Miguel Alvarenga - Amanhã escrevo, meu querido Joaquim Bastinhas, curiosamente nunca te tratei, como todos, por Joaquim Manuel, tudo aquilo que queria, me apetecia e não consigo escrever hoje. Que se lixe a passagem de ano, essa merda toda, o dia de hoje é triste, mas não pode ser. Temos que dar a volta, temos que te lembrar assim, esse sorriso, essa força de viver, essa alegria com que correste na vida, sempre cheio de pressa, sempre sem parar. Merda, Joaquim Bastinhas.
Foi, afinal, todos o esperávamos, mas ninguém queria acreditar, mais ou menos a crónica de uma morte anunciada. E que, como todas as mortes, é obrigatoriamente brutal, estúpida, que raiva, que impotência, que falta de senso.
Foste, na tua arte, um dos grandes, dos maiores. Contagiaste multidões com a verdade do teu toureio, a diferença da tua forma de ser, de estar e de ser. Com a tua alegria, a tua vida, essa força imensa de viver que faziam de ti um Homem diferente. Podiam muitos até tourear melhor que tu, mas nenhum era tão bom como tu. E tão querido. E tão idolatrado e tão adorado.
Eras muito mais que um toureiro. Eras um ídolo de Portugal. E olha que tirando os futebolistas, já não há muitos ídolos assim.
Não vamos esquecer mais toda a tua história de glória. A forma incrível como superaste o grave acidente que sofreste há três anos e esta temporada voltaste como novo, com o fulgor de sempre, o salto do cavalo, tudo. Não vou esquecer nunca mais a alegria com que me abraçaste e me deste um beijo no pátio de cavaleiros da praça de Elvas, em Setembro, depois do grande triunfo que acabavas de viver no regresso à arena da tua terra, no regresso à tua gente.
Não vou esquecer as histórias que vivemos juntos em mais de quarenta anos, a cumplicidade que existiu entre nós em tantos e tão bons momentos.
Hoje não consigo mesmo escrever mais nada. Só consigo estar triste. Mas a vida continua, Joaquim Bastinhas. E as memórias não morrem.
Fotos D.R.