domingo, 30 de junho de 2019

Lágrimas de pai na apoteose do filho

Apoteose de Moura Jr. na praça de Évora comoveu seu pai até às lágrimas


O Maestro João Moura não conseguiu ontem conter as lágrimas pela emoção que viveu e sentiu em Évora, uma das praças marcantes da sua carreira de glória, ao ver a História repetir-se no memorável e explosivo triunfo vivido por seu filho João Moura Júnior na corrida de São Pedro, com praça esgotada, sobretudo no quarto toiro da tarde, um bravíssimo exemplar da ganadaria Murteira Grave que o novo "Niño Prodígio" lidou em ambiente de verdadeira euforia, terminando com três ferros empolgantes na nova sorte "mourina" - que fizeram Évora vir abaixo!

Fotos M. Alvarenga


"Niño Prodígio" deitou Évora abaixo e reafirmou incontestavelmente a liderança!

João Moura Júnior e Joaquim Grave: duas figuras em grande destaque na corrida
que ontem esgotou a praça de Évora e foi mais um momento marcante do
enorme esplendor que a tauromaquia está a viver em Portugal
João Moura Júnior marcou ontem toda a diferença e em duas lides distintas,
mais técnica a primeira a um toiro mais complicado, de um esplendor sem
fim a segundo, a uma bravíssimo Grave de bandeira, reafirmou a sua incontestável
liderança do pelotão. 40 anos depois, o novo "Niño Prodígio" está a repetir a
História outra vez
Com Francisco Palha e os seus ferros "de triunfar ou morrer", chega sempre
o risco, a emoção e o calor às bancadas. E ontem foi assim em Évora
Ir a Évora com os Graves e em competição com Moura e Palha, apenas uma
semana decorrida sobre a sua alternativa, foi um acto de coragem e atitude - e
não é para todos. Prates tem ainda um longo caminho a percorrer, mas já deixou
bem explícito que não chegou aqui para ver andar os outros


Évora (praça esgotada) explodiu ontem com Moura Júnior, novo "Niño Prodígio" e líder incontestado do pelotão, que uma vez mais marcou a diferença e continuou instalado no trono que ocupa há cinco anos. Francisco Palha não deu outra vez descanso ao número-um e reafirmou também o seu estatuto incontornável de primeiríssima figura. A António Prates louve-se-lhe a atitude de ter ido à guerra com os Graves e em competição com os dois "leões" apenas uma semana depois da alternativa. Os Forcados de Évora tiveram uma tarde para a História. E a ganadaria Murteira Grave um triunfo memorável no seu regresso a esta praça. Foi, em suma, uma das maiores corridas do ano até agora

Miguel Alvarenga - Depois da enfadonha mansada da véspera no Montijo, a corrida de ontem à tarde em Évora, data tradicional de São Pedro, fez, como me dizia o Hugo Calado, a diferença da noite para o dia. Foi uma corrida das que ficam na História e, sem dúvida alguma, uma das melhores desta temporada.
A praça esgotou. Pelo atractivo cartel que reunia a figura principal do toureio a cavalo, João Moura Júnior; o mais destacado triunfador da última temporada e aquele que devolveu toda a emoção e o risco à pasmaceira em que tínhamos mergulhado ultimamente, Francisco Palha; e o jovem António Prates, que apenas uma semana depois da alternativa teve a atitude de assumir este ousado desafio com toiro da séria ganadaria Murteira Grave e em competição com estes dois "leões". Pela "encerrona" dos Forcados Amadores de Évora e pelo esperado regresso a esta praça da histórica e carismática ganadaria Grave. Também pelo notável trabalho levado a cabo pela jovem empresa Arena Eborense (António Alfacinha, Francisco Mendonça Mira, Carlos Ferreira, António José Cardoso e Margarida Cardoso). E ainda pela predisposição com que os aficionados estão este ano de ir aos toiros e de encher as praças. Notável momento de grande fulgor e euforia na Festa de Toiros, como há muitos anos se não vivia.
Os toiros de Murteira Grave, de apresentação séria, bravos (o quarto foi um toiro de bandeira!), emotivos, a transmitir, a pedir contas, foram a base de uma corrida triunfal e reafirmaram o estatuto de seriedade e de verdade que há 75 anos é apanágio desta fantástica ganadaria.
Os Forcados Amadores de Évora viveram uma tarde épica e que marcou de forma empolgante. Seis pegas enormes por Gonçalo Pires (à primeira), José Maria Caeiro (à primeira), Miguel Direito (à segunda), António Torres Alves (à segunda), o cabo João Pedro Oliveira (à quinta, num verdadeiro acto de coragem, de estoicismo e de grandeza) e Ricardo Sousa (à primeira). Grupo a ajudar em grande, Manuel Rovisco a rabejar com poderio. No final, o grupo foi chamado à arena e partilhou com o ganadero (que em mais ocasiões foi ontem aclamado pelo público) uma das grandes ovações da tarde.
João Moura Júnior fez ontem explodir a praça, primeiro com uma lide de grande técnica a um toiro mais reservado e depois com uma das mais empolgantes actuações desta temporada no quarto da ordem, um toiro bravíssimo em qualquer parte do mundo e que foi muito justamente premiado com volta ao ruedo e depois, também, com volta do ganadero Dr. Joaquim Grave.
Líder incontestado do pelotão, onde se destaca muito à frente, o "Niño Prodígio" deste século XXI  marcou ontem uma vez mais a diferença, culminando num palco tão importante e carismático como o de Évora uma série de triunfos importantíssimos nesta primeira parte da temporada, depois dos êxitos memoráveis de Lisboa, de Santarém e outros e da recente conquista do troféu para a melhor lide nas Sanjoaninas em Angra do Heroísmo.
Moura Júnior reafirmou a solidez, a segurança e a tranquilidade que atingiu e o elevaram ao trono do toureio equestre. Ele é hoje, sem sombra de dúvidas, o mais sério competidor de Hermoso e de Ventura. Está no mesmo patamar dos dois figurões do toureio mundial. E foi isso mesmo que uma vez mais a todos disse ontem em Évora.
A segunda lide, sobretudo, ao quatro e bravo toiro de Grave, que iniciou com uma emotiva sorte de gaiola, foi uma obra de imenso esplendor técnico, artístico, de classe e de poder. João Moura Jr. esteve enorme a lidar, a bregar, a cravar com uma emoção sem fim e, como se tudo isso não bastasse, terminou em glória com a sua nova sorte "mourina", que fez uma vez, repetiu outra e ainda outra, que o público não o deixava sair da arena.
Euforia total, explosão nas bancadas e depois, uma volta à arena com o forcado, o ganadero e os campinos (que recolheram brilhantemente todos os toiros a cavalo) e ainda uma segunda volta a sós, com o público todo de pé, sem parar de aplaudir o novo Mestre!
Francisco Palha é também, indiscutivelmente, um dos grandes toureiros deste campeonato. E, por consequência, um dos mais sérios competidores de Moura Júnior. E ontem em Évora não deixou, de modo algum, os seus muitos e confirmados créditos por mãos alheias - antes pelo contrário.
A sua primeira lide, ao exigente e muito sério segundo Grave da tarde, foi uma actuação assombrosa - pela verdade, pelo risco, pela ousadia com que Palhinha pisou a linha de fogo e cravou ferros daqueles que páram qualquer coração, por mais forte que ele seja. Ele é um verdadeiro herói e, como os heróis, agiganta-se quando entra em praça. E não me canso de dizer que foi graças a Francisco Palha que a Festa acordou nos últimos anos, tão adormecida que andava no marasmo dos toiros "de cordel" e das lides cómodas que se repetiam. Ele deu um abanão nisto tudo, apertou com todos, foi-se às praças para triunfar ou morrer. E isso fez a diferença e deu a Francisco Palha a importância que ele hoje tem.
O quinto toiro da ordem era um Grave "à antiga", difícil, a exigir tudo, "com teclas", daqueles que não deixam ninguém adormecer na fila e Palha voltou a estar enorme, com uma lide de luta e emoção - de que saíu outra vez vencedor. Ou seja, triunfador. Tarde também muito importante para Francisco Palha.
O jovem António Prates cavalga a alta velocidade para se situar entre os primeiros. Tem ainda um longo caminho a percorrer, muita coisa a rectificar, mas já deu provas - e ontem confirmou-as - de que não chegou aqui para ver andar os outros. Há que louvar a atitude de ter vindo a Évora com toiros sérios e dois competidores que não facilitam, apenas uma semana depois de ter tomado a alternativa na praça de Alcochete. É de homem!
É novo, tem ainda cara de menino, e é por isso natural que ainda acuse o peso da responsabilidade sempre que entra em praça, sobretudo estando consciente de que os aficionados têm os olhos postos nele. Isso voltou a acontecer ontem. Alguma precipitação, um ou outro descuido, uma aparatosa colhida que por pouco não acabou com cavalo e cavaleiro dentro da trincheira, mas muita decisão, muito querer, muita vontade e momentos de grande esplendor artístico e ousadia toureira, a pisar terrenos de compromisso, a deixar ferros de grande emoção e muita verdade.
Como aconteceu na alternativa, no segundo toiro, último da corrida, outro Grave que transpirou bravura, António esteve mais tranquilo, mais sereno e mais calmo e chegou muito mais ao público pela emoção que em tudo colocou.
Teve, como os companheiros, música nos dois toiros e deu aplaudidas voltas à arena, o público está com ele e espera por ele. Há, repito, um longo caminho ainda a percorrer. Mas António Prates está no caminho certo, está muito bem montado, sabe o que quer e para onde vai - e vai chegar longe. Não anda na comodidade, não rejeita ganadarias e vai à guerra como os valentes. Deu ontem mais um importante passo em frente.
Muito bem e sem excessos de intervenções todos os bandarilheiros que ontem intervieram nesta grande corrida. Aplausos para Filipe Cravito e João Oliveira (quadrilha de Moura), Diogo Malafaia e Jorge Alegrias (quadrilha de Palha), Pedro Noronha, João Viegas e David Ferreira (quadrilha de Prates). Estiveram à altura. Aplausos também para os campinos que tão bem recolheram os toiros a cavalo.
Esta memorável corrida, que foi dirigida com a usual competência e aficion por Agostinho Borges, assessorado pela médica veterinária Drª Ana Gomes, iniciou-se com a celebração de um respeitoso minuto de silêncio em memória do antigo forcado do Grupo do Ribatejo, Vitor Gonçalves, que morreu horas antes na Lourinhã num acidente de automóvel.
Moura, Palha e Prates brindaram ao Dr. Joaquim Grave e o jovem cavaleiro dedicou a sua primeira lide ao Dr. António Peças, que ontem estava de serviço em Évora, voltando a ser sinónimo de tranquilidade e segurança para todos os artistas que participarem na corrida e entre os quais, apesar da dureza das pegas, não houve felizmente feridos a registar.
Menos de 24 horas antes, também enchera até às bandeiras a Monumental do Montijo. Foram duas corridas completamente antagónias - numa não houve toiros e na outra houve e sérios - mas o importante foi terem tido as bancadas emolduradas de tanto aficionado. Há muitos anos que a tauromaquia não vivia um momento tão grande e de tanto entusiasmo. E o resto são cantigas...

Fotos Mónica Mendes

Tarde épica e verdadeiramente magistral na "encerrona" dos Amadores de Évora com 6 toiros de Murteira Grave

Tarde enorme dos Amadores de Évora que ficou personificada na atitude
do cabo João Pedro Oliveira, que fez uma pega histórica à quinta tentativa, mas
também na intervenção de todos os forcados de cara e de todo o grupo no geral
Forcados Amadores de Évora viveram ontem uma tarde épica e verdadeiramente
magistral na corrida de São Pedro na sua praça, encerrando-se num acto de
coragem e que foi também de absoluta consagração com seis duríssimos e
exigentes toiros da ganadaria Murteira Grave, que teve um êxito memorável
no seu regresso a esta praça
A "encerrona" de ontem dos Amadores de Évora arrancou com um pegão de
Gonçalo Pires, à primeira, ao primeiro Grave da tarde
Foi grande a pega de José Maria Caeiro ao segundo toiro da corrida, à primeira
tentativa
Depois de sofrer um violento e altíssimo derrote na primeira tentativa, Miguel
Direito pegou à segunda o terceiro toiro da tarde
O quatro toiro da tarde, um Grave bravíssimo, foi pegado ao primeiro intento e com
enorme poderio e arte por António Torres Alves
O cabo João Pedro Oliveira foi o grande herói da corrida com um pegão à quinta
tentativa, depois de violentos e arrepiantes derrotes em que jamais desarmou.
Forcado de raça e de alma, virou a praça do avesso com esta sua histórica
intervenção na corrida de ontem. No fim não quis dar a volta à arena, mas o
público obrigou-o e acompanhou o cavaleiro Francisco Palha, que no final da
volta se retirou, batendo-lhe as palmas e entregando-lhe o tricórnio, com o
público todo de pé a prestar-lhe uma última e grande homenagem no centro da
arena. Foi uma pega daquelas que ficam na História!
O último toiro foi pegado à primeira por Ricardo Sousa


Miguel Alvarenga - Porque uma imagem (muitas!) vale mais que mil palavras, optei hoje por me abster da habitual e mais aprofundada análise à actuação dos Forcados - os Amadores de Évora, no caso - ontem na grande corrida que esgotou a praça de Évora e onde se encerraram com seis sérios, exigentes e bravos toiros da ganadaria Murteira Grave (toiros para homens de barba rija), que valeram mais que uma chamada à praça do ganadero Dr. Joaquim Grave naquela que foi a corrida do (esperado) regresso da mítica ganadaria àquela praça, tendo o quarto toiro sido premiado com volta à arena.
O Grupo de Forcados Amadores de Évora reafirmou ontem, se dúvidas existissem (e nunca existiram!) que é um dos grandes e principais grupos de forcados nacionais.
Os seis forcados da cara estiveram simplesmente magistrais em quatro pegas à primeira, uma à segunda e uma à quinta - esta, a quinta da tarde, por intermédio do cabo João Pedro Oliveira, um dos maiores forcados dos últimos anos, que foi um autêntico compêndio de arte, de verdade, de poderio e de heroísmo.
Todos os elementos do grupo estiveram acima da média nas ajudas, proporcionando em bloco e num só todo a concretização das seis monumentais pegas que marcaram a tarde de ontem na praça de Évora e Manuel Rovisco, um todo-poderoso a rabejar, reconfirmou todo o seu valor e maestria.
No fim da corrida o grupo teve chamada especial à praça, com o ganadero Joaquim Grave, tributando-lhes o público uma calorosa e demorada ovação.
Fica aqui a grande reportagem de Mónica Mendes - cujas fotos falam por si e dispensam mais comentários.

Fotos Mónica Mendes