sexta-feira, 14 de maio de 2021

Faenas importantes na Chamusca - "Cuqui" chegou e disse: "Estou aqui!"

Depois do grito do Ipiranga que deu no ano passado no 15 de Agosto nas Caldas - onde muito justamente vai ser repetido esta temporada -, o matador Joaquim Ribeiro "Cuqui" voltou ontem a dar um importantíssimo sinal de valor e afirmação na Chamusca, reafirmando que o toureio a pé está a voltar à tona em Portugal e que ele é, na realidade, uma das grandes figuras do momento. Chegou e disse: "Estou aqui!". E esteve. Falta-lhe o Campo Pequeno, onde ainda não se apresentou depois da alternativa no México - e onde se impõem agora, mais que nunca, que o vejamos consagrar-se

Miguel Alvarenga - Desde que Manzanares lhe deu em Lisboa, quando ele era ainda novilheiro, a bonita e gentil oportunidade de "se mostrar" aos aficionados, que Joaquim Ribeiro "Cuqui" se vem revelando como um dos grandes valores do nosso toureio a pé, a par de outros como António João Ferreira, Manuel Dias Gomes, Nuno Casquinha e "Juanito". Temos de novo em Portugal um naipe de grandes matadores, chegou a hora de recolocar o toureio a pé no seu devido e merecido lugar.

E o público está de novo a aderir e a entusiasmar-se com a corrida mista, depois de muitos anos a vermos todos os dias os mesmos cavaleiros.

Ontem na Chamusca, com dois toiros distintos de São Torcato, o valente e artístico "Cuqui" deixou bem claro, para que não restem dúvidas, que tem carradas de valor para chegar bem longe numa carreira em que toda a aficion acredita - e algumas empresas, mas ainda não todas... - e que pode atingir num curto espaço de tempo patamares idênticos àqueles a que chegaram, noutras épocas, os toureiros que marcaram os anos de oiro do toureio a pé em Portugal.

"Cuqui" andou em plano de grande lidador frente ao terceiro e algo complicado toiro da corrida, com o qual pouco pôde fazer com o capote. Na muleta, o toiro tinha investidas pouco francas e procurava o vulto. "Cuqui" tapou-lhe os defeitos e sacou faena valorosa pelos dois lados, templando, mandando, afirmando-se senhor da situação. Faena de muito valor e entrega, de afirmação e de atitude.

O último toiro foi um grande toiro, com presença, transmitindo emoção, que valeu ao ganadeiro Joaquim Alves a merecida e justa ida à arena no final para receber conjuntamente com o toureiro os aplausos do público.

"Cuqui" recebeu-o com uma "larga afarolada" de joelhos em terra, que aqueceu e entusiasmou o ambiente que já rodeava, depois da primeira faena, a sua segunda intervenção nesta corrida. Seguiu com cingidas e templadas "verónicas".

Depois de mais um espectacular tércio de bandarilhas executado pelos seus bandarilheiros - que já aqui louvámos -, o matador esteve enorme numa faena de classe, bom gosto e poderio a um toiro que investiu com alegria e nobreza na muleta. Desenhou bonitos e expressivos "naturais" com beleza a lentidão, que rematou com artísticos "passes de peito". Terminou a faena de joelhos em terra, valente, a afirmar-se. Um triunfo importantíssimo com um toiro que o não foi menos. Grande tarde de "Cuqui" ontem na Chamusca. E mais uma jornada de afirmação do toureio a pé - em que as empresas têm que passar a apostar.

A cavalo, também se destacaram ontem - e bem - Luis Rouxinol e João Salgueiro da Costa, este segundo naquela que era a sua primeira corrida da temporada e depois de não ter toureado no ano passado.

Depois de um arranque pouco brilhante na primeira corrida em Vila Franca, o veterano Luis Rouxinol voltou ontem a "encarrilar" e a dar o verdadeiro esplendor da sua sempre aplaudida maestria.

Com um primeiro toiro que investiu bem, Rouxinol deu o mote para uma tarde de triunfo, esteve bem nos compridos e melhor nos curtos. A melhor lide foi, contudo, a segunda, a um toiro difícil, reservado e complicado, a que deu a volta com a sua experiência, o seu saber e a sua entrega. Lide em crescendo, tornando o difícil, fácil, que terminou com um bom ferro de palmo e um par de bandarilhas com a sua marca. Uma lide "à Rouxinol", de plena maestria.

João Salgueiro da Costa esteve brilhante na lide do seu primeiro toiro, um toiro exigente e a exigir muito ofício. O toureiro de Valada pôs a carne no assador e saíu por cima, destacando-se nesta lide aquele que foi um dos grandes ferros da corrida, vencendo o pito contrário, indo recto e com valor à cara do oponente. Um "ferro à Salgueiro", a lembrar seu pai - que assistiu entusiasmado na trincheira ao triunfo do filho.

Salgueiro enfrentou depois em quinto lugar um toiro "de bandeira" - a que nunca virou a cara, indo sempre de frente e a pisar terrenos de compromisso, logo nos compridos e depois também nos curtos. Falhou um ferro, mas isso não apagou o brilhantismo da grande actuação, deixando antever que está em grande forma neste seu regresso às arenas.

Das pegas dos dois grupos da Chamusca já aqui falei em pormenor, resta realçar que estiveram em tarde grande.

Excelentes - e não exageradas - intervenções de todos os bandarilheiros nas lides a cavalo, com destaque para Manuel dos Santos "Becas", João Bretes, João Ferreira e Tiago Santos. Nas bandarilhas, grandes pares de Cláudio Miguel, João Martins e Jorge Alegrias.

Com pesos e apresentação q.b. e sem exageros, os toiros de São Torcato, ganadaria séria, dura e temida, tiveram comportamentos distintos. O primeiro foi um bom toiro, os segundo, terceiro e quarto apresentaram complicações, sendo exigentes, o quinto e sexto foram dois grandes toiros.

Manuel Gama, antigo forcado, dirigiu com a competência usual e com sentido aficionado, abrilhantando a corrida concedendo música (merecida) aos três toureiros em todas as suas actuações.

Houve um ou outro episódio que atrasaram e demoraram o que podia e deveria ter sido uma corrida "mais rápida" e com menos tempos mortos. Houve duas "touradas à corda", isto é, dois toiros que tardaram em recolher aos currais e tiveram que ser laçados - com eficácia, diga-se - pelo embolador Estorninho. E houve algum compasso de espera com a história do põe burladero, tira burladero...

Por fim, uma nota negativa para o estado do piso da arena, estilo areal da Caparica e a proporcionar valentes nuvens de poeirada aos resistentes aficionados - como já acontecera em Vila Franca e Salvaterra. Os empresários andam, pelos vistos, a poupar nos gastos de água. Passem a regar convenientemente as arenas!

Fotos M. Alvarenga 

- Já a seguir, não perca os melhores momentos de Rouxinol, de Salgueiro e de "Cuqui"

A eterna anomalia das novas regras: forcados proibidos de
permanecer na trincheira, apesar de serem os únicos
obrigados a fazer o teste à covid antes das corridas...



Dois toiros "embirraram" e tardaram em recolher aos currais.
Tivemos duas "touradas à corda" na Chamusca, com eficiente
intervenção do embolador Estorninho


Uma porta "escaqueirada" e tudo!

O mete e tira burladeros atrasou a corrida...