Miguel Alvarenga - O Sindicato dos
Toureiros (que por ter mudado de nome e designação, não deixa de ser o
sindicato da classe) saíu ontem a terreiro, com um comunicado subscrito pela
Direcção (presume-se) para finalmente e 48 horas depois do último evento, tomar
pública posição, em defesa dos bandarilheiros (o que é lícito e se entende na
perfeição), àcerca dos três espectáculos que nos dias 2, 3 e 17 se realizaram
na Monumental do Montijo, somente com grupos de forcados - e que tanta celeuma
provocaram...
No primeiro parágrafo de um texto sem
pés nem cabeça, o Sindicato manifesta a sua repulsa e condena o que diz terem
sido "comentários insultuosos " dirigidos aos bandarilheiros
"por parte de um orgão de comunicação social" - que não identifica.
Enfia a carapuça quem quiser - e eu não a enfio.
E não a enfio, por muito jeito que isso
pudesse dar ao Sindicato (ou a parte dele), pela simples razão de que o
"Farpas" não fez quaisquer "comentários insultuosos" a
ninguém. Escrevemos, isso sim, que os bandarilheiros se haviam recusado a
participar nesses referidos espectáculos e considerámos que isso era
vergonhoso. E era.
Depois, Pedro Gonçalves, bandarilheiro e
co-organizador desses espectáculos, veio a público, na rede
"Facebook" , respondendo a um comentário de Hugo David, também
bandarilheiro, esclarecer que apenas convidara sete bandarilheiros e que estes
haviam, de facto, recusado participar. Como bem referiu, igualmente num
comentário no "Facebook" , o também bandarilheiro Adriano Marques,
sete companheiros não representam a classe.
Apressei-me, depois desse
esclarecimento, a dar a mão à palmatória - fi-lo sempre quando reconheci que
errei - e a escrever que, afinal de contas, não existira nenhum veto aos
forcados por parte dos bandarilheiros. Resta saber se Pedro Gonçalves tivesse
convidado mais bandarilheiros, se estes teriam aceite participar. Mas isso é
outra conversa. A realidade é que os bandarilheiros lusos primaram pela
ausência (até nas bancadas) nos três festejos em que se pretendia enaltecer o
forcado amador, se bem que em moldes inéditos e em formato não enquadrado no
que estipula a lei do espectáculo tauromáquico, ainda que devidamente
autorizado pela IGAC.
O Sindicato dos Toureiros alertou os
seus associados para o facto de o Fundo de Assistência não cobrir quaisquer
tipo de acidentes nesses espectáculos
"não enquadrados" - o que, não é difícil de entender, os terá
demovido, à partida, de neles participarem.
O Sindicato transmitiu ao orgão da
tutela (IGAC) "as preocupações dos cabeças de cartaz e
bandarilheiros" - mas não
explica que
"preocupações" eram essas. Estariam os cabeças de cartaz
(presumo, os cavaleiros) e os bandarilheiros preocupados com a possibilidade de
as empresas, a partir de agora, os dispensarem e passarem a realizar só espectáculos
como estes três do Montijo? Não tem pés nem cabeça...
Em suma, o comunicado do Sindicato peca,
primeiro que tudo, por tardio. Era bom que se tivesse conhecido a posição do
Sindicato (que é a posição dos toureiros) antes da realização destes espectáculos
- e não depois. Ter-se-iam evitado más interpretações e tudo teria ficado, à
partida, preto no branco.
Em segundo lugar, o comunicado foi
escrito com os pés. Mas sem cabeça. Não se percebe bem o que veio dizer o
Sindicato. Percebe-se que veio defender os bandarilheiros, coitados,
presumíveis vítimas de presumíveis "comentários insultuosos";
percebe-se que quis dizer que não estava contra, mas também não estava a favor,
deste estranho formato de evento tauromáquico; percebe-se que considera que
eventos como estes "não trazem nenhuma mais valia à tauromaquia
nacional".
É estranho que o Sindicato tenha perdido
tempo com estes espectáculos e tenha estado sempre silencioso com outras
coisas, bem mais graves que acontecem regularmente e durante a temporada tauromáquica...
como o desaparecimento de pseudo-empresários que montam corridas e depois fogem
com os patrocínios; como toureiros (e bandarilheiros incluídos) que vêm das
praças com as mãos a abanar; como empresas que pagam muito abaixo dos mínimos e
ninguém protesta; enfim, tantas coisas mais.
Em suma, o Sindicato ou tinha falado
antes - e só lhe ficava bem transmitir a posição da classe antes dos eventos se
realizarem - ou mais valia ter ficado calado.
Fazendo o que fez, sem pensar, acabou
por dar uma imagem de vazio, de total falta de conteúdos. Os espectáculos de
Demonstração de Pegas, como já tive oportunidade de referir, não serviram para
nada. Mas o Sindicato também não serve para nada...
E assim vai a nossa Festa. Sem
estratégia, sem defensores, sem união e, mais preocupante e mais gritante, sem
cabeças.
É pena. Mas acho que já não há nada a
fazer. É deixar andar...
Fotos D.R.