"Não houve acordo com Rui Bento, mas continuamos amigos. Ricardo Levezinho é o apoderado ideal para estar a meu lado neste momento da minha carreira" |
"2018 foi uma temporada bastante positiva e com muitas corridas importantes de que saí triunfador!" |
João Telles com seu pai, o cavaleiro retirado João Palha Ribeiro Telles, esta semana, depois de mais um treino de preparação para a nova temporada |
Nos seus começos, ainda como cavaleiro amador, com seu pai e o saudoso apoderado António Manuel Cardoso "Nené" |
Com seu pai e seu tio António |
Campo Pequeno, este ano, na noite em que repartiu cartel com Manzanares e Morante de la Puebla |
João Ribeiro Telles por ele próprio numa grande entrevista de final de temporada e no momento em que vira uma página e acaba de anunciar Ricardo Levesinho como seu novo apoderado, depois de não ter havido acordo com Rui Bento. Muita ilusão, novos cavalos e projectos para mais uma grande campanha em 2019
Entrevista de Miguel Alvarenga
- Novo apoderado, vida nova?
- Novo apoderado, vida cheia de ilusão para todos os projectos que se avizinham!
- Havia outros contactos, o que motivou a escolha de Ricardo Levesinho?
- Sim, é verdade. Houve outros contactos. Penso que o Ricardo reúne todas as condições para trabalhar comigo, é um empresário diferente e com muita experiência já, muito educado e trabalhador, sempre com espírito vencedor, sem dúvida a pessoa ideal para estar ao meu lado nesta fase da minha carreira.
- O que não funcionou nas conversações com Rui Bento?
- Não é questão de funcionar ou não, sou amigo do Rui e temos confiança, sem dúvida que é um dos grandes da nossa tauromaquia hoje em dia e o trabalho que tem feito em todas as ações é invejável. Falámos de uma maneira muito simples e aberta e a verdade é que não chegámos a acordo para o apoderamento. Não o fizemos, mas felizmente não ficámos nada “tocados” um com o outro. Nem tudo na vida tem de se concretizar, mas não quer dizer que tenhamos ficado chateados, pelo contrário! Desejo-lhe as maiores felicidades para esta temporada!
- Depois da morte do teu anterior apoderado, o nosso querido “Nené”, não actuaste este ano nas praças da empresa Toiros & Tauromaquia, gerida por seus filhos. Houve algum problema no vosso relacionamento?
- No nosso relacionamento não houve problema nenhum, a verdade é que tive pena de não tourear nas praças do nosso querido “Nené”, mas tínhamos maneiras diferentes de ver as coisas. Eu e o “Nené” tínhamos muita confiança um no outro, vivemos uma vida juntos e muitas coisas nem precisávamos de falar. Quem passou a gerir a empresa, logicamente tinham mil coisas a pensar e preocupações, não actuei a temporada passada, mas tenho a certeza que este ano fazemos negócio, porque para mim, devido ao “Nené”, a sua família é como se fosse minha.
- Esta temporada, tinhas anunciado uma maior participação em corridas em Espanha e menos em Portugal, mas isso acabou por não se verificar. Houve alteração de planos?
- Não houve alteração de planos, a verdade é que toureei mais em Espanha do que em temporadas anteriores, fiquei em terceiro lugar no escalafón e isso foi muito importante, penso que foi uma temporada muito importante em Espanha, para esta próxima poder pisar outras praças e começar a andar no nível que tanto sonho.
- E, a propósito de Espanha, terminaste a relação de apoderamento com Julián Alonso, quem é o senhor que se segue no país vizinho?
- Sim, terminei com ele. Estamos a ver quem é a pessoa que se segue,a verdade é que ainda não é ninguém, mas em breve vou anunciar, estamos a fazer as coisas com calma e cabeça para podermos dar esse salto que tanto desejo e para isso tem de ser uma pessoa com muitas qualidades e categoria.
- Uma das grandes corridas em que marcaste presença foi a de Lisboa com Morante e Manzanares que, no que respeita aos matadores, acabou por ser a corrida mais negativa da temporada lisboeta. Foi teu o triunfo maior, mas mesmo assim alguma crítica acusou-te de ter lidado comodamente toiros “nhoc-nhoc”. Queres comentar?
- Não tenho muito a comentar sobre isso, toureei dois toiros nossos com muita nobreza e muita qualidade, está a atravessar um grande momento a nossa ganadaria.
- Qual foi o teu maior triunfo em 2018, a corrida que mais recordas?
- Felizmente foi uma temporada bastante positiva e com corridas muito importantes e de que tenho muito boas recordações de várias! Essa noite em Lisboa penso que tive duas actuações acima da média, depois houve várias… A ida aos Açores, onde as corridas correram francamente bem, triunfei forte, também nas Caldas da Rainha, em Coruche, na Figueira da Foz e no Montijo, acima de tudo foram tardes em que saí como triunfador.
- 2018 foi um ano marcante no que respeita à definitiva afirmação das figuras da nova vaga, em que te incluis. Mesmo assim, continua a faltar um ídolo que arraste gente às praças. Achas que levas público a ver-te?
- Todos os toureiros têm o seu público e os seus seguidores mas, ao perguntar-me isso, penso que levo bastante pessoas, vejo que as pessoas me acarinham muito, mas estou longe de levar as pessoas que desejo às praças. Mas trabalho para melhorar isso todos os dias.
- Consegues viver do toureio ou tens outras actividades?
- Vivo do toureio e para o toureio, adoro a minha profissão, sou feliz.
- Novidades na quadra para 2019?
- Bastantes, vários cavalos novos. Mas dos novos destaco um, chama-se ”Ilusionista”, é um cavalo preto com o ferro do meu grande amigo Jorge Ortigão Costa, penso que pode ser um caso mesmo. Depois há muitos e novos, dos novos também tenho muita esperança num que se chama “Lusco-fusco”, cavalo da grande coudelaria António Paim, filho do “Zique da Pêra Manca”, tem apenas três anos.
- Atingiste todos os objectivos na profissão ou ainda falta cumprir alguns sonhos?
- Faltam muitos mais, para lá dos que atingi. Sou novo, mas estou no caminho certo!
- Com quem gostarias de tourear um mano-a-mano?
- Gostava de fazer dois ou três nesta próxima temporada, um com o Diego Ventura e outro com o Pablo Hermoso, os dois grandes do toureio. Um diferente e com que sonho, era com o “El Juli".
- Sentiste-te ofendido pelas polémicas declarações da ministra da Cultura?
- Claro que sim, acho que foi uma falta de educação e de conhecimento grande. Mas por um lado foi bom para a Festa porque demos a conhecer a grandeza da tauromaquia no nosso país.
- Apesar da vitória da tauromaquia no Parlamento, com a descida do IVA, a Festa Brava continua a correr perigo?
- Penso que sim, todos corremos riscos e perigos e a verdade é que a tauromaquia é muito atingida, mas como disse, cada vez mais estamos a mostrar a grandeza desta nossa cultura e desta arte. E queria aproveitar para dar os parabéns e agradecer à nossa PróToiro que tão bem tem trabalhado e defendido a nossa vida.
- Depois do IVA, agora a polémica do velcro nos toiros, como se usa na Califórnia. És a favor ou contra, se isso fosse mesmo uma solução de futuro?
- É uma coisa que nem me passa pela cabeça, não ponho isso em questão. Não faz parte da nossa cultura, da nossa tauromaquia e, acima de tudo, da nossa maneira de viver esta arte, penso que isso é uma das “regras” básicas da nossa tauromaquia, por isso nem coloco em questão modos que sejam diferentes de a viver!
- Umas vezes anunciam-te como João Ribeiro Telles, outras como João Ribeiro Telles Júnior. Como preferes aparecer nos cartazes?
- Sem dúvida, João Ribeiro Telles só. O meu pai já não toureia, por isso não faz sentido nenhum o júnior.
- Dez anos de alternativa cumpridos em 2018. Valeu a pena, João?
- Sem dúvida alguma que valeu a pena e que vale a pena qualquer que seja o sacrifício por esta grande paixão.
- Se pudesses voltar atrás, o que modificavas?
- Nada, aprende-se e cresce-se com os erros que todos cometemos nas nossas vidas, e tudo o que possa ter feito menos bem alguma vez, aprendi a corrigir e a crescer. Só penso em melhorar para ser o melhor mesmo.
- Já reuniste certamente com o novo apoderado Ricardo Levesinho, que projectos para 2019 podes já revelar?
- Tudo a seu tempo irá ser revelado, apenas posso dizer que estamos a construir uma época em grande!
- Para terminarmos, o que podem os aficionados esperar de ti na próxima temporada?
- Mais e melhor, sempre!
Fotos D.R./@João Ribeiro Telles e Luis Azevedo/Estúdio Z