sexta-feira, 10 de abril de 2020

Isto nunca mais desquarentena?...

Mais um dia em casa a escrever no "Farpas"...
Campo Pequeno, assim...
Avenida da República, hoje ao final da manhã
Av. Júlio Diniz (Campo Pequeno): centros de portas fechadas, no "Apolo 70"
só está aberta a farmácia
Av. 5 de Outubro, um deserto também...
Alguém foi ontem para casa descalça...
Todos fechados os centros comerciais da Av. Júlio Diniz (Campo Pequeno)
Cadeiras e mesas amontoadas: memórias de antigas esplanadas
Quando voltaremos a juntar-nos aqui?...
Campo Pequeno, esta manhã
A entrevista de Jeffrey Shaman, americano especialista em Epidemiologia,
na "Visão" de ontem: "Provavelmente, estaremos a lidar com esta pandemia
até ao final de 2021"


Este era o fim-de-semana por que todos os aficionados esperavam noutros tempos. Domingo de Páscoa, os chapéus "palhinhas", a inauguração da temporada no Campo Pequeno. Era sempre o primeiro dia do resto das nossas vidas. E depois íamos por aí, pelas praças todas do país...

Miguel Alvarenga - Ontem li atentamente a entrevista de Jeffrey Shaman à revista "Visão". Acho que todos deviam ler.
Especialista em Epidemiologia e Professor da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos da América, Shaman, de 51 anos, tem acompanhado a evolução da pandemia desde o seu aparecimento na China até à propagação nos EUA e deu a entrevista por Skype à jornalista Sara Sá, afirmando que "é pouco provável que consigamos eliminar este vírus" e realçando que "o vírus propaga-se rapidamente porque há muitas pessoas assintomáticas ou pré-sintomáticas que o espalham sem saber".
"Estamos numa situação muito complicada a que não assistíamos desde 1918 (...) Provavelmente, estaremos a lidas com esta pandemia até ao final de 2021. Peço desculpa por não poder ser mais optimista", afirma.
Como se vê e por mais optimistas que queiramos ser, por mais que se repita a frase "porreirista" do momento - "vamos ficar todos bem" -, a realidade é que isto ainda vai demorar. E vai ser mesmo uma catástrofe em todos os aspectos. Economicamente, nem vale a pena falar...
Este era, até aos anos 60 e ainda nos 70, o fim-de-semana por que todos os aficionados esperavam: a corrida de inauguração oficial da temporada na praça do Campo Pequeno, onde todos iam radiantes com os célebres chapéus de palha, os palhinhas, assistir às primeiras emoções do ano.
Depois a tradição alterou-se. Almeirim começou a abrir a época mais cedo no final da década de 70, nos tempos de glória dos empresários Carlos Ferreira, António João Maurício e Carlos Gomes, sempre com corridas monumentais. Depois também o saudoso "Nené" passou a realizar uma grande corrida no Domingo de Ramos em Alcochete e mais recentemente a temporada passou a ter o dia 1 de Fevereiro como data oficial da sua abertura com o festival de Mourão.
A tradição do Campo Pequeno morreu com os tempos, que ao mudarem, mudaram também as vontades. Dexou de haver corrida de Domingo de Páscoa em Lisboa, a pretexto de que as pessoas aproveitavam o feriado de sexta-feira Santa (hoje) e deixavam a capital deserta, preferindo o sol do reino do Algarve.
O Domingo de Páscoa passou a ficar marcado, nos últimos anos, pela corrida que o dinâmico empresário Rui Palma passou a organizar em São Manços - e onde no próximo domingo estaríamos todos, certamente. Amanhã, sábado de Páscoa, Rui Gato levava a efeito na Amareleja uma corrida de homenagem ao forcado Nuno Carvalho "Mata". E haveria também o tradicional festival em Serpa. Para domingo estava também este ano anunciada uma outra corrida em Alpalhão.
O raio da pandemia dos morcegos chineses deitou tudo abaixo. E até quando, não se sabe ainda. Está em risco o Colete Encarnado em Vila Franca, no início de Julho, o que significa que estão também em risco as festas de São Pedro no Montijo e em Évora, bem como a feira eborense de São João, nos finais de Junho. Assim como a Feira de Badajoz.
Marcelo Rebelo de Sousa já disse hoje que o Estado de Emergência se vai prolongar pelo menos até 1 de Maio. António Costa disse ontem que pode mesmo ir até 17 de Maio.
Taurinamente falando e no caso de ainda haver corridas este ano, parece-me que só lá para meados de Agosto, vamos ver. Isto nunca mais desquarentena?...
Ainda esta manhã falei com o meu querido amigo Rogério Amaro, que me manifestou a sua preocupação: "Nem sei se este ano haverá corridas...". A maior parte dos ganadeiros estão já a mandar os toiros para o matadouro.
Dei a voltinha habitual aqui pela zona do Campo Pequeno. Um autêntico deserto. Credo!
Não sei se este ano e com esta trapalhada toda alguém celebrará a Páscoa. De qualquer modo, aqui deixo a todos os meus desejos de uma Santa Páscoa.
Fiquem bem.

Fotos M. Alvarenga