sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Moita: corrida dura e toureiros e forcados "por cima"

António Telles lidou "à António Telles" o toiro do Engº Jorge de Carvalho, que
teve som e investidas claras
Luis Rouxinol brilhou com o cavalo "Douro" frente ao toiro exigente de Condessa
de Sobral
Lide de maestria de João Moura Jr. ao toiro de Ascensão Vaz, bem apresentado,
mas algo distraído e que não permitiu um êxito rotundo, apesar do esforço do
cavaleiro e dos grandes ferros que cravou
Transmitiu pouco, mas foi bom o toiro de Passanha e com ele Andrés Romero
aqueceu o ambiente e levantou o público das bancadas, alcançando um grande
triunfo nesta sua reaparição nas arenas depois da nova operação a que foi
sujeito depois de ter actuado em Ronda a seguir à colhida em El Puerto de
Santa Maria
Raça, valor, afirmação e um coração de leão. Lide exemplar e esforçada de Luis
Rouxinol Jr. a um toiro manso e perigoso de Prudêncio. Mas para um jovem
toureiro deste calibre já há muito se percebeu que não existem toiros maus!
Este foi o grande ferro comprido da noite. E nos curtos, António Prates pôs a
praça de pé numa lide brilhante ao toiro de Mata-o-Demo, muito justamente duplo
vencedor - bravura e apresentação - do concurso de ganadarias de ontem à
noite na praça da Moita


O toiro da ganadaria Mata-o-Demo, superiormente lidado por António Prates, ganhou ontem os dois prémios - bravura e apresentação - no concurso da Moita, distinções aque foram merecidas numa corrida marcada pela colhida do fotógrafo Fernando Clemente, pela quase heróica actuação dos Forcados do Aposento da Moita, por uma actuação "de luta" de Rouxinol Jr., brilhante frente a um toiro manso e perigoso de Prudêncio e também por um triunfo notável do rejoneador espanhol Andrés Romero com um bom toiro de Passanha

Miguel Alvarenga - Exceptuando o toiro de Passanha, de nota alta, lidado em quarto lugar e que proporcionou um triunfo marcante ao espanhol Andrés Romero e o toiro de Mata-o-Demo, último da noite e com o qual o jovem António Prates deixou o público em alvoroço, os restantes toiros apresentados ontem a concurso na Moita primaram pela exigência e e por estarem na generalidade bem apresentados, mas não proporcionaram grandes êxitos aos toureiros e não foram fáceis para os forcados. Manso e perigoso foi o de Prudêncio, o que saltou as tábuas e feriu o fotógrafo Fernando Clemente e que deu que fazer a Luis Rouxinol Jr., que esteve brilhante a lidá-lo, a provocá-lo, quase sempre sendo obrigado a cravar a sesgo por o oponente se refugiar nas tábuas.
O primeiro toiro, do Engº Jorge de Carvalho, era um toiro bonito, com mobilidade e com som. António Ribeiro Telles lidou-o com a maestria habitual, esteve em muito bom nível, mas faltou-lhe mais matéria prima para que a lide fosse totalmente brilhante. Esteve "à António Telles" e só isso traduz como foi boa a sua actuação.
Luis Rouxinol enfrentou o toiro de Condessa de Sobral, meio reservado e de investidas menos claras. A lide subiu de tom com o fantástico cavalo "Douro" e o cavaleiro, como sempre, pôs tudo de si numa actuação de muita entrega.
A João Moura Júnior faltou também matéria prima para triunfar como tem triunfado. Lide regular, mas com rasgos de maestria e a mostrar que pode com todos os toiros e para ele não há toiros difíceis, a um exemplar de Ascensão Vaz bem apresentado mas pouco colaborante e distraído.
Com um bom exemplar de Passanha, que não transmitiu muito mas se deixou lidar, o espanhol Andrés Romero foi quem mais aqueceu o ambiente depois de uma primeira parte que decorrera assim-assim. Brindou a sua actuação ao apoderado António Nunes e chegou ao público com uma lide desenvolta e ferros de muita emoção. Cravou mais dois ferros a pedido do público, o que é bem demonstrativo do sucesso que alcançou e pediram-lhe ainda outro, que o director já não autorizou. Dir-se-ia mesmo que se acabara de sagrar triunfador da corrida... mas depois vieram os jovens "guerreiros" Rouxinol Jr. e Prates e não deixaram que fosse só o rejoneador espanhol a levar os louros da noite para casa.
A Luis Rouxinol Jr. coube o toiro perigoso e manso de Prudêncio que nada ligava ao cavalo e depressa procurou a fuga saltando as tábuas e ferindo o nosso companheiro Fernando Clemente. Sem brilho, por não ter toiro, mas com brio pelo esforço e pela entrega, o jovem Rouxinol desenvolveu uma lide de "luta", arriscando, pisando terrenos impossíveis, cravando ferros de enorme emoção e em que pôs toda a carne no assador, evidenciando o bom momento que está a viver e as suas grandes qualidades de bom lidador.
O último toiro era da ganadaria Mata-o-Demo e, pela apresentação, foi aplaudido mal entrou na arena. Depois, demonstrou também bravura e com ele António Prates agigantou-se e começou logo por cravar aquele que foi o melhor ferro comprido da noite, o segundo. Nos curtos, vimos a raça e o valor de um jovem que continua em fase de afirmação, mas que já nos convenceu a todos de que vai chegar longe. Lide empolgante e com a praça de pé.
Os forcados amadores do Aposento da Moita tiveram uma noite heróica e triunfal com toiros que lhes deram que fazer e frente aos quais se viu um grupo coeso e forte e recheado de bons forcados para enfrentar desafios duros.
Ruben Serafim pegou o primeiro da noite à terceira, depois de violentos derrotes nas duas primeiras, fechando-se com decisão; João Ventura foi à cara do segundo toiro e consumou rija pega ao segundo intento, brindada a Luis Fera, o companheiro que se lesionou na tristemente célebre corrida de Julho em Coruche; Martim Cosme pegou à primeira, com a raça e o poderio que lhe conhecemos, o terceiro toiro da noite; o cabo Leonardo Mathias fez um pegão ao quatro toiro; Marco Ventura pegou na sua terceira e enorme tentativa (que foi a quarta) o manso toiro de Prudêncio, que desviou a rota fugindo ao grupo, tendo o forcado aguentado até mais não por duas vezes, depois de uma primeira e dura tentativa de Martim Afonso, que saíu lesionado (sem gravidade); e o valente João Gomes concretizou à terceira, depois de sofrer violentíssimos derrotes nas tentativas anteriores, o último toiro, de Mata-o-Demo, duplo vencedor do concurso.
Em suma, uma corrida dura, tristemente marcada pelo acidente sofrido pelo nosso companheiro Fernando Clemente (ainda em observação no Hospital do Barreiro) e onde toureiros e forcados estiveram, na generalidade, bem por cima dos toiros.
Dirigida competentemente por Ricardo Dias, a corrida de ontem tinha um cartel bem rematado, os atractivos da tradicional encerrona dos forcados do Aposento da Moita e do regresso ao formato do concurso de ganadarias e isso tudo contribuiu, mais o enorme ambiente deixado pela fantástica corrida de terça-feira, para que o público acorresse à praça de Moita - definitivamente recuperada e de novo em alta - e preenchesse três quartos da sua lotação. Mais uma vitória do empresário Ricardo Levesinho - que se aplaude.

Fotos M. Alvarenga