quinta-feira, 7 de junho de 2018

Olé, olé, João Moura!



Grande João,
Quando logo descer o pano e o palco for teu, de teus queridos filhos e do teu sobrinho, quando entrares na arena e a praça explodir de pé na ovação estrondosa que mereces por inteiro, porque foste e és o primeiro, lá do alto, do céu e das memórias, hão-de estar também de pé muitas e grandes figuras a aplaudir-te. Calculo a alegria de teu pai, de teu tio António, do teu irmão Benito, do nosso Fernando Camacho, do meu pai que tanto te admirava, de todos os nossos que já partiram e hoje vão de certeza festejar também este dia, esta noite, estes quarenta anos de glória.
Vou-me lembrar de certeza de tudo o que ficou para trás. Daquela tarde de magia em Madrid, onde te consagraste e deixaste toda a Espanha a falar do menino prodígio e do cavalo branco, esse cavalo mágico que foi o "Ferrolho". Dos sete toiros em Santarém. Da tua alternativa, que começámos a viver de manhã bem cedo no Hotel Abidis (era assim que se chamava, acho). Da noite da tua apresentação no Campo Pequeno, com Luis Miguel da Veiga e José João Zoio, em que o público ficou boqueaberto sem perceber bem o que era tudo aquilo que fazias e que inovavas, os ladeios, os "quiebros" parados na cara do toiro, esse temple, esses terrenos que pisavas com os cavalos, como se fossem capotes ou muletas e nunca ninguém ousara pisar, e isso era, afinal, a revolução, a revolução que tu impunhas e obrigavas todos a seguir a partir de então e era assim que se ia passar a tourear a cavalo e quarenta anos depois, ainda todos assim toureiam e tu foste, como hoje disse o Pablo, a maior referência para todos e o "Manolete" do toureio a cavalo, como também disse Ventura.
E tudo se passou a correr, como se nem sentíssemos, João, que o tempo passava e que os anos corriam e que tu eras sempre o mesmo, o maior, o primeiro entre os primeiros.
Vais-te emocionar, emocionas-te sempre. Vou-me emocionar. Vamo-nos emocionar todos. Há-de haver lágrimas, há-de haver palmas, ovações, o reconhecimento não apenas pelo que foste, mas pelo que és.
Vais ter a teu lado os teus filhos, teus seguidores como ninguém, o teu Tomás. que fará só as cortesias, mas que um dia, muito em breve, vamos ver também debutar e triunfar neste palco sagrado, o da Catedral do Toureio a Cavalo, de onde tantas vezes saíste em glória e hoje sairás - sairão - também.
E cá estaremos, se Deus quiser, daqui por dez anos, a comemorar meio século de glória, João. Na semana passada, no jantar que tive o maior dos gostos em levar por diante, porque tu o merecias, tiveste a teu lado todos os Amigos de sempre, os que souberam ter a dignidade de estar contigo nos bons e nos maus momentos, todos aqueles que nunca viraram as costas e souberam estar na primeira fila, assumindo-se mouristas, porque ser mourista é um estado de alma - e de admiração - e uma forma de estar na Festa.
A Amizade é o mais importante dos sentimentos. E não esqueço a nossa, de tantos e tantos anos, apenas com uma brigazinha tonta pelo meio que não foi causada por ti, nem por mim, que se lixe, isso já não importa, mas que resolvemos os dois quando agarrámos um no outro e fomos beber uns copos à "Kapital" e dissemos tudo o que tínhamos a dizer e por ali ficou, esquecida nos gins, toda essa estupidez que tinha acontecido - à "Kapital", agora "Mome", onde hoje vamos voltar a beber o nosso sagrado gin depois da corrida, depois do vosso triunfo.
Mas, para lá da amizade, há o respeito e a imensa admiração pelo teu profissionalismo, pela tua carreira, pela tua história, João. Que escreveste, como ninguém, a letras de ouro e que fica para sempre, lá no alto, lá no mais elevado dos patamares, esse trono onde hoje mesmo te consagraram, em tão bonitas palavras, o Pablo e o Ventura.
Lá estaremos todos logo, João. Para, entre lágrimas, recordações, filmes que vão passar a correr pelas memórias, te consagrarmos uma vez  mais. Te homenagearmos. E te gritarmos, em uníssomo e com a força que chegue aos céus, olé, olé, João Moura!

Miguel Alvarenga

Fotos Moratalla Barba, Maria Mil-Homens, Emílio de Jesus e João C. Alvarenga