Moura em Lisboa na noite da homenagem. O grande triunfador de 2021 no Campo Pequeno |
Miguel Alvarenga - Rezam as estatísticas oficiais que houve este ano 121 espectáculos tauromáquicos em terras de Portugal - e, a meu ver, foram demasiados numa temporada que praticamente só arrancou em força no mês de Agosto. Houve muitos fins-de-semana com corridas a mais e várias no mesmo dia e à mesma hora, o que é lamentável e é, sobretudo, desnecessário. Mas os empresários não há meio de se entenderem...
Triunfadores houve imensos - e para todos os gostos. A nova vaga marcou pontos e muitos jovens cavaleiros tiveram em 2021 o seu ano de definitiva consagração. Casos de João Ribeiro Telles, de Luis Rouxinol Júnior, de Miguel Moura e de João Salgueiro da Costa - os Quatro Magníficos.
Já foram atribuídos troféus - que valem o que valem. O site "Infocul" elegeu Rouxinol Júnior como triunfador da temporada; a Tertúlia "Festa Brava" optou por Salgueiro da Costa. E a Gala da Tauromaquia elegeu, através dos telefonemas (votação) dos aficionados, Francisco Palha, cavaleiro que manteve o alto nível das temporadas anteriores e é também, por seus méritos, um dos triunfadores de 2021. Curiosamente - ou talvez não - ninguém ainda premiou João Telles. Mas ele merecia!
João Moura Júnior andou esta temporada menos regular que nas anteriores, mas nem por isso perdeu o trono. Manuel Telles Bastos seguiu a sua caminhada de glória impondo o classicismo que as novas modas quase fizeram esquecer. A sua temporada ficou a meio, por colhida em Tomar. Duarte Pinto continuou também na sua linha de toureiro clássico e não pode ser esquecido, tem um lugar conquistado à custa da sua verdade. João Moura Caetano não teve também direito a prémios, mas continuou a triunfar e a deixar a sua marca de templo e de arte, foi memorável a sua presença em Lisboa na corrida de encerramento da temporada. E Marcos Bastinhas foi também um dos cavaleiros que marcou. O site "Infocul" outorgou-lhe o Prémio Tauromaquia.
Parreirita Cigano voltou à ribalta e triunfou nas poucas corridas em que participou. E outros cavaleiros tiveram as suas tardes de êxito, casos de António Brito Paes, de Paulo Jorge Santos, de Marco José e de muitos mais.
Filipe Gonçalves e Gilberto Filipe, num escalão superior, tiveram também uma importante palavra a dizer nesta temporada de 2021. Não tourearem muito, mas triunfaram o suficiente para manter acesa a chama que continua a justificar as suas presenças em corridas de maior importância. Ana Batista manteve o seu lugar entre os da frente com a classe e o valor que a caracterizam. Soraia Costa não toureou muito, mas chegou finalmente à alternativa. E Sónia Matias reapareceu depois de ter sido mãe, mas actuou apenas em duas corridas.
Entre os mais novos, na classe de praticantes, os mais destacados e aqueles que mais prometem, são António Ribeiro Telles (filho), Tristão Ribeiro Telles Guedes de Queiroz, Joaquim Brito Paes e Diogo Oliveira. Duarte Fernandes toureou uma única corrida em Portugal, na Moita, depois de ter recebido a alternativa em Arles - e foi o bastante para nos dizer que é um caso e que vai dar muito que falar.
Mas e apesar dos novos ventos que sopram dos lados da fileira dos jovens valores, os Maestros - vulgo antigos - continuaram a mandar nisto.
João Moura, num ano de muitas polémicas, protagonizou actuações de cátedra em Évora e na noite em que foi homenageado em Lisboa e esgotou a lotação possível do Campo Pequeno, saindo em ombros. Ainda e sempre a deitar cartas.
António Ribeiro Telles somava já muitos triunfos dos que marcam (sempre) a diferença quando surgiu a tragédia de Reguengos, a meio da temporada (Agosto), obrigando-o a parar. Graças a Deus recuperado desse incidente gravíssimo, é agora o toureiro mais esperado em 2022, qual El-Rei D. Sebastião.
Não vi muitas vezes tourear Rui Salvador, mas chegaram-me os ecos dos seus triunfos e da marca importante que voltou a deixar nesta temporada de 2021. Vi-o no início da época na Arruda e foi o bastante para atestar que o Maestro voltou este ano na plenitude.
Luis Rouxinol foi este ano o líder do escalafón mundial de cavaleiros e rejoneadores. Celebra 35 anos de alternativa na próxima temporada - e continua a ser o incrível campeão da regularidade, o que o faz um dos toureiros preferidos da aficion nacional.
Por último e no que aos veteranos diz respeito, não posso esquecer o triunfo memorável de Rui Fernandes na única corrida em que toureou este ano em Portugal, em Setembro, na Feira da Moita. Uma actuação de verdade e maestria que não pode ter passado indiferente aos nossos empresários e que mostrou, como na altura escrevi, que isto por cá anda mesmo tudo ao contrário: será possível que um toureiro deste calibre toureie só uma única corrida no seu país? Não faz falta?...
Quanto a rejoneadores espanhóis, veio Pablo Hermoso ao Montijo e a Lisboa, deixando a marca única da sua genialidade e fazendo, como sempre, a diferença. E voltou Andrés Romero, que pelo segundo ano consecutivo fez campanha entre nós, conquistando já um lugar de relevo nos cartéis fortes e nas primeiras praças. Voltarão ambos em 2022. Ventura continua a ser uma incógnita. Já nos habituámos a isso.
E ponto. Não interpretem este meu escrito como um balanço da temporada e muito menos como uma eleição de presumíveis triunfadores. Já há muito que me desabituei dessas análises. Chamem-lhe antes recordações. De um ano em que nem vi muitas corridas.
Fotos Fernando Clemente, M. Alvarenga e Ovação e Palmas
Rui Salvador no início da temporada na Arruda. Onde deu o mote do triunfo para um ano de sucesso |
Todos sentimos a falta do Maestro António Telles depois do acidente de Reguengos. E todos esperamos ansiosamente pelo ser regresso às arenas |
Campeão da regularidade e este ano também campeão em número de corridas, Rouxinol prepara-se agora para o ano de celebração do 35º aniversário da sua alternativa |
Em Setembro na Moita, Rui Fernandes marcou a diferença e atirou a pedrada ao charco, comprovando que a nossa Festa anda mesmo ao contrário... |