quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Sindicato dos Toureiros: um comunicado sem pés nem cabeça...





Miguel Alvarenga - O Sindicato dos Toureiros (que por ter mudado de nome e designação, não deixa de ser o sindicato da classe) saíu ontem a terreiro, com um comunicado subscrito pela Direcção (presume-se) para finalmente e 48 horas depois do último evento, tomar pública posição, em defesa dos bandarilheiros (o que é lícito e se entende na perfeição), àcerca dos três espectáculos que nos dias 2, 3 e 17 se realizaram na Monumental do Montijo, somente com grupos de forcados - e que tanta celeuma provocaram...
No primeiro parágrafo de um texto sem pés nem cabeça, o Sindicato manifesta a sua repulsa e condena o que diz terem sido "comentários insultuosos " dirigidos aos bandarilheiros "por parte de um orgão de comunicação social" - que não identifica. Enfia a carapuça quem quiser - e eu não a enfio.
E não a enfio, por muito jeito que isso pudesse dar ao Sindicato (ou a parte dele), pela simples razão de que o "Farpas" não fez quaisquer "comentários insultuosos" a ninguém. Escrevemos, isso sim, que os bandarilheiros se haviam recusado a participar nesses referidos espectáculos e considerámos que isso era vergonhoso. E era.
Depois, Pedro Gonçalves, bandarilheiro e co-organizador desses espectáculos, veio a público, na rede "Facebook" , respondendo a um comentário de Hugo David, também bandarilheiro, esclarecer que apenas convidara sete bandarilheiros e que estes haviam, de facto, recusado participar. Como bem referiu, igualmente num comentário no "Facebook" , o também bandarilheiro Adriano Marques, sete companheiros não representam a classe.
Apressei-me, depois desse esclarecimento, a dar a mão à palmatória - fi-lo sempre quando reconheci que errei - e a escrever que, afinal de contas, não existira nenhum veto aos forcados por parte dos bandarilheiros. Resta saber se Pedro Gonçalves tivesse convidado mais bandarilheiros, se estes teriam aceite participar. Mas isso é outra conversa. A realidade é que os bandarilheiros lusos primaram pela ausência (até nas bancadas) nos três festejos em que se pretendia enaltecer o forcado amador, se bem que em moldes inéditos e em formato não enquadrado no que estipula a lei do espectáculo tauromáquico, ainda que devidamente autorizado pela IGAC.
O Sindicato dos Toureiros alertou os seus associados para o facto de o Fundo de Assistência não cobrir quaisquer tipo de acidentes nesses espectáculos  "não enquadrados" - o que, não é difícil de entender, os terá demovido, à partida, de neles participarem.
O Sindicato transmitiu ao orgão da tutela (IGAC) "as preocupações dos cabeças de cartaz e bandarilheiros"  - mas não explica que  "preocupações" eram essas. Estariam os cabeças de cartaz (presumo, os cavaleiros) e os bandarilheiros preocupados com a possibilidade de as empresas, a partir de agora, os dispensarem e passarem a realizar só espectáculos como estes três do Montijo? Não tem pés nem cabeça...
Em suma, o comunicado do Sindicato peca, primeiro que tudo, por tardio. Era bom que se tivesse conhecido a posição do Sindicato (que é a posição dos toureiros) antes da realização destes espectáculos - e não depois. Ter-se-iam evitado más interpretações e tudo teria ficado, à partida, preto no branco.
Em segundo lugar, o comunicado foi escrito com os pés. Mas sem cabeça. Não se percebe bem o que veio dizer o Sindicato. Percebe-se que veio defender os bandarilheiros, coitados, presumíveis vítimas de presumíveis "comentários insultuosos"; percebe-se que quis dizer que não estava contra, mas também não estava a favor, deste estranho formato de evento tauromáquico; percebe-se que considera que eventos como estes "não trazem nenhuma mais valia à tauromaquia nacional".
É estranho que o Sindicato tenha perdido tempo com estes espectáculos e tenha estado sempre silencioso com outras coisas, bem mais graves que acontecem regularmente e durante a temporada tauromáquica... como o desaparecimento de pseudo-empresários que montam corridas e depois fogem com os patrocínios; como toureiros (e bandarilheiros incluídos) que vêm das praças com as mãos a abanar; como empresas que pagam muito abaixo dos mínimos e ninguém protesta; enfim, tantas coisas mais.
Em suma, o Sindicato ou tinha falado antes - e só lhe ficava bem transmitir a posição da classe antes dos eventos se realizarem - ou mais valia ter ficado calado.
Fazendo o que fez, sem pensar, acabou por dar uma imagem de vazio, de total falta de conteúdos. Os espectáculos de Demonstração de Pegas, como já tive oportunidade de referir, não serviram para nada. Mas o Sindicato também não serve para nada...
E assim vai a nossa Festa. Sem estratégia, sem defensores, sem união e, mais preocupante e mais gritante, sem cabeças.
É pena. Mas acho que já não há nada a fazer. É deixar andar...

Fotos D.R.