sábado, 29 de junho de 2019

Pablo encheu o Montijo: pouca luz na praça e nenhum brilho nos toiros...

Há muitos anos que a Monumental do Montijo não registava uma enchente
como a de ontem à noite. E tudo por obra e graça de Pablo Hermoso de
Mendoza, que ali não toureava há dezasseis anos
Como é que eu saio daqui?...
Público rendido ao esforço, ao profissionalismo e a esse eterno condão que
Luis Rouxinol tem de, até com toiros maus, estar sempre bem!
Os bailados de magia de Pablo Hermoso tornam o difícil fácil e até parece que
os toiros mansos são bravos!
Houve toiros, não houve toiros? Que interesa isso? Houve Pablo e o público todo
aplaudiu-o de pé, numa explosão de euforia!
Toiros "não conheceram o dono"...
Moura Caetano no momento esperado da noite: um ferro com o novo cavalo
"Campo Pequeno"
Com toiros assim tão desinteressados as coisas não ficam fáceis...
O último toiro, como quase todos, passou o tempo à procura de um buraco por
onde se ir embora...
Vinho da Adega de Pegões foi, ao menos, coisa que não faltou. Em baixo, o
forcado triunfador Diogo Amaro com o presidente da Câmara do Montijo


A Monumental do Montijo teve ontem menos iluminação que o costume (tempos de poupança?). Faltou luz à praça e brilho aos toiros. Foi praça cheia até às bandeiras. Tudo de pé a aplaudir Pablo Hermoso. E uma grande pega do pequeno-grande Diogo Amaro. O resto... foi mais ou menos aquilo a que se chama uma desilusão... Os toiros dos Irmãos Moura Caetano são "cães que não conhecem o dono"...

Miguel Alvarenga - É pouco aquilo que tenho a escrever na nocturna de ontem na Monumental do Montijo, que rebentava pelas costuras e registou uma das maiores enchentes dos últimos anos e tudo por obra e graça de Pablo Hermoso de Mendoza, que ali não toureava há dezasseis anos e voltou a arrastar multidões e a provar que é, na realidade, uma força de bilheteira, um "taquillero", como se diz em Espanha.
E é pouco o que tenho a escrever porque, na verdade, foi pouquíssimo o que se passou. Se a expectativa era imensa, a desilusão foi ainda maior. Coisas que às vezes acontecem...
Exageradamente mansos, com apresentaçãozinha razoável, quase todos à procura de um buraco por onde escapar, raramente ligando aos cavalos, os toiros da ganadaria de Irmãos Moura Caetano, ainda com ferro de Maria Guiomar Moura, deram-nos uma seca das antigas. Não transmitiram nada, não deram emoção nenhuma.
Tiveram um nadinha mais de gás os dois do lote de Pablo Hermoso... ou talvez tenha sido ele, com a arte que lhe vai na alma, quem lhes deu essa chama. Num e noutro, mas especialmente no segundo, fez o difícil parecer fácil, deu o seu show de classe e maestria. E não me venham agora dizer que os toiros eram "de cordel". Eram mansos, sim. Mas a verdade é que Pablo até quase transformou a mansidão em bravura e o público aplaudiu de pé, em sintonia e clara unanimidade. Gostou do espectáculo dado pelo rejoneador navarro. Gosta sempre. E Pablo tem o condão de continuar a ser um ídolo da aficion portuguesa. No segundo toiro, deu duas voltas à arena, levando na segunda consigo o forcado (que bastava ter dado a primeira volta...). Foi dele a noite.
Dele e do pequeno-grande Diogo Amaro, forcado de uma alma sem fim e com um par de braços de gigante. Pega empolgante, a que fez ao último toiro da corrida e lhe valeu, muito justa e meritoriamente, o prémio que estava e disputa para a melhor pega da noite.
E foi isto o que ontem aconteceu no Montijo.
Luis Rouxinol, que é um profissionalão de se lhe tirar o chapéu, fez das tripas coração com dois toiros sem a mínima categoria. Valeu a sua entrrega, o seu querer, o fantástico cavalo "Douro" e essa sua garra imensa de antes quebrar que torcer. Para ele não há toiros maus, nem toiros mansos. A segunda actuação foi uma obra de mestre. Faltou toiro, sobrou Toureiro.
João Moura Caetano foi ontem o menos bafejado pelo lote. Os seus toiros foram autênticos "cães que não conhecem o dono". Podia ter tido música no primeiro que enfrentou, pelo esforço que teve em lidar um toiro ilidável. Mas assim não entendeu o director de corrida João Cantinho. No último da ordem, um fugitivo em permanência, ainda exibiu Moura Caetano o seu novo cavalo "Campo Pequeno", mas de pouco serviu frente a um oponente que a única ideia fixa que tinha era pôr-se dali a andar...
Os cabos dos dois grupos montijenses, Márcio Chapa (Tertúlia) e Ricardo Figueiredo (Amadores), pegaram os dois primeiros toiros da noite à terceira tentativa. O terceiro foi pegado à primeira, com emoção, por Marcelo Loia, cabo dos Amadores do Aposento do Barrete Verde de Alcochete.
Na segunda parte, as três pegas foram à primeira: perfeita a de Luis Carrilho, dos Amadores da Tertúlia Tauromáquica; emotiva a do veterano Isidoro Cirne, dos Amadores do Montijo; enorme a de Diogo Amaro, do Aposento do Barrete Verde.
Esperava-se muito e aconteceu pouquíssimo. Pablo Hermoso foi o rei da noite. O público quase esgotou a Monumental do Montijo, mas além da pouca iluminação ainda levou com um balde de águia fria pela cabeça abaixo. Foi uma noitada de desilusão completa. Apenas e só porque não houve toiros...

Fotos M. Alvarenga