terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Fernando Clemente cinco meses depois do grave acidente na Moita: "O pior já ficou para trás!"


Cumprem-se amanhã cinco meses sobre a fatídica noite em que o repórter Fernando Clemente foi gravemente atingido por um toiro que saltou as tábuas na praça da Moita. Felizmente recuperado, mas ainda com mazelas na coluna pelas lesões que sofreu, vai reaparecer no dia 29 no Dia da Tauromaquia no Campo Pequeno. Estivemos ontem com ele

Miguel Alvarenga - Foi ao balcão do "Galeto", entre duas imperiais (foram mesmo só duas), que ontem à noite Fernando Clemente me voltou a sorrir, cinco meses depois do grave acidente que sofreu na praça de toiros da Moita, quando um toiro saltou as tábuas, ou antes, voou por cima delas, e o atingiu de forma brutal, abrindo-lhe a cabeça e provocando-lhe arreliadoras lesões na coluna, que obrigaram a duas intervenções cirúrgicas e três longos meses de permanência no hospital.
"O pior já ficou para trás...", diz, com a simplicidade que o caracteriza, por fim aliviado das (muitas) horas difíceis por que passou no hospital: "Tenho que estar feliz por estar aqui e não estar numa cadeira de rodas ou morto, porque o toiro podia-me ter esmagado contra a parede".
Nessa noite tínhamos ido juntos de Lisboa, o Fernando deixara o seu carro estacionado no Campo Pequeno e fomos no da Maria João Mil-Homens, jantámos animadamente na "Casa das Enguias", nada faria prever que tudo ia acabar para ele no Hospital do Barreiro e depois no de São José.
"Tanta gente ali e porquê eu? Porque é que isto me haveria de acontecer a mim?", interroga-se. E depois volta a sorrir: "Mas pronto, já passou".
Não deu pelo toiro, estava distraído, lembra-se de tudo?, quis saber. Fernando nunca chegou a desmaiar, esteve sempre consciente e não se cansa de agradecer ao Dr. António Peças, o conhecido médico, que o assistiu e coseu de imediato na enfermaria, "foi uma pessoa incansável, extraordinária, como o foram todos os médicos e todo o pessoal auxiliar que depois me acompanhou no hospital".
E depois voltamos ao dia 12 de Setembro na Moita:
"Não me lembro de nada. Perdi a cara ao toiro, como se costuma dizer, estava distraído a ver na máquina uma foto que acabara de tirar, não me apercebi de nada, só me lembro de ver, bem fixo, o olho do toiro quando ele veio direito a mim. É a única coisa de que me lembro... do olho do toiro".
E acrescenta:
"Depois, estive sempre consciente, vi que me tinha aberto a cabeça, mas não tinha dores nenhumas. Ao meu lado, eu estava meio fora do burladero, estava só um bombeiro, que me puxou para dentro, o toiro podia-me ter esmagado contra a parede. Pronto, graças a Deus já passou tudo e quero muito depressa voltar, sinto-me vivo a fotografar".
Fernando ainda não conduz, "nem sei se o farei tão cedo, ainda me custa a virar o pescoço", mas voltar a fotografar "quero muito": "Não posso acartar com pesos, mas a minha máquina pesa pouco, o pior é a objectiva, posso não conseguir pendurá-la ao pescoço, mas arranjarei forma de fotografar na mesma".
Está a programar ir no dia 28 ao jantar da Tertúlia "Festa Brava" na Azambuja de homenagem ao crítico taurino Joaquim Tapada, "gosto muito dele" e a reaparição a fotografar acontecerá no dia seguinte, o Dia da Tauromaquia no Campo Pequeno.
Cinco meses depois do acidente, Fernando Clemente já faz a sua vida normal. Anda de metropolitano e de autocarro, visita a mãe todos os dias em Benfica, já tem tido jantares e almoços com amigos e diariamente passa pelo Hospital Curry Cabral, onde anda a fazer as sessões de fisioterapia.
"Tem sido um processo moroso e demorado, ainda falta algum tempo para que fique a cem por cento do pescoço pelas lesões que sofri na coluna, mas o pior já está passado, felizmente. E obrigado a todos os que me telefonaram e se preocuparam comigo durante todos estes meses!", termina.
Pronto para outra não está, porque a última coisa que quer na vida é que lhe volte a acontecer uma coisa igual, mas "estou vivo e não estou numa cadeira de rodas... e isso podia ter acontecido".

Foto M. Alvarenga