Jaime Amante, antigo crítico taurino, ex-toureiro cómico que integrou o famoso grupo espanhol "Bombero Torero", recorda "a festa do sangue", outro tipo de tauromquia que ainda hoje se pratica no Peru
Jaime Amante - A Yawar Fiesta que em português significa “A festa de sangue”, é uma velha tradição cultural que se comemora, desde os tempos coloniais, em muitas comarcas da serra central peruana. O relato mais conhecido sobre a origem desta festa diz que, devido ao padecimento, sofrimento e de maus tratos sofridos pelos comunheiros (habitantes de uma comuna agrícola) por parte dos latifundiários, a cultura indígena peruana criou esta representação simbólica, onde os conquistadores espanhóis são representados pelo toiro e os indígenas e a cultura indígena representada pelo condor.
É no fundo, através da simbologia tauromáquica, a luta entre os antigos indígenas e os ocupadores espanhóis.
Esta manifestação taurina realiza-se ainda hoje nas Estados de Ayacucho, Apurimac e Cusco todos na Cordilheira dos Andes principalmente no dia 28 de Julho - Dia da Independência do Perú.
Tem especial relevo a festa que se realiza na vila de Coyllurqui junto a cidade de Cotabambas na província de Apurimac. Relevante a estátua representativa da Yawar Fiesta erguida no centro da Cidade de Cotabambas.
O festejo taurino
Para o início da festa procede-se à captura do condor andino, através de um processo difícil e que requer algum tempo. O condor é uma ave muito astuta e somente quando comprova que não existe nenhum problema ou perigo desce sobre a sua presa.
Então os populares saem de seu esconderijo e, utilizando os seus ponchos, à maneira de uma rede, empreendem a captura da ave, a qual não pode retomar o voo num espaço tão pequeno.
Simultaneamente procede-se à captura de várias reses bravas (normalmente denominadas reses crioullas) que ainda habitam livremente pela Cordilheira Andina. Na actualidade compram-se reses bravas a ganadarias de prestígio peruanas.
O condor é conduzido cerimoniosamente pelo povo, devido a que este é um animal historicamente sagrado na Trilogia Sagrada da mitologia Inca.
Antes de começar o festejo, o condor é posto sobre o morilho do toiro através de uma cinta.
Nesse momento dá-se início a lide com duas alterações - não há bandarilhas e não se mata esse toiro. A libertação do condor é emocionante, o qual avança até o borde da montanha, abre suas enormes asas e se lança no espaço
Se na cerimónia o condor ficasse gravemente ferido ou chegasse a morrer, era tomado como um mau presságio para toda a comunidade.
A grandeza desta festa/cerimónia, embora romanceada, transformou-se num best-seller do escritor peruano José Maria Arguedas com o título "Yawar Fiesta” (ao lado).
Foi através de algumas ida ao Peru quando integrava o grupo cómico-taurino “Bombeiro Torero” e por indicação do meu amigo, o matador peruano Joaquim Galdós, que li esta obra e tomei conhecimento desta manifestação taurina muito peculiar.
Fotos D.R.