Primeiro foram as dúvidas sobre se Álvaro Covões iria ou não iria adjudicar o Campo Pequeno para se darem touradas este ano. Agora são as dúvidas sobre se toda este crise ainda permitirá a realização de corridas na primeira arena do país...
Miguel Alvarenga - É preso por ter cão e preso por o não ter. Ao princípio, foi a dúvida sobre se as corridas de toiros acabariam ou não no Campo Pequeno e se o novo adjudicatário da praça, o empresário do mundo musical Álvaro Covões, manteria Rui Bento na gestão taurina da praça ou antes alugaria datas a empresários que quisessem promover as corridas. Agora são as dúvidas em torno da crise da pandemia do Covid-19, se serão ou não permitidos espectáculos ainda este ano. E, mais que isso, e mesmo que o sejam, se o público acorrerá às salas de espectáculos ou se, mesmo que tudo melhore, não optará por se acautelar e evitar grandes aglomerações antes de existir uma vacina que evite quaisquer riscos de contágio.
O Presidente da República da Colômbia, país que sairá do regime de confinamento já no próximo dia 27 de Abril, anunciou esta semana que não se realizarão no país quaisquer tipo de espectáculos até ao final do ano, alegando que a sociedade os cidadãos levarão cerca de um ano a retomar os seus hábitos e a sua vida normal depois de passada a crise.
Em França, já houve uma empresa que suspendeu uma novilhada agendada para o final do mês de Agosto alegando que mesmo que a situação já esteja controlada, permanecerá uma tremenda crise económica para lá da pandemia e o cidadão não vai ter poder de compra para ir a espectáculos.
Em Portugal, muitas corridas de toiros foram já canceladas e a empresa que gere a Monumental de Santarém, a Associação "Praça Maior", anunciou mesmo que já não realizará este ano as três corridas que tinha programadas, adiando a temporada para 2021 com os mesmos cartéis.
António Costa anunciou hoje que, tudo dependendo da evolução da pandemia neste mês de Abril, o país deverá retomar o trabalho em Maio, ainda com restrições e normas de protecção, o que obviamente afasta a hipótese da realização de grandes espectáculos, incluindo concertos, festivais, futebol e touradas.
A generalidade dos empresários tauromáquicos nacionais já estão convencidos de que, a voltar a haver corridas este ano, será só nos meses de Setembro e Outubro, sendo praticamente improvável que se realizem as feiras e as corridas agendadas para o mês de Agosto.
Este cenário vai inviabilizar, pelo menos nos moldes em que estava estruturado o caderno de encargos, a realização da mini-temporada que estava prevista para o Campo Pequeno, com apenas seis corridas, uma em Junho, duas em Julho, duas em Agosto e uma última em Setembro.
A empresa Plateia Colossal, de Álvaro Covões, determinara o dia 22 de Março como prazo limite para a entrega de propostas dos empresários candidatos, adiou o concurso para cinco dias úteis após o términus do Estado de Emergência - que será, muito provavelmente, o dia 7 de Maio. Dois dias antes de 22 de Março, foram entregues duas propostas por José Luis Zambujeira (associado a José Manuel Ferreira Paulo) e por Luis Miguel Pombeiro (empresa Ovação & Palmas). Ricardo Levesinho confirmou também em entrevista ao site "Naturales", que fez igualmente a entrega da sua proposta.
Mas o concurso, ao que apurámos junto de fonte fidedigna, pode vir a ser anulado por Covões. E mesmo que o não seja, desenha-se agora um novo cenário: já não ver ser possível realizar a corrida de Junho e as duas de Julho, nem provavelmente as de Agosto. Far-se-à na mesma um concurso, com novo caderno de encargos adequado às novas circunstâncias, para alugar uma só data? Manterá Álvaro Covões o concurso de pé, alterando o caderno, mas para a realização de corridas só em 2021?
E os empresários, face a todas as incertezas que pairam no ar quanto à hipotética reacção negativa do público em acorrer a espectáculos de massas, vão arriscar um tiro no escuro, sem garantia nenhuma de que as praças, pelo menos este ano, voltem a encher?
Primeiro, agora, está a saúde pública, a protecção dos cidadãos, a tentativa de evitar uma maior propagação do vírus. Depois estão as incertezas quanto ao regresso de novos vírus nos próximos tempos. A vida pode voltar ao normal e vai voltar ao normal. Mas nos primeiros tempos, nada será como dantes e o estilo de vida das pessoas sofrerá alterações - e prudências - radicais.
Vivem-se tempos de incógnita e de crise. E é necessário e urgente que nos preparemos para os viver e para os ultrapassar. Com uma certeza: a situação é muito complicada. E não podemos assobiar para o lado e dizer, com o nacional-porreirismo que nos caracteriza, que "tudo vai ficar bem". Porque não vai. Pelo menos tão cedo.
Fotos M. Alvarenga