domingo, 29 de dezembro de 2024

Marco Pérez e Tomás Bastos marcaram a temporada nacional na noite mais emotiva do ano

A noite mais fantástica da temporada: Marco Pérez e Tomás Bastos
em Vila Franca a 4 de Outubro

Miguel Alvarenga - Ao contrário do que defendem alguns, o toureio a pé continua a ter adeptos no nosso país e temos matadores de toiros com valor de sobra para alternar com as figuras de Espanha - como "Cuqui" o provou quando em Setembro na Moita repartiu cartel com o grande Emílio de Justo, que foi este ano um dos grandes triunfadores da temporada espanhola juntamente com Borja Jiménez.

Felizmente, ainda temos empresários que apostam no toureio a pé para as suas corridas, casos de Rui Bento e Ricardo Levesinho, e também da Associação "Sector 9" que gere a Monumental de Santarém e este ano a esgotou com a presença de Roca Rey

Não houve muitas, mas houve boas corridas com matadores e novilheiros este ano em Portugal. Diria mesmo que algumas delas foram as mais marcantes corridas da temporada - muito mais do que as de cavaleiros, onde os elencos foram quase sempre a mesma coisa, cansativos e enfadonhos.

Borja Jiménez, que fora no ano anterior o triunfador da temporada em Espanha, deliciou em 2024 os aficionados lusos com belíssimas presenças no festival de Fevereiro em Mourão, na corrida mista das Sanjoaninas em Angra do Heroísmo e depois na Nazaré numa noite inesquecível e de praça cheia, onde teve o bonito gesto de se deixar anunciar ao lado de um novilheiro, dando uma importante oportunidade ao nosso Tomás Bastos, que com ele saíu aos ombros (foto em baixo).

Na Feira da Ascensão, na Chamusca, toureou António Ferrera - que, para mim, triunfou e conquistou o público; mas para outros esteve apenas vulgar e atrevido, até, porque solicitou à banda que animasse a sua faena com um pasodoble diferente daquele que estava a ser ouvido. Teve também uma aplaudida presença na Monumental da Ilha Terceira na corrida de despedida do cabo dos Amadores do Ramo Grande, Manuel Pires. Já depois, na Feira de Abiul, Ferrera deitou por terra esses triunfos. Foi para esquecer...

Na Moita, luziu a estrela de Emílio de Justo na corrida mista da Feira de Setembro, onde actuou a substituir o anunciado Morante de la Puebla, numa noite em que triunfou forte o matador local Joaquim Ribeiro "Cuqui", naquela que foi a sua segunda presença em praça este ano, depois de em Abril ter participado no festival de Sobral de Monte Agraço.

Manuel Dias Gomes teve apenas, incompreensivelmente, duas presenças também em Portugal: toureou no mesmo festival em Abril em Sobral de Monte Agraço e no fim de Agosto actuou numa das corridas de morte em Barrancos. Confirmou a alternativa em Madrid no início do ano e participou ainda num certame de matadores em Espanha, sem resultados muito animadores.

António João Ferreira brilhou em Azambuja com um toiro-toiro de Dias Coutinho, mas também passou quase despercebido, como os outros matadores nacionais, pela temporada portuguesa. E é pena que assim seja, porque temos neste momento matéria prima de relevo e importância para, se quisermos, voltar a pôr o toureio a pé no patamar que lhe é devido. Mas falta vontade empresarial...

O Campo Pequeno, primeira praça do país, não incluiu este ano matadores na sua curta temporada. E "Juanito" esteve anunciado uma única vez no seu país, na célebre corrida que acabou cancelada na Feira de Outubro em Vila Franca, escândalo que motivou a saída de cena do emblemático empresário Ricardo Levesinho.

E Nuno Casquinha, que no ano passado reapareceu depois de ter estado praticamente dois anos afastado, voltou esta temporada a estar inactivo.

Para mim, a noite-maior do toureio a pé - e até um dos maiores momentos de toda a temporada - foi o fantástico mano-a-mano protagonizado pelo espanhol Marco Pérez e pelo nosso Tomás Bastos em Outubro em Vila Franca de Xira. Há muitos anos que não se sentia numa praça portuguesa um entusiasmo tão vibrante e uma vontade tão grande de ali ficar para os ver lidar outros seis novilhos. 

De resto, Tomás Bastos já triunfara na "Palha Blanco" no Colete Encarnado e tivera também uma passagem de muito sucesso em Agosto pela arena da carismática praça da Nazaré na noite em que alternou com Borja Jiménez.

Gonçalo Alves, que se perfilava para ser o novilheiro-estrela antes de aparecer Tomás Bastos, acabou relegado para um segundo plano, mas sem por isso deixar de ter sobre si os holofotes do público e da crítica, que nele continuam a acreditar.

João D'Alva continua bem posicionado em Espanha e será certamente o próximo espada nacional a tomar a alternativa de matador de toiros, escalão este ano alcançado por Diogo Peseiro, apesar de pouco ter toureado além-fronteiras. Esteve anunciado para a última corrida do ano no Cartaxo, onde faria a apresentação como matador, mas a chuva estragou os planos.

Outros jovens oriundos das nossas escolas de toureio deram também que falar nesta temporada, sobretudo em festejos do outro lado da fronteira, casos de Vicente Sánchez, João Mexia e "Toninho", entre outros.

De resto, há a destacar o regresso da novilhada da "Orelha de Ouro", uma organização da revista "Novo Burladero" que estava há muitos anos adormecida e que voltou em Setembro na Nazaré numa parceria louvável com o empresário Rui Bento, que fora o primeiro a ganhar este troféu na primeira edição desta novilhada.

Resumindo e concluindo: já era tempo de os senhores empresários acordarem e assumirem que o toureio a pé tem que voltar a animar as nossas corridas, sob pena de deixarmos de ir às praças, fartos de ver sempre a mesma coisa e os mesmos cavaleiros...

Fotos M. Alvarenga

Borja Jiménez e Tomás Bastos em ombros na Nazaré

Roca Rey esgotou Santarém no Dia de Portugal
António Ferrera em ombros na Ascensão na Chamusca
Emílio de Justo teve grande presença na praça da Moita
Joaquim Ribeiro "Cuqui" na Moita - triunfo importante
Manuel Dias Gomes foi aplaudido na confirmação da alternativa
em Madrid