domingo, 11 de outubro de 2020

Monforte: os "velhinhos" ainda reinam!

Lotação esgotada em Monforte para assistir a um entretido espetáculo que assinalou os 40 anos de alternativa do Maestro Paulo Caetano. Mas que tarde! João Moura, Paulo Caetano e João Salgueiro, “os velhinhos de serviço”, não foram ali “brincar” e deixaram bem claro que cabe aos mais novos (todos eles) fazer mais e melhor. Uma lição em dia de festa

Hugo Teixeira - A corrida comemorativa dos 40 anos de alternativa do Maestro Paulo Caetano, ontem em Monforte, foi um êxito. Além das altas temperaturas, viveram-se momentos quentes, com a lotação esgotada (e limitada) da praça a reviver os grandes confrontos que marcam a história mais recente da Festa.


O festejo foi um êxito graças aos três veteranos em praça: João Moura, Paulo Caetano e João Salgueiro, mas também pelas garantias que foram ali dadas rumo ao futuro por João Moura Caetano, Marcos Bastinhas e Duarte Pinto.


Todos triunfaram, todos deram o melhor de si, numa tarde em que destacamos a actuação de João Salgueiro, que reapareceu para dizer que “quem sabe nunca esquece” e que em 2021 pode regressar para “apertar” com os colegas. Vamos a isso, João!


Confesso que, por mim, o espectáculo poderia ter terminado após a lide do terceiro toiro. Depois de assistir a três actuações gloriosas a cargo de João Moura, de Paulo Caetano e de João Salgueiro, três actuações que me fizeram recuar no tempo, fiquei mais do que satisfeito. Os três “velhinhos” não foram ali brincar, foram para triunfar e deram essa mesma lição aos mais novos.


Lidaram-se toiros de Paulo Caetano e Irmãos Moura Caetano, dispares de apresentação e comportamento, mas servindo para a função, à excepção do primeiro lidado por João Moura e do quinto por Marcos Bastinhas, que se adiantava um pouco.


Apesar desses dois factores, o lenço azul foi “sacado” pelo diretor de corrida dando assim “luz verde” ao êxito ganadero.


As pegas estiveram a cargo dos Amadores de Monforte, que neste dia assinalavam 20 anos de existência, mas nem sempre tiveram pela frente matéria fácil de resolver, mas vamos por partes:


João Moura, que brindou, como todos os seus colegas de cartel, a Paulo Caetano, abriu a função perante a fraca mobilidade do oponente que lhe coube em sorte, mas nem isso intimidou o Maestro, que deixou bons compridos e uma boa série de curtos com cites de praça a praça e a atacar o toiro. Fechou a função com um fero de palmo muito aplaudido.


Seguiu-se o homenageado da tarde, Paulo Caetano. Um Senhor dentro e fora de praça. A cadencia do seu toureio, o temple que imprime, a suavidade e elegância com que executa a tarefa, marcam a diferença. Paulo brindou a lide ao seu neto e logo ali deixou uma mensagem de esperança, didáctica e de futuro. Abriu a lide com uma sorte de gaiola, cravou com verdade, ladeou, escreveu mais uma importante página na sua estrondosa carreira.


Depois uma surpresa (ou não!)… João SalgueiroO de Valada do Ribatejo reapareceu e triunfou forte, perante um bom toiro que deixou Salgueiro brilhar nos compridos e nas bandarilhas. A brega imprimida, a verdade como abordou o toiro, marcaram esta grande atuação que recolheu fortes ovações. Em 2021 era importante o seu regresso, faz falta à festa um toureiro como Salgueiro.


Na segunda parte do espectáculo entrou em campo a geração mais nova que não foi ali a Monforte “ver passar os comboios”.


João Moura Caetano esteve bem nos compridos e nos curtos, apesar de um ligeiro toque na montada, sendo a sua actuação marcada pelos ferros com as batidas ao píton contrário e pela forma como pisou a linha de risco. A actuação foi do agrado do conclave e assim ficou escrito que a história dos Caetano continua!


Marcos Bastinhas entrou como um furacão em praça. Deixou os dois melhores compridos e, apesar de um toque mais aparatoso na montada, deixou boas bandarilhas curtas, numa lide rematada com um bom par de bandarilhas pelo corredor. O selo Bastinhas também ficou ali gravado em Monforte.


Fechou a tarde Duarte Pinto. O Duarte é daqueles toureiros que não engana. O aficionado quando adquire um bilhete para uma corrida onde está anunciado Duarte Pinto já sabe, à partida, que vai assistir a um toureio limpo, sem comprometer e acima de tudo com verdade. Em Monforte voltou a ser assim, com um toureio baseado no classicismo desta arte.


No capítulo das pegas, os Amadores de Monforte capitaneados por Ricardo Carrilho encerraram-se com os seis toiros, rubricando uma tarde que foi de menos a mais. Nem sempre foi fácil a função, mas assinalaram nesta tarde os seus 20 anos de existência com dignidade.


Foram solistas Gonçalo Parreira à segunda tentativa, João Maria Falcão à quarta tentativa, Carlos Silva à primeira após quatro tentativas efetuadas por Luís Vieira e João Diogo, Vítor Carreira e Nuno Toureiro, todos ao primeiro intento.


Dirigiu a corrida Domingos Jeremias, assessorado pelo médico veterinário José Guerra.


Antes da corrida se iniciar (com lotação esgotada dentro da nova normalidade), o cavaleiro Paulo Caetano e o Grupo de Forcados Amadores de Monforte foram homenageados pelo município, na pessoa do presidente da Câmara Gonçalo Lagem.


Foram descerradas duas lápides na praça para assinalar a efeméride, Gonçalo Lagem tomou a palavra para homenagear os forcados da terra e Francisco Morgado leu um sentido e bonito texto de sua autoria de homenagem à vida e carreira do Maestro Paulo Caetano.


Maria Moura Caetano foi outra das surpresas que estava “na manga”, tendo brindado os presentes com uma grande demonstração de equitação em Monforte.


Tarde importante e de êxitos, onde os “velhinhos” a cavalo disseram que estão “aí para as curvas”.


Fotos cortesia Nélia Ramos/Facebook