segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

IV Gala da Tauromaquia: crónica de uma noite mágica

Os Três Mosqueteiros da Gala da Tauromaquia - Mira, Toorn e
Santana - com os apresentadores João Lucas e David Casas.
Em baixo, Rui Salvador no momento em que foi homenageado
e a sala "veio abaixo" com a maior ovação da noite

Miguel Alvarenga - Começo por aplaudir e tirar o meu chapéu aos Três Mosqueteiros - o Nuno Santana, o Diogo Toorn e o Francisco Mendonça Mira - que um ano mais levaram por diante a realização notável da Gala da Tauromaquia (de que fomos, orgulhosamente, parceiros, embora não o tivessem mencionado...), que é, neste momento e pelo quarto ano consecutivo, o evento mais importante, com mais classe, maior nível e mais mediático do sector tauromáquico. E também aquele que nos permite mostrar para fora de portas - e desde a terceira edição, ao mundo inteiro, mercê da transmissão em directo pelo canal OneToro - a força, o esplendor, o glamour e a classe da Tauromaquia Nacional.

O esforço, a entrega e a dedicação dos três organizadores é, a todos os títulos, notável. E merecedor do nosso aplauso. Eu vou mais longe: do nosso agradecimento.

Eles conseguiram transformar a noite mágica da Gala da Tauromaquia - no bonito e solene cenário do enorme Restaurante "Kais", em Lisboa, à beira do Tejo - na "noite mais chique" de celebração da grandeza da arte tauromáquica. 

Mas também na noite mais importante de afirmação da força da Tauromaquia - neste dia, reconhecida até por alguns deputados da Nação, que marcam presença sem medo de se afirmarem apoiantes das touradas. Antes pelo contrário, manifestando o seu apoio em aplaudidos discursos quando chega a hora de irem ao palco fazer a entrega de algum dos prémios.

É importante - e é preciso - que a Gala da Tauromaquia se continue a realizar todos os anos. Mas também é importante - e é preciso - que se limem algumas arestas e se corrijam alguns erros. Sobretudo na forma como são eleitos os Triunfadores.

Várias vezes outorgámos Troféus "Farpas", mas, e à semelhança do que fazem outras entidades, tanto por cá, como em Espanha, fomos nós que elegemos os triunfadores. E assumimos essas escolhas, tipo "estes são, para nós, os triunfadores da temporada, quem concorda, concorda, quem não concorda, temos pena!".

Não acho que faça muito sentido, como acontece na Gala da Tauromaquia, serem os próprios intervenientes da Festa a votarem uns nos outros. Por mais sério que seja esse processo de votação - e não duvido que o seja, atenção! - ficam sempre suspeitas no ar. Eu sei que não há coincidências, mas este ano deram-se coincidências a mais com a atribuição de tantos prémios "tão agradáveis" para a zona de Santarém...

Introduziu-se uma nova categoria, o Triunfador do Público, mas foi outro esquema que não convenceu muita gente. Quando "o público" nomeia como os melhores da temporada dois jovens novilheiros (um deles, o promissor "Toninho", lembro-me de que toureou na novilhada da Orelha de Ouro na Nazaré, não sei se toureou mais alguma vez em Portugal...); um grupo de forcados que, por acaso, até é muito bom (Académicos de Coimbra), mas daí a ser o melhor da temporada vai alguma distância em relação a outros bons grupos; e quando, por fim, o Triunfador do Público é... uma ganadaria... sem desprimor nenhum para a vencedora Murteira Grave, antes pelo contrário, conclui-se que esses resultados têm muito mais que ver com os telefonemas dos amigos apoiantes do que propriamente com as preferências dos aficionados.

Atenção, que não estou a contestar a vitória da ganadaria Murteira Grave. Dos cinco nomeados, só Moura Caetano poderia também ter sido vencedor. E foi, pelo menos, o único cavaleiro nomeado como Triunfador do Público - curiosamente, sem o ter sido depois, na votação dos companheiros, como um dos candidatos ao prémio de Melhor Cavaleiro. Contradições...

O que é preciso então mudar?

Eu não mando na casa deles, mas posso opinar. E, aliás, já o disse anteriormente, por ocasião da II Gala. Não custava nada nomearem uma comissão de pessoas credíveis e insuspeitas que nomeassem cinco nomes em cada categoria e que depois voltassem a reunir-se para, em cada cinco, eleger um triunfador. Deixava de haver as desconfianças dos votos, passava a saber-se quem tinha escolhido quem - e não era novidade nenhuma, toda a vida se fez assim, sem se recorrer a chamadas telefónicas a um euro cada uma...

Vejam isso, Mosqueteiros. A ver se o esquema de eleger os triunfadores já muda no próximo ano, por forma a evitar tanta "má língua" antes e depois da Gala...

Eu não fui à primeira Gala, estive na segunda, voltei a não estar no ano passado na terceira e no sábado estive na quarta. Renovo os parabéns aos três organizadores e também a todos os membros do incansável staff, a começar pela eficiente Margarida Calqueiro.

Estranhei este ano algumas (notadas) ausências de aficionados e aficionadas de solera que costumam marcar presença em "tudo o que mexa" e desta vez ficaram em casa. 

Já não estranhei, porque infelizmente é costume, as ausências de muitos dos intervenientes na Festa que continuam a não entender que é importante participar e estar nestes eventos - e manter viva este chama, antes que ela se apague ou a apaguem vocês próprios. Mas é sempre a mesma coisa: nem vão alguns dos que estão nomeados, quanto mais aqueles que não estão e sabem de antemão que não vão receber prémio algum... mas deviam ir, deviam estar e deviam participar. 

E há também aqueles que, discordando da forma como se elegem os triunfadores, recusam ir a jogo e não votam, razão pela qual depois não são nomeados. Concordância e união foram sempre coisas que nunca tiveram a ver com a Tauromaquia e o seu mundo. Adiante...

Em 500 e tal comensais, houve muita gente que não vi. E não me dei ao trabalho de andar a coscuvilhar de mesa em mesa. Por isso não sei se estiveram outros - que poderão certamente ter estado. Mas aplaudo os cavaleiros João Salgueiro da Costa e Tristão Telles de Queiroz, que marcaram presença e nem sequer nomeados estavam. E aplaudo a enorme delegação do Grupo de Forcados Amadores das Caldas da Rainha (uma mesa cheia deles!), sem também estarem nomeados para prémio algum. Chama-se a isso aficion, respeito e solidariedade. E educação, também.

Não tenho nada que opinar - nem o devo fazer - sobre os vencedores de cada categoria. Tenho só que aplaudir. Mas posso dizer umas coisinhas... e vou dizer. Acho que a Gala da Tauromaquia é um evento de magia e esplendor, de uma importância tremenda para o sector, independentemente dos resultados das tais votações.

O Melhor Cavaleiro foi João Moura Júnior - é o líder do pelotão, sem dúvida nenhuma. Os outros nomeados - Francisco Palha, João Telles e Miguel Moura - são também cavaleiros da primeira fila. E o quinto, Rui Salvador, despediu-se a demonstrar que está num momento enorme, triunfou em todas as praças a que foi e, por isso, podia, sem chocar absolutamente ninguém, ter sido o grande vencedor. Merecia, aliás.

Um parêntesis para desatacar - e aplaudir - as bonitas palavras que João Moura Júnior dirigiu ao Mestre Rui Salvador quando recebeu o prémio das mãos da antiga deputada Fernanda Velez e, depois, a carinhosa forma como abraçou a Família Ribeiro Telles pela hora difícil que atravessa. 

O Melhor Matador foi Roca Rey. Esgotou Santarém, sim senhor. Mas Borja Jiménez, por exemplo, esteve na Nazaré acima da média (e com toiros mais toiros que os de Santarém...) e nem sequer estava nomeado... que estranho, não acham? De Portugal estavam nomeados Manuel Dias Gomes, Nuno Casquinha e "Cuqui". E também o espanhol Uceda Leal, que esteve presente e este ano foi mesmo a única figura de Espanha, ao contrário dos anos anteriores, a estar na Gala da Tauromaquia

Na categoria de Melhor Cavaleiro Amador/Praticante (penso que não tem sentido misturarem-se as duas categorias...) ganhou mesmo quem tinha que ganhar: Duarte Fernandes. Sem desprimor, obviamente, para os restantes nomeados, todos eles jovem cavaleiros de reconhecido valor, os praticantes Diogo Oliveira e Francisco Maldonado Cortes e os amadores Tomás Moura e Vasco Veiga.

Quanto ao Melhor Novilheiro, estavam nomeados Gonçalo Alves, João D'Alva, João Mexia, o espanhol Marco Pérez e Tomás Bastos. Ganhou pelo segundo ano consecutivo Tomás Bastos. Gonçalo Alves foi o único toureiro, juntamente com a ganadaria Murteira Grave, que teve duas nomeações: uma na sua categoria e outra como Triunfador do Público.

Qualquer um dos cinco nomeados para o galardão de Melhor Peão de Brega/Bandarilheiro tinham todo o direito a vencer. Venceu, como tem acontecido nas Galas anteriores, o consagradíssimo Duarte Alegrete. Estavam também nomeados António Telles Bastos, Benito Moura, João Pedro "Açoreano" e João Prates "Belmonte". Qualquer um deles, sem dúvida alguma, merecedor da honraria que voltou a ter Alegrete.

Para o prémio de Melhor Grupo de Forcados estavam nomeados os de Alcochete, Aposento da Moita, Montemor, Santarém e Vila Franca. Sabemos que não podem estar todos, mas admiro-me por não ter estado o de Lisboa, que cumpriu uma temporada brilhante na comemoração do seu 80º aniversário - estranho. Ganhou Santarém, depois de noutras Galas ter ganho quase sempre Montemor.

Quanto ao Melhor Forcado, estavam nomeados três de Montemor - o cabo António Cortes Pena Monteiro, seu irmão José Maria Cortes Pena Monteiro e Francisco Maria Borges, que se despediu este ano -, o cabo de Coruche, João Prates, e Francisco Cabaço, de Santarém. Ganhou Cabaço de Santarém, um forcado que se tem vindo a afirmar em força. Não chocou ninguém esta vitória, como também ninguém ficaria chocado se tivesse ganho qualquer um dos outros nomeados.

Não vi assim tantas corridas como isso nesta temporada, mas ainda hoje recordo aqueles oito magníficos toiros da ganadaria Dr. António Silva da nocturna em Agosto no Campo Pequeno, em que se despediu Rui Salvador.  Esta era uma das cinco ganadarias nomeadas para o prémio da Melhor de 2025, juntamente com as de António Raul Brito Paes, Canas Vigouroux, Murteira Grave e Veiga Teixeira. Ganhou a de Murteira Grave, mas como o próprio ganadeiro Joaquim Grave teve a gentileza e a educação de referir, poderia ter ganho qualquer uma das que estavam nomeadas. Um Senhor. Sempre.

No que às empresas diz respeito, ganhou pelo segundo ano consecutivo a Associação Sector 9, gestora da Monumental de Santarém, pela organização das três corridas de praça cheia, uma esgotada. Estavam nomeadas também a Doses de Bravura (Rui Bento), a de José Charaz, a Ovação e Palmas (Luis M. Pombeiro) e a Toiros com Arte (Samuel Silva e Jorge Dias). 

Não me choca minimamente a vitória da dinâmica associação de Santarém, mas acho que já era tempo de num evento destes se fazer justiça à Ovação e Palmas e a Pombeiro pelo esforço com que defendeu a Festa - e o Campo Pequeno - nos anos complicados da pandemia. E este ano, a empresa de Rui Bento merecia também uma honraria pelas grandes corridas na Nazaré e em Almeirim.

Houve ainda tempo para uma merecidíssima homenagem da Associação Gala da Tauromaquia ao Maestro Rui Salvador - que cumpriu este ano 40 de alternativa e se despediu das arenas. Os presentes tributaram-lhe de pé a maior e mais aclamada ovação da noite.

Homenageou-se, como sempre, a memória daqueles que nos deixaram este ano e a noite foi abrilhantada por um momento (grandioso) de fado pela voz do consagrado Nuno da Câmara Pereira, que nos brindou com dois dos seus mais famosos êxitos, "Montemor é Praça Cheia" e "Cavalo Ruço", cantando depois "A Lenda das Rosas" num bonito dueto com Tiago Andrade Nunes, acompanhados pelos músicos Filipe Núncio, Manuel Vaz da Silva e Filipe Larsen (meu antigo companheiro do Colégio Valsassina, que não via para aí há uns 50 anos e que desconhecia ser um músico tão brilhante como ele é).

Houve ainda um espaço para o responsável da Tertúlia Tauromáquica Terceirense ir ao palco falar da próxima realização do Fórum Mundial da Cultura Taurina que no próximo mês de Janeiro se realizará em Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira.

Por último, os primeiros. Honraram a Tauromaquia com as suas presenças - e alguns deles subiram ao palco para entregar prémios - os deputados Pedro Frazão, Rita Matias e Rodrigo Alves Taxa, do Chega; Gonçalo Valente (antigo forcado do Grupo de Beja), do PSD; Paulo Núncio, do CDS/PP; e a social-democrata Fernanda Velez (infelizmente ex-deputada, esperemos que volte ao Parlamento, porque faz falta).

Subiram também ao palco para fazer a entrega de outros prémios o Dr. Vaasco Lucas (entregou o prémio ao cavaleiro praticante Duarte Fernandes); o jornalista desportivo televisivo e antigo forcado Nuno Luz; Henrique, maioral da ganadaria Veiga Teixeira (entregou o prémio de Melhor Ganadaria ao Dr. Joaquim Grave); e Bernardo Mendia, o novo secretário-geral da Federação ProToiro (entregou o prémio de Melhor Grupo de Forcados a Francisco Graciosa, cabo dos Amadores de Santarém). Izan Casas Villadóniga, filho do jornalista e apresentador David Casas, recebeu o prémio outorgado ao matador peruano Roca Rey, que se encontra nas Américas a cumprir temporada.

Estranhei também desta vez a ausência da nossa dita Imprensa Taurina. Nem um fotógrafo, sequer... A Associação Gala da Tauromaquia de relações cortadas com la prensa? Pensava que era só aquele site a ignorar este evento... e afinal foram todos. Outro erro a emendar, Mosqueteiros!

Esteve o jornalista Paulo Pereira (não o nosso, o da CNN), que fizera a apresentação da primeira Gala. Desta vez, aos comandos estiveram João Vasco Lucas e David Casas (da OneToro), com Margarida Calqueiro a fazer as entrevistas na sala. Faltou uma menina no palco a apresentar também, como em todas as galas televisivas acontece. Faltou uma presença feminina no palco. 

De realçar, como já aqui o fiz, que os prémios eram bonitos quadros da autoria do consagrado pintor e antigo forcado João Quintella.

A festa continuou depois na discoteca Skones.

E pronto, para o ano há mais. E esperamos que melhor ainda.

Mais logo, depois das 20h00, não perca todas as fotos - Famosos na IV Gala da Tauromaquia.

Fotos M. Alvarenga

Os apresentadores David Casas e João Lucas. Faltou uma
presença feminina para embelezar o palco...

Deputado Pedro Frazão, do Chega, enalteceu a Tauromquia e
entregou o primeiro prémio ao bandarilheiro Duarte Alegrete


Duarte Fernandes (Melhor Cavaleiro Praticante) recebeu o prémio
das mãos do Dr. Vasco Lucas


Paulo Núncio, deputado do CDS/PP, entregou a Francisco Cabaço
o prémio de Melhor Forcado

O matador espanhol Uceda Leal (também nomeado) entregou a
Tomás Bastos o prémio de Melhor Novilheiro


O ex-forcado Gonçalo Valente, deputado do PSD, entregou o
prémio de Melhor Empresa à Associação Sector 9 (Santarém),
que esteve representada por Diogo Sepúlveda, Gonçalo Montoya
e António Pedroso


Triunfador do Público: o jornalista desportivo e ex-forcado Nuno
Luz entregou o galardão ao Dr. Joaquim Grave


Momento de Fado com Nuno da Câmara Pereira e Tiago Andrade
Nunes e os músicos Filipe Núncio, Manuel Vaz da Silva e Filipe
Larsen
Melhor Ganadaria: divisa Murteira Grave duplamente premiada
Izan Casas Villadóniga, filho de David Casas, recebeu prémio
outorgado a Roca Rey - Melhor Matador


Bernardo Mendia, novo secretário-geral da ProToiro, fez a entrega
a Francisco Graciosa, cabo dos Amadores de Santarém, do prémio
para o Melhor Grupo de Forcados


Ex-deputada Fernanda Velez subiu ao palco para entregar a João
Moura Jr. o prémio de Melhor Cavaleiro de Alternativa