terça-feira, 6 de outubro de 2020

Vila Franca: Rouxinol Jr. pôs tudo Prieto no branco e triunfou

Grande expectativa e depois... a montanha pariu um rato. Os toiros "brancos" (menos um) da ganadaria espanhola de Prieto de la Cal tiveram ontem "entradas de leão" na arena da "Palha Blanco", mas criaram algum "pânico" e não tiveram também por parte dos toureiros as lides que se esperava. Tinham, no geral, apresentação irrepreensível. Houve três toiros bravos: o segundo, o quinto e o sexto. O primeiro pareceu ter problemas de visão, o quarto "serviu" sem grande emoção e o terceiro revelou-se mansote  O segundo da tarde foi aplaudido no final pelo exigente público vilafranquense, que sabe o que vê e não come gato por lebre. O último também proporcionou um importante triunfo a Rouxinol Júnior, que o lidou com inteligência e saber. Feitas as contas, os toiros, pelo menos sérios foram, e em alguns casos estiveram mesmo, como se diz na gíria, "por cima dos toureiros"

Miguel Alvarenga - Eram bonitos e eram diferentes. "Brancos", mais propriamente jaboneros, à excepção do quarto. Os toiros de Prieto de la Cal, histórica ganadaria espanhola que fazia a sua estreia em Portugal, tiveram, pelo menos seriedade. Nem sempre tiveram, diga-se em abono da verdade, toureiros à altura. O exigente e entendido público de Vila Franca, adepto do toiro-toiro e da verdade, protestou mais a "pouca habilidade" dos toureiros para dar a volta aos toiros do que propriamente o facto de estes se adiantarem uma barbaridade e não terem revelado as melhores condições para o toureio. Nunca um toiro agradou a gregos e a troianos. E Vila Franca, repito, sabe ver toiros. Melhor que eu...

Com o pior lote, Manuel Ribeiro Telles Bastos fez jus ao seu classicismo em duas lides de altos e baixos, mas em que não deixou por mãos alheias a sua classe e a sua raça. É um toureiro que tem marcado pela positiva esta atípica temporada da maldita pandemia e ontem teve em Vila Franca as actuações possíveis diante dos dois complicados toiros de Prieto de la Cal que constituiram o seu azarado lote. Quem dá o seu melhor frente a matéria prima de poucas condições a mais não é obrigado.

Marcos Bastinhas regressava à "Palha Blanco" depois de na temporada passada ali ter tido um grande triunfo no festival de início do ano em que actuou pela primeira vez depois da morte de seu Pai. Vinha com ganas e com a costumeira vontade de agradar e triunfar. Esperou o primeiro toiro à porta da gaiola e parou-o de modo espectacular, cravando depois dois compridos de praça a praça. Nos curtos, esteve algo irregular a cravar, mas bem a tourear. Recusou vir à arena, mesmo autorizado pelo director.

No segundo toiro do seu lote, voltou a iniciar muito bem a lide e esteve outra vez decidido e valente, como é seu timbre. O oponente tinha menos qualidade que o primeiro e Marcos destacou-se em ferros emotivos, sem contudo rematar um triunfo redondo.

Luis Rouxinol Júnior cumpria ontem o décimo e último compromisso desta temporada em que vai liderar o escalafón. É, dos novos cavaleiros de alternativa, sem dúvida alguma, o mais consistente e o mais consolidado também rumo ao estatuto de figura. E ontem marcou a diferença na forma de lidar com os complicados Prieto de la Cal.

Ao seu primeiro toiro, algo reservado, deu a volta com saber e determinação, iniciando com uma emotiva sorte de gaiola que resultou perfeita. Esteve depois notável a lidar e a cravar, mas foi no último que atingiu o triunfo maior, reconquistando o público de Vila Franca com uma lide brilhante e em que pôs a carne no assador. Fim de temporada memorável para um jovem que dá sempre a cara e continua a ser triunfador.

Os forcados do Ribatejo, da Chamusca e de Beja foram, como ontem aqui referimos, Reis em dia de festejos da República. Seis boas pegas todas ao primeiro intento em tarde para recordar - como já aqui contámos em pormenor.

Ricardo Dias foi ontem o director de corrida, cumprindo a missão com o rigor e a competência que Vila Franca exige - e ali não pode ser de outra forma.

O público da "Palha Blanco" gosta pouco de capotazos em excesso aos toiros e ontem meteu-se em algumas ocasiões com os bandarilheiros - que desempenharam o seu labor da melhor forma.

A corrida decorreu sem tempos mortos, a trincheira estava limpa (e isso continua a ser um dos bens que vieram por mal neste ano de pandemia) e o público compriu à risca, com civismo exemplar, as novas regras que vieram alterar tanta coisa no espectáculo tauromáquico.

A Feira de Outubro - que Ricardo Levesinho levou por diante com a usual determinação, ousando mesmo realizar uma corrida a mais do que é costume, precisamente a de ontem - tem hoje a última noite com a tradicional corrida de exaltação do Forcado Vilafranquense.

Lá estaremos para aplaudir os Amadores de Vila Franca. Lidam-se toiros da centenária ganadaria Palha e actuam os cavaleiros Luis Rouxinol, Francisco Palha e António Prates. A noite promete!

Fotos M. Alvarenga

Manuel Telles Bastos
Marcos Bastinhas
Luis Rouxinol Jr.