terça-feira, 16 de abril de 2019

Ricardo Chibanga: o moçambicano que conquistou a aficion de todo o mundo

Ricardo Chibanga com a filha Anete junto à estátua do cavalo na Golegã, no
dia 11 de Novembro do ano passado - a última homenagem que o nosso querido
repórter Emílio de Jesus lhe prestou
Com os matadores Rui Bento e António João Ferreira a 21 de Janeiro de 2017
no jantar promovido pela Tertúlia "Círculo T" no Restaurante "Clube do Operário"
no Campo Pequeno, a última grande homenagem que recebeu do mundo
tauromáquico
Com Miguel Alvarenga e José Luis Gomes e, em baixo, com Maurício do Vale,
na mesma homenagem


Ricardo Chibanga morreu esta manhã em sua casa, na Golegã, onde regressara na última quinta-feira depois de ter estado internado desde 2 de Março, vítima de acidente vascular cerebral, primeiro no Hospital de Abrantes e depois no de Torres Novas. Tinha 76 anos, foi o primeiro toureiro africano e para trás fica uma carreira marcada por muitos momentos de glória em arenas de todo o mundo

Um mês e três dias depois de o país ter acordado com a falsa notícia da morte de Chibanga (13 de Março), o famoso matador de toiros moçambicano morreu esta manhã em sua casa, na Golegã, desconhecendo-se ainda neste momento os pormenores das cerimónias fúnebres, que deverão ali decorrer hoje e amanhã.
Nascido a 8 de Novembro de 1942 no bairro pobre de Mafalala em Lourenço Marques, Moçambique, onde nasceram também três grandes nomes do futebol nacional, Eusébio, Coluna e Hilário, Ricardo Chibanga veio para a metrópole no início dos anos 60 com o sonho de ser toureiro, trazido por Alfredo Ovelha e pelo embolador António Pinheiro com o apoio do então governador-geral de Portugal em Moçambique, o almirante Sarmento Rodrigues. A viagem para Lisboa foi feita num avião da Força Aérea e com Chibanga veio outro jovem que também sonhava e chegou a ser toureiro, Carlos Mabunga (já falecido), sem no entanto ter alcançado a projecção de Ricardo.
"Quando cheguei a Lisboa, vi outro mundo, coisa que eu nunca pensava conhecer e apaixonei-me pela festa dos toiros", contou ele numa entrevista.
Por cá, recebeu na Golegã os ensinamentos de Mestre Patrício Cecílio, de Manuel dos Santos, de José Tinoca e Manuel Barreto. Ricardo Chibanga fez grande sucesso nas arenas como novilheiro e a 15 de Agosto de 1971 tomou a alternativa de matador de toiros no cenário solene da Real Maestranza de Sevilha, apadrinhado por António Bienvenida, com o testemunho de Rafael Torres. Toureou em praças de Espanha, incluindo a de Las Ventas, em Madrid, fez furor em França, foi aplaudido por Picasso, correu o mundo actuando no México, na Venezuela, nos Estados Unidos (Califórnia), no Canadá, em Macau e na Indonésia.
Depois de abandonar o toureio, no início dos anos 90, dedicou-se à actividade empresarial e passou a organizar corridas de toiros numa praça portátil em várias zonas do país. A sua última corrida de toiros foi no início dos anos 90 em Macau, espectáculo promovido pelo cavaleiro tauromáquico Rui Salvador e por José Pinto, onde alternou com o matador Rui Bento.
"Com Amália Rodrigues e Eusébio, formou o triunvirato dos embaixadores de Portugal além-fronteiras. Chibanga era um nome que toda a gente conhecia. 'El Africano', conforme anunciavam os cartazes da Festa Brava", escrevia há poucos anos o "Correio da Manhã".
Ricardo Chibanga foi homenageado pela última vez pelo meio taurino a 21 de Janeiro de 2017 num jantar promovido pela Tertúlia "Círculo T" em Lisboa.
Em Novembro do ano passado, o nosso querido e saudoso repórter fotográfico Emílio de Jesus (falecido em Janeiro deste ano), promoveu na Feira da Golegã uma derradeira homenagem que o "Farpas" aqui lhe rendeu.
"Fui buscar o Chibanga a casa e levei-o até à estátua do cavalo, na rotunda, onde contei com o simpático apoio da GNR para ali estacionar o automóvel, facilitando-me a realização das fotos. O Ricardo merecia esta homenagem e o 'Farpas' fez questão de terminar com ele a série de reportagens que marcaram, um ano mais, a nossa presença num acontecimento tão importante e tão marcante como é a Feira da Golegã", contou-nos na altura Emílio de Jesus.
Ricardo Chibanga era casado com Ana Maria, que se encontra internada num lar e sofre de Alzheimer, e pai de Anete, cujo filho, neto do matador, era "a alegria da sua vida".
O famoso toureiro africano sofreu um acidente vascular cerebral em sua casa no dia 2 de Março e foi internado no Hospital de Abrantes, de onde foi, dias mais tarde, transferido para o Hospital de Torres Novas. Na sequência dos vários exames a que foi submetido, foi-lhe detectado um tumor no fígado. Teve alta e regressou a casa na última quinta-feira e iria em breve ser operado ao fígado em Lisboa no Hospital Curry Cabral. Morreu hoje de manhã durante o sono. Tinha 76 anos.
A sua filha Anete, a sua Mulher e a seu neto endereçamos as mais sentidas condolências.
Que em paz descanse.

Fotos Emílio de Jesus e Fernando Clemente