Bastinhas.

- Vamos terminar, Rui. Sinto-o animado com todos estes projectos...
- Muito! Sou, fui sempre, um lutador. Não gosto de perder. E todos estes projectos que abracei têm pés para andar. Os apoderamentos e as praças. Estou animadíssimo com a continuação do projecto com João Moura Júnior, que se consolidou como a grande figura da nova vaga; com este projecto inovador ao lado do Luis Rouxinol, que é indiscutivelmente uma primeiríssima figura com mais de trinta anos de alternativa; com o prosseguimento do projecto de levar o Luis Rouxinol Júnior a figura, que foi iniciado por Francisco Penedo e que vamos certamente consolidar; e com as praças, que são praças onde se pode desenvolver um trabalho muito positivo.

Fotos "Flash", Florindo Piteira, Emílio de Jesus e Frederico Henriques