|
João Moura Júnior e Joaquim Grave: duas figuras em grande destaque na corrida que ontem esgotou a praça de Évora e foi mais um momento marcante do enorme esplendor que a tauromaquia está a viver em Portugal |
|
João Moura Júnior marcou ontem toda a diferença e em duas lides distintas, mais técnica a primeira a um toiro mais complicado, de um esplendor sem fim a segundo, a uma bravíssimo Grave de bandeira, reafirmou a sua incontestável liderança do pelotão. 40 anos depois, o novo "Niño Prodígio" está a repetir a História outra vez |
|
Com Francisco Palha e os seus ferros "de triunfar ou morrer", chega sempre o risco, a emoção e o calor às bancadas. E ontem foi assim em Évora |
|
Ir a Évora com os Graves e em competição com Moura e Palha, apenas uma semana decorrida sobre a sua alternativa, foi um acto de coragem e atitude - e não é para todos. Prates tem ainda um longo caminho a percorrer, mas já deixou bem explícito que não chegou aqui para ver andar os outros |
Évora (praça esgotada) explodiu ontem com Moura Júnior, novo "Niño Prodígio" e líder incontestado do pelotão, que uma vez mais marcou a diferença e continuou instalado no trono que ocupa há cinco anos. Francisco Palha não deu outra vez descanso ao número-um e reafirmou também o seu estatuto incontornável de primeiríssima figura. A António Prates louve-se-lhe a atitude de ter ido à guerra com os Graves e em competição com os dois "leões" apenas uma semana depois da alternativa. Os Forcados de Évora tiveram uma tarde para a História. E a ganadaria Murteira Grave um triunfo memorável no seu regresso a esta praça. Foi, em suma, uma das maiores corridas do ano até agora
Miguel Alvarenga - Depois da enfadonha mansada da véspera no
Montijo, a corrida de ontem à tarde em
Évora, data tradicional de
São Pedro, fez, como me dizia o
Hugo Calado, a diferença da noite para o dia. Foi uma corrida das que ficam na História e, sem dúvida alguma, uma das melhores desta temporada.
A praça esgotou. Pelo atractivo cartel que reunia a figura principal do toureio a cavalo,
João Moura Júnior; o mais destacado triunfador da última temporada e aquele que devolveu toda a emoção e o risco à pasmaceira em que tínhamos mergulhado ultimamente,
Francisco Palha; e o jovem
António Prates, que apenas uma semana depois da alternativa teve a atitude de assumir este ousado desafio com toiro da séria ganadaria
Murteira Grave e em competição com estes dois
"leões". Pela
"encerrona" dos
Forcados Amadores de Évora e pelo esperado regresso a esta praça da histórica e carismática ganadaria
Grave. Também pelo notável trabalho levado a cabo pela jovem empresa
Arena Eborense (
António Alfacinha,
Francisco Mendonça Mira,
Carlos Ferreira,
António José Cardoso e
Margarida Cardoso). E ainda pela predisposição com que os aficionados estão este ano de ir aos toiros e de encher as praças. Notável momento de grande fulgor e euforia na Festa de Toiros, como há muitos anos se não vivia.
Os toiros de
Murteira Grave, de apresentação séria, bravos (o quarto foi um toiro de bandeira!), emotivos, a transmitir, a pedir contas, foram a base de uma corrida triunfal e reafirmaram o estatuto de seriedade e de verdade que há
75 anos é apanágio desta fantástica ganadaria.
Os
Forcados Amadores de Évora viveram uma tarde épica e que marcou de forma empolgante. Seis pegas enormes por
Gonçalo Pires (à primeira),
José Maria Caeiro (à primeira),
Miguel Direito (à segunda),
António Torres Alves (à segunda), o cabo
João Pedro Oliveira (à quinta, num verdadeiro acto de coragem, de estoicismo e de grandeza) e
Ricardo Sousa (à primeira). Grupo a ajudar em grande,
Manuel Rovisco a rabejar com poderio. No final, o grupo foi chamado à arena e partilhou com o ganadero (que em mais ocasiões foi ontem aclamado pelo público) uma das grandes ovações da tarde.
João Moura Júnior fez ontem explodir a praça, primeiro com uma lide de grande técnica a um toiro mais reservado e depois com uma das mais empolgantes actuações desta temporada no quarto da ordem, um toiro bravíssimo em qualquer parte do mundo e que foi muito justamente premiado com volta ao ruedo e depois, também, com volta do ganadero
Dr. Joaquim Grave.
Líder incontestado do pelotão, onde se destaca muito à frente, o
"Niño Prodígio" deste século XXI marcou ontem uma vez mais a diferença, culminando num palco tão importante e carismático como o de
Évora uma série de triunfos importantíssimos nesta primeira parte da temporada, depois dos êxitos memoráveis de
Lisboa, de
Santarém e outros e da recente conquista do troféu para a melhor lide nas
Sanjoaninas em
Angra do Heroísmo.
Moura Júnior reafirmou a solidez, a segurança e a tranquilidade que atingiu e o elevaram ao trono do toureio equestre. Ele é hoje, sem sombra de dúvidas, o mais sério competidor de
Hermoso e de
Ventura. Está no mesmo patamar dos dois figurões do toureio mundial. E foi isso mesmo que uma vez mais a todos disse ontem em
Évora.
A segunda lide, sobretudo, ao quatro e bravo toiro de
Grave, que iniciou com uma emotiva sorte de gaiola, foi uma obra de imenso esplendor técnico, artístico, de classe e de poder.
João Moura Jr. esteve enorme a lidar, a bregar, a cravar com uma emoção sem fim e, como se tudo isso não bastasse, terminou em glória com a sua nova sorte
"mourina", que fez uma vez, repetiu outra e ainda outra, que o público não o deixava sair da arena.
Euforia total, explosão nas bancadas e depois, uma volta à arena com o forcado, o ganadero e os campinos (que recolheram brilhantemente todos os toiros a cavalo) e ainda uma segunda volta a sós, com o público todo de pé, sem parar de aplaudir o novo Mestre!
Francisco Palha é também, indiscutivelmente, um dos grandes toureiros deste
campeonato. E, por consequência, um dos mais sérios competidores de
Moura Júnior. E ontem em
Évora não deixou, de modo algum, os seus muitos e confirmados créditos por mãos alheias - antes pelo contrário.
A sua primeira lide, ao exigente e muito sério segundo
Grave da tarde, foi uma actuação assombrosa - pela verdade, pelo risco, pela ousadia com que
Palhinha pisou a linha de fogo e cravou ferros daqueles que páram qualquer coração, por mais forte que ele seja. Ele é um verdadeiro herói e, como os heróis, agiganta-se quando entra em praça. E não me canso de dizer que foi graças a
Francisco Palha que a Festa acordou nos últimos anos, tão adormecida que andava no marasmo dos toiros
"de cordel" e das lides cómodas que se repetiam. Ele deu um
abanão nisto tudo,
apertou com todos, foi-se às praças para triunfar ou morrer. E isso fez a diferença e deu a
Francisco Palha a importância que ele hoje tem.
O quinto toiro da ordem era um
Grave "à antiga", difícil, a exigir tudo,
"com teclas", daqueles que não deixam ninguém adormecer na fila e
Palha voltou a estar enorme, com uma lide de luta e emoção - de que saíu outra vez vencedor. Ou seja, triunfador. Tarde também muito importante para
Francisco Palha.
O jovem
António Prates cavalga a alta velocidade para se situar entre os primeiros. Tem ainda um longo caminho a percorrer, muita coisa a rectificar, mas já deu provas - e ontem confirmou-as - de que não chegou aqui para ver andar os outros. Há que louvar a atitude de ter vindo a
Évora com toiros sérios e dois competidores que não facilitam, apenas uma semana depois de ter tomado a alternativa na praça de
Alcochete. É de homem!
É novo, tem ainda cara de menino, e é por isso natural que ainda acuse o peso da responsabilidade sempre que entra em praça, sobretudo estando consciente de que os aficionados têm os olhos postos nele. Isso voltou a acontecer ontem. Alguma precipitação, um ou outro descuido, uma aparatosa colhida que por pouco não acabou com cavalo e cavaleiro dentro da trincheira, mas muita decisão, muito querer, muita vontade e momentos de grande esplendor artístico e ousadia toureira, a pisar terrenos de compromisso, a deixar ferros de grande emoção e muita verdade.
Como aconteceu na alternativa, no segundo toiro, último da corrida, outro
Grave que transpirou bravura,
António esteve mais tranquilo, mais sereno e mais calmo e chegou muito mais ao público pela emoção que em tudo colocou.
Teve, como os companheiros, música nos dois toiros e deu aplaudidas voltas à arena, o público está com ele e espera por ele. Há, repito, um longo caminho ainda a percorrer. Mas
António Prates está no caminho certo, está muito bem montado, sabe o que quer e para onde vai - e vai chegar longe. Não anda na comodidade, não rejeita ganadarias e vai à guerra como os valentes. Deu ontem mais um importante passo em frente.
Muito bem e sem excessos de intervenções todos os bandarilheiros que ontem intervieram nesta grande corrida. Aplausos para
Filipe Cravito e
João Oliveira (quadrilha de
Moura),
Diogo Malafaia e
Jorge Alegrias (quadrilha de
Palha),
Pedro Noronha,
João Viegas e
David Ferreira (quadrilha de
Prates). Estiveram à altura. Aplausos também para os campinos que tão bem recolheram os toiros a cavalo.
Esta memorável corrida, que foi dirigida com a usual competência e aficion por
Agostinho Borges, assessorado pela médica veterinária
Drª Ana Gomes, iniciou-se com a celebração de um respeitoso minuto de silêncio em memória do antigo forcado do
Grupo do Ribatejo,
Vitor Gonçalves, que morreu horas antes na
Lourinhã num acidente de automóvel.
Moura,
Palha e
Prates brindaram ao Dr. Joaquim Grave e o jovem cavaleiro dedicou a sua primeira lide ao
Dr. António Peças, que ontem estava de serviço em
Évora, voltando a ser sinónimo de tranquilidade e segurança para todos os artistas que participarem na corrida e entre os quais, apesar da dureza das pegas, não houve felizmente feridos a registar.
Menos de 24 horas antes, também enchera até às bandeiras a
Monumental do Montijo. Foram duas corridas completamente antagónias - numa não houve toiros e na outra houve e sérios - mas o importante foi terem tido as bancadas emolduradas de tanto aficionado. Há muitos anos que a tauromaquia não vivia um momento tão grande e de tanto entusiasmo. E o resto são cantigas...
Fotos Mónica Mendes