Viviam-se os tempos conturbados do PREC (Processo Revolucionário Em Curso, anos de 1975 e 76). D. José João Zoio, saudoso cavaleiro tauromáquico, jantava no emblemático restaurante "Gambrinus" em Lisboa quando reconheceu, entre os comensais dessa noite, um activista do Partido Comunista responsável pelas ocupações selvagens em Alcácer do Sal, que ocupara a casa de João Núncio (entretanto falecido) e se passeara pelas ruas da vila vestindo uma casaca de tourear do Mestre...
Zoio esperou que o homem tivesse necessidades a satisfazer na casa de banho, para o apanhar fora dos olhos públicos, e assim que isso aconteceu, seguiu-de de imediato para o wc, dando-lhe no interior "uma tareia das antigas".
O episódio, se bem que sem grandes pormenores, foi hoje recordado numa grande e interessantíssima entrevista ao jornal "Inevitável" por José Brito, histórico empregado do mais famoso restaurante da capital ao longo de 54 anos.
Solicitado pelo jornalista Vitor Rainho, que o entrevistou, a recordar episódios curiosos passados lá dentro do "Gambrinus", José Brito lembrou precisamente esse acontecimento:
"Lembro-me de um indivíduo, acho que era José João Zoio, que era toureiro, de direita. E, na casa de banho, insurgiu-se lá com um de esquerda e pegaram-se lá dentro. Ainda estou mesmo a ver o meu colega a abrir a porta da casa de banho e a agarrá-lo pela gola e a sacá-lo cá para fora. Já foi há uns bons anos".
Mas não é esta a única referência que José Brito faz a clientes do "Gambrinus" ligados ao mundo da tauromaquia:
"Lembro-me que os forcados, para evitarmos que eles se pegassem - normalmente são gente que gosta de porrada - e iam lá à quinta-feira. Por exemplo, os de Vila Franca ou da Chamusca, a gente punha um grupo num lado ao fundo do balcão e outro ao pé da porta. Ficavam separados, E lá nunca se portaram mal, porque nós jogávamos com eles".
E diz mais:
"O Salvação Barreto, que também era um indivíduo que arranjava confusões em todo o lado, partia aí as discotecas todas, e ia lá ao 'Gambrinus' e nunca se portou mal. Tinham um certo respeito por nós. Ele, o Lapa, o Zé Pedro Faro, tudo do grupo do Salvação Barreto. Tinham respeito. Nós também moldávamos as coisas para correrem mais ou menos. Basicamente, o sítio onde se portava bem era no 'Gambrinus'".
Fotos D.R.
José Brito, o histórico empregado do "Gambrinus" ao longo de mais de meio século (à direita) recorda várias figuras da tauromaquia na grande entrevista ao jornal "i" |
A célebre cena de pancadaria na casa de banho do "Gambrinus" entre José João Zoio e o chefe da Reforma Agrária de Alcácer aconteceu nos anos do PREC |
Nuno Salvação Barreto e José Pedro Faro "portavam-se sempre bem" no "Gambrinus", recorda hoje José Brito na grande entrevista ao jornal "i" (manchete em baixo) |