Miguel Alvarenga - Demonstrando desunião, os forcados foram ontem os primeiros a falhar, não comparecendo na Monumental do Montijo para assistir à Demonstração de Pegas em que eram os principais protagonistas e acompanhar os seus companheiros. A Associação de Forcados, que, em teoria, os representa, não manifestou o apoio que se exigia ao evento, nem tão pouco convocou os seus associados para uma festa que se pretendia de exaltação e louvor à nobre arte de pegar toiros. O público, por seu turno, também não compareceu. E os toureiros, cavaleiros principalmente, nem vê-los. Temiam, ao que se disse, que a moda pegasse e os empresários (como se isso fosse credível...) passassem a organizar touradas deste tipo, sem eles... Os deuses devem continuar loucos e a festa de ontem no Montijo - que esta tarde se repete, coma segunda eliminatória para apurar os grupos que dia 17 disputarão a final - acabou por ser um tremendo fracasso, uma decepção e uma imagem da pobreza de espírito que reina neste mundo da tauromaquia nacional, tão pequenino e tão mesquinho.
A iniciativa do bandarilheiro Pedro Gonçalves e do empresário João Pedro Bolota, por diferente e ousada, merecia o apoio da aficion - mas não o teve. Faltaram sobretudo aqueles que deviam ter estado. Excepção feita a meia dúzia de forcados e a algumas vedetas de outros tempos - entre os quais Carlos Patrício Álvares "Chaubet", Saramago, Francisco Vassalo (ex-cabo dos Amadores de Azambuja e que ontem exerceu a função de director de corrida) e António Sécio - a Monumental do Montijo não contou ontem com a presença de pegadores de toiros - que pura e simplesmente se estiveram "nas tintas" para ir ali dar o seu apoio, perdendo uma oportunidade única de manifestar a sua força. E o seu carisma. A lição foi triste e as conclusões não podiam ser piores: afinal, que força têm os forcados? Afinal, são os forcados que levam gente às praças, como tantas vezes apregoam? Tretas...
O espectáculo de ontem contou, tal como esta tarde sucederá, com a presença de toureiros espanhóis, dada a ausência de bandarilheiros portugueses, que se negaram a participar, pressionados pelos cavaleiros a cujas quadrilhas pertencem - uma vergonha sem precedentes. Como anteriormente referimos, vieram de Espanha os matadores de toiros Israel Lancho e Paco Ramos e os novilheiros Daniel Muñoz, Julián Simón e Jerónimo Sandovar para apoiar e ajudar os forcados. Louve-se a atitude dos espanhóis, em detrimento da inaceitável e vergonhosa tomada de posição dos toureiros lusos.
Os seis toiros de Dias Coutinho que ontem sairam à arena montijense tinham fraca apresentação e pouca força, o que tirou alguma emoção ao espectáculo e acabou por deitar por terra as expectativas que se haviam gerado em torno do facto de os forcados irem pegar os toiros no seu primeiro estado, sem terem sido bandarilhados ou lidados por cavaleiros. As pegas resultaram pouco emotivas.
Um júri, de que fiz parte juntamente com Carlos Empis, Francisco Costa Montezo, João Pedro Bolota e Mário Guarda, elegeu - e bem, pelo menos com o aplauso geral do público e sem protestos - os grupos da Arruda dos Vinhos (melhor pega da tarde), Arronches e Ribatejo como os triunfadores da tarde de ontem. Pegaram ainda os Amadores do Montijo (que não estiveram nos seus dias) e os de Azambuja. Por ausência dos Forcados da Chamusca, o último toiro foi pegado por uma selecção dos cinco grupos que ontem participaram nesta primeira eliminatória, tendo ido para a cara um elemento do grupo mais antigo, o do Ribatejo.
A festa continua esta tarde na Monumental do Montijo, a partir das 16 horas. Oxalá que com mais público nas bancadas. Porque a iniciativa merece. E os forcados, apesar de desunidos, também.
Todos ao Montijo!
Fotos M. Alvarenga