terça-feira, 7 de abril de 2020

Quando ir à lavandaria quebra a rotina da quarentena e quase nos dá a impressão de que fomos viajar a Madrid ou Paris...

Manhã passada na lavandaria da Sacadura Cabral, onde agora só pode entrar
uma pessoa de cada vez. E não entrou ninguém enquanto lá estive a tratar da
minha roupinha...
Polícia esta manhã aqui no Campo Pequeno
Avenida de Roma esta manhã. Passa um autocarro de vez em quando...
Avenida Sacadura Cabral também deserta
Avenida da República sem trânsito nem transeuntes
Tudo igual por aqui, a praça continua exactamente no mesmo sítio...
Grande novidade hoje no "Correio da Manhã". Em baixo, a "Conversa em
Família" com o meu neto Santiago, agora via telemóvel, todos os dias...


Hoje foi dia de ir lavar a roupa. E dar uma voltinha na Avenida de Roma para desanuviar o espírito e a cabeça. Ainda não endoideci, mas começo a estar farto desta "prisão domiciliária". Para isto, ao menos que tivesse morto alguém...

Miguel Alvarenga - O mundo continua em "prisão domiciliária" e embora ainda não tenha endoidecido de vez, confesso que já estou meio farto. Uma pessoa tem a fama e não tem o proveito... Ao menos que estivesse "preso" em casa, com pulseira electrónica (nem isso...), mas que tivesse feito alguma merda que justificasse essa reclusão, morto alguém, por exemplo, assaltado um banco, feito um golpe de Estado, sei lá, qualquer coisa dessas. Agora, assim, por causa dum vírus dos morcegos chineses, é uma estupidez...
E o pior é nunca mais se ver a luz ao fundo do túnel, nunca mais haver perspectivas de quando isto acabará, de quando, em que ano, voltaremos às praças de toiros. Neste, já me custa a crer que isso aconteça. Mas ainda tenho esperança e fé, a ver vamos...
Tenho saudades de andar por aí de Vespa, de ir ver o mar, de me sentar numa esplanada na praia, de tanta coisa boa que de repente nos roubaram. Os morcegos, ainda por cima...
Tenho saudades loucas do meu neto Santiago. Faz amanhã um ano e meio e já pensei se só o volto a ver quando tiver dois ou três, credo! Agora e graças a estas modernices dos telemóveis falamos todos os dias (foto ao lado) pelo WhatsApp (parece-me que é assim que se escreve o nome dessa coisa que toda a gente usa e eu só agora descobri...) e ele farta-se de chamar "Avô! Avô" e mostra-me todas as suas novas habilidades...
Hoje levantei-me cedinho, que é coisa que não tenho feito nesta pasmaceira de vida da chamada quarentena e fui aqui ao lado, à lavandaria da Avenida Sacadura Cabral, que continua aberta, mas agora só lá entra uma pessoa de cada vez. Entrei eu, não estava mais ninguém. Lavar a roupa leva 45 minutos e depois secá-la são mais 15. Ir à lavandaria, hoje em dia, num tempo em que não se faz nada, é quase como ir viajar até Paris ou Madrid, é uma coisa diferente, quebra a rotina, é fantástico mesmo! Quase um luxo.
Pelo meio, dei uma voltinha pela Avenida de Roma, vazia, parece mesmo que "Lisboa partiu p'ra parte incerta", mas Deus queira que não parta mesmo e que os portugueses e sobretudo os lisboetas, às vezes burros que nem uma porta, desta vez sejam disciplinados e entendam de uma vez por todas que quanto mais formos respeitadores das normas que nos foram impostas, mais depressa isto acaba e mais rapidamente voltamos à vida de antigamente, talvez não tão igual à que tínhamos e à que vivíamos, mas pelo menos mais normal.  Deixem lá a Páscoa este ano, que para o próximo há outra. Não saiam de casa.
Esta manhã estava um batalhão de Polícias aqui no Campo Pequeno, mesmo à minha porta. Ainda pensei que me vinham prender, mas não. Não estavam a parar carros nem a interpelar pessoas. Estavam apenas. E é bom que estejam, é bom que a Polícia esteja na rua - para evitar que o povinho também esteja.
Ontem falei por WhatsApp também com o meu querido amigo Enrique Fraga, desde o México, que enviou uma amável mensagem, espécie de saludo aos muitos amigos que tem aqui em Portugal - e que publiquei esta manhã.
O "Correio da Manhã" traz hoje uma grande novidade, diz que o 13 de Maio em Fátima este ano não vai ter peregrinos... e eu a pensar que teria.
Aqui pelo Campo Pequeno está tudo na mesma. Ainda ninguém se lembrou de roubar os barris do restaurante "Carnalentejana" e a praça de toiros - a "nossa casa", que agora é casa de ninguém... - continua exactamente no mesmo sítio...
Enfim, por aqui continuo. Ainda com alguma força e também alguma vontade, quase gasta, para ir escrevendo o "Farpas", até ver...
Fiquem bem.

Fotos M. Alvarenga