quarta-feira, 15 de abril de 2020

Recordando o Hotel Príncipe, que foi santuário dos toureiros, numa singela homenagem a José Zuquete

José Zuquete com seu irmão e o crítico José António Lázaro no bar do Hotel
Príncipe, anos 70
No dia da inauguração da Monumental de Albufeira (1982), Fernando dos Santos,
José Zuquete, o crítico taurino Quito Fernandes e o então secretário de Estado
do Turismo, Luis Nandim de Carvalho
Rogério Amaro, José Zuquete, Álvaro Catoja e José António Lázaro
O Hotel Príncipe ontem e hoje
Na Tertúlia "Festa Brava", em Lisboa: José Zuquete, Fernando Guarany,
Gustavo Zenkl e o então crítico tauromáquico Paulo Pereira
Zuquete com Virgílio Palma Filaho num almoço da Tertúlia "Festa Brava"
Zuquete com Mestre Batista, de quem foi discípulo e amigo
José Zuquete num espectacular ferro curto
Mestre Batista, Ángel Peralta e José Zuquete em Abril de 1982 na corrida
de inauguração da Monumental de Albufeira
José Zuquete na tarde da alternativa (a que chegou meia-hora atrasado...),
em Vila Franca, no ano de 1977. Foi apadrinhado pelo saudoso Alfredo Conde,
vendo-se atrás , também, Emídio Pinto e Gustavo Zenkl. Em baixo, numa foto
mais recente. Morreu há quatro anos


Naqueles anos de 70, o Hotel Príncipe, em Lisboa, era uma espécie de santuário do mundo da tauromaquia. No bar se fizeram e desfizeram negócios. E ali se vestiram as grandes figuras mundiais quando vinham tourear ao Campo Pequeno

Miguel Alvarenga - As tardes de quinta-feira, que antecediam as nocturnas do Campo Pequeno, eram naqueles anos de 70, invariavelmente passadas no Hotel Príncipe, na Avenida Duque de Ávila, em Lisboa, ainda hoje existente e totalmente remodelado.
O bar do hotel era uma espécie de santuário dos homens da tauromaquia, ali conviviam, entre copos, toureiros, empresários, ganadeiros e jornalistas.
A dois passos ficava o Pub Guarany, que o famoso toureiro brasileiro comprara com o dinheiro do cachet da sua estreia no Campo Pequeno, depois de ter estado um mês vestido de toureiro à porta da praça a reclamar uma oportunidade de ali tourear.
E entre o bar de Fernando Guarany e o bar do Hotel Príncipe, as tardes eram movimentadas e agitadas em dia de corrida na praça de Lisboa. Mas não só. Noutros dias o Hotel Príncipe continuava a ser ponto de encontro sobretudo de críticos tauromáquicos, de toureiros e de empresários. Ali se fizeram muitas entrevistas e ali se fizeram e desfizeram também muitos negócios.
Ali entrevistei na época, primeiro para "A Rua", depois para "O Diabo", figuras do toureio como "Niño de la Capea", Ruiz Miguel, Tomás Campuzano e "Currillo", entre outros, toureiros que elegiam o Príncipe como o seu hotel quando vinham actuar ao Campo Pequeno. Ao lado ficavam. e lá estão hoje ainda, os hotéis D. Manuel e Reno, também frequentados pelos homens dos toiros, mas não tanto como o Príncipe.
Outros toureiros preferiam hospedar-se em hoteis distintos, casos de Álvaro Domecq que ficava no Tivoli, de "Antoñete" que optava pelo Hotel Roma, de João Moura que escolhia por norma o Sheraton ou de Paulo Caetano, que optava entre o mesmo Sheraton e o Alfa.
No Hotel Príncipe, os saudosos críticos tauromáquicos José António Lázaro e Quito Fernandes era como se fizessem parte da mobília, estavam lá dia-sim, dia-sim. O empresário Rogério Amaro, Fernando Guarany, o cavaleiro Regalito Faraó e José Zuquete eram outras presenças muito habituais por aquelas bandas.
E é precisamente sobre José Zuquete, um cavaleiro dos tempos em que havia paixão e romantismo na Festa, que me debruçarei hoje, quatro anos depois da sua morte (em Junho de 2016, aos 75, vítima de cancro), em jeito de homenagem a um amigo e a um toureiro que o foi em nome desse romantismo - que era o motor que justificava, ao tempo, as carreiras de muitos que escolheram o mundo das arenas para serem alguém na vida. José Zuquete, pai do também cavaleiro João Zuquete, não foi mais nem menos que outros, foi ele próprio - e teve uma trajectória digna, sem ter sido figura.
Natural de Leiria, José Júlio Estrela da Silveira Zuquete nasceu a 25 de Março de 1941 e estreou-se em público na praça de toiros da Nazaré em 1975.
Recebeu a alternativa na praça de toiros "Palha Blanco", em Vila Franca de Xira, a 1 de Maio de 1977, apadrinhado pelo também saudoso Alfredo Conde, com o testemunho, entre outros, de Gustavo Zenkl e Emídio Pinto. Era engenheiro agrónomo.
Facto inédito: foi o único toureiro que chegou à praça no dia da alternativa com um atraso de meia-hora!
Toureou na corrida de inauguração da Monumental de Albufeira, a 10 de Abril de 1982, ao lado dos cavaleiros Ángel Peralta e José Mestre Batista, dos matadores Paco Camino e Fernando dos Santos e dos Forcados Amadores de Beja, comandados ao tempo por João Caixinha.
Teve também uma passagem pelo mundo da forcadagem, envergando a jaqueta dos Amadores de Santarém.
Uma homenagem que aqui lhe fazemos hoje, recordando também esse santuário antigo dos homens dos toiros que foi nos anos 70 o Hotel Príncipe.

Fotos D.R., Luis Azevedo, Henrique de Carvalho Dias, João Carlos D'Alvarenga e Emílio de Jesus/Arquivo