terça-feira, 21 de abril de 2020

Lisboa deserta, máscaras nas caras, olhares desconfiados...

Esta manhã na lavandaria... com todas as cautelas...
A minha cunhada Ana e o meu irmão Nuno esta tarde aqui no Campo Pequeno
Avenida Sacadura Cabral desaguando na Avenida de Roma
Falta a vida numa Avenida de Roma deserta...
Avenida Óscar Monteiro Torres, Av. Roma
O velho Cinema Roma, hoje Assembleia Municipal de Lisboa
O jardim que tem o nome do saudoso jornalista Fernando Pessa, mesmo ao
lado do antigo Cinema Roma
Avenida de Roma, esta manhã
Cruzamento da Av. Roma com a Av. João XXI
Avenida João XXI
Antiguidades, pastelarias, lojas e restaurantes chineses fechados na Av. João XXI
Entre a Av. Óscar Monteiro Torres e a Sacadura Cabral, ruas vazias, bicicletas
na varanda...
Campo Pequeno, uns corredores, uns transeuntes...
O campo de jogos do jardim do Campo Pequeno, onde nunca mais se jogou à bola
Campo Pequeno: Caixa-Geral de Depósitos e Palácio das Galveias (Biblioteca
Municipal)


A vida continua adiada e as voltas pela cidade deserta fazem mesmo sentir que alguma coisa mudou, eu diria mesmo que talvez já nada vá ser igual ao que era. Há máscaras nas caras, não se vêem mais os sorrisos. E há olhares desconfiados...

Miguel Alvarenga - De manhã cedo fui lavar a roupinha, que os tempos das lavadeiras de Caneças que vinham a casa buscar, lavavam e traziam uns dias depois (ainda me lembro dessa prática em casa de meus Avós) são tempos que já lá vão. Hoje a lavadeira sou eu... E a lavandaria aqui da Avenida Sacadura Cabral, onde antigamente se tinha que tirar uma senha e esperar pela vez, hoje em dia está vazia, como a cidade. E há tempo para tudo.
Enquanto a roupa lavava (são 48 minutos e depois mais 15 para secar), dei um giro pela Avenida de Roma e pela Avenida João XXI. Pouca gente nas ruas, mas mais carros que nos primeiros dias da quarentena. Dá a ideia de que as pessoas já começaram a girar mais - o que, se não for feito gradualmente e com todas as prevenções necessárias, pode ainda causar um regresso atrás, aumentar a propagação do vírus e atrasar todo o processo de melhoramento que se espera. Há que ter ainda muitas cautelas.
Hoje saí completamente equipado, mascarado e de luvas, cumprindo as recomendações da Direcção-Geral de Saúde. E desinfectei-me todo quando voltei a casa.
À tarde, ainda dei aqui mais uma voltinha no Campo Pequeno, com o meu irmão Nuno e a minha cunhada Ana. Espaçados uns dos outros, obviamente. Há que ficar em casa, bem sabemos, mas uma volta para arejar e sem tocar em ninguém nem em nada, faz bem ao espírito e interrompe esta "prisão domiciliária" em que nos encontramos já há mais de um mês.
Tenho falado com alguns amigos e alguns amigos têm-me falado também. Hoje, por exemplo, falei com o meu querido e emblemático mestre do toureio a cavalo Luis Miguel da Veiga. Que está óptimo, graças a Deus. Maçado, como todos, pela paragem que todos fomos obrigado a fazer na nossa vida quotidiana, mas esperançado de que isto um dia vai melhorar. Mesmo que não volte a ser igual.
Taurinamente falando, continuamos sem notícias. E também sem perspectivas. Toureiros e empresários já fazem planos para 2021, muitos deles crentes de que este ano já nada de especial se vai passar. Pode ser que ainda haja algumas corridas, lá para Setembro ou Outubro, mas ainda em moldes bem distintos das corridas habituais, isto é, com menos gente nas praças, lugares e filas alternados, todo o mundo "mascarado", ainda com distanciamento e sem cumprimentos sequer. E como assim não tem graça, começo agora a acreditar que touradas a sério só mesmo no próximo ano e, mesmo assim, até haver a vacina, muito diferentes daquelas a que estamos acostumados. É preciso que as pessoas se compenetrem de que a vida não vai voltar a ser igual...
Li ontem à noite, é pequeno, explícito e importante, lê-se num instante, o livro de que vos tinha falado, "Frente ao Contágio", do físico italiano Paolo Giordano, editado pela Relógio D'Água e que está à venda com o jornal "Público" (10€).
Vale a pena ler - porque que nos explica, com conhecimento, lucidez e extrema facilidade de entendimento para um leigo, o momento que estamos a viver, porque aconteceu, como aconteceu, como vai evoluir e como um dia vamos sair dele.
Arrepiou-me uma coisa. Escreve o físico Paolo Giordano, logo no início do livro:
"Estou a escrever num raro dia 29 do mês de Fevereiro, um sábado deste ano bissexto. Os contágios confirmados em todo o mundo já são mais de oitenta e cinco mil, dos quais quase oitenta mil só na China, enquanto o número de mortos se aproxima de três mil. Há pelo menos um mês que esta estranha contabilidade é a música de fundo dos meus dias".
Nesse mesmo "raro dia 29 do mês de Fevereiro" enchemos nós o Campo Pequeno no Dia da Tauromaquia - lembram-se? No fim-de-semana seguinte foi a Feira de Olivença e ainda o festival em Alcochete...
Hoje reconheço quanta inconsciência se viveu e quantos riscos todos corremos nesses acontecimentos... Mas o que lá vai, lá vai e agora nem vale a pena pensar nisso.
Fiquem bem.

Fotos M. Alvarenga