segunda-feira, 17 de junho de 2019

Santarém: vaia ao ministro Capoulas foi a nota negra de uma tarde de apoteose e praça cheia

O ministro Capoulas Santos assistiu à corrida de ontem em Santarém, ladeado
por Luis Correia Mira e Eduardo Oliveira e Sousa, secretário-geral e presidente
da CAP. Em vez de agradecer a presença deste membro do governo, alguns
aficionados preferiram "brindá-lo" com uma vaia quando o Grupo de Santarém
lhe dedicou uma pega. Lamentável falta de delicadeza, de educação e de bom
senso
Quatro dos notáveis elementos da associação Praça Maior, quando Palha lhes
brindou a sua segunda lide. O público explodiu numa das maiores e mais
calorosas ovações da tarde, em reconhecimento pelo brilhante trabalho que
desenvolveram e pela definitiva recuperação de uma praça que tem hoje outra
vez o carisma e o esplendor de outras épocas
Santarém foi pela terceira vez praça cheia, Praça Maior!
Com dois toiros a pedir contas, João Moura Júnior foi ontem um Maestro
e confirmou indiscutivelmente a liderança do pelotão
João Ribeiro Telles vive um verdadeiro momento de sonho e ontem reafirmou
em Santarém toda a sua raça, toda a sua arte e toda a verdade do seu toureio
Reaparição de Francisco Palha ficou marcada pela grande lide ao terceiro
toiro da corrida. No último (foto) esteve uns pontos abaixo do seu melhor,
sem contudo desiludir
António Taurino (Santarém) voltou a fazer um pegão, como o fizera no passado
dia 10
Grande como sempre, João da Câmara pegou com esta garra o segundo toiro
Francisco Graciosa (Santarém) na cara do terceiro toiro
Francisco Bissaya Barreto, que ontem reapareceu depois da colhida de Maio em
Montemor, na pega ao quarto toiro, segunda do Grupo de Montemor
Lourenço Ribeiro (Santarém) na pega ao quinto toiro da tarde; em baixo,
momento empolgante da última pega, por Francisco Borges (Montemor)


Santarém voltou ontem a ser Praça Maior, praça cheia. Terceira (e espera-se que não a última) corrida, a da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), levada a cabo pelo grupo - notável! - de jovens aficionados, quase todos antigos forcados, que lograram levar a bom porto a missão de recuperar a Monumental "Celestino Graça", tendo tido do público, mercê do incansável labor que tiveram, a esperada correspondência. A praça encheu nas três tardes (em Março, no passado dia 10 e ontem outra vez). Foi para eles, quando Francisco Palha se apeou do cavalo e lhes brindou a sua última lide, uma das maiores, mais justas e mais merecidas ovações da tarde.
A corrida de ontem trazia a Santarém o novo Trio da Apoteose - Moura Júnior, João Telles e Francisco Palha. Três dos principais e mais destacados cavaleiros do momento, frente a toiros de Veiga Teixeira - toiros para homens de barba rija. Exigentes, a transmitir a seriedade que é a essência mais pura e desejada desta festa, a complicar, a pedir contas.
João Moura Júnior foi autor de duas lides de assombro, com dois toiros nada fáceis a que impôs a sua maestria, reafirmando indiscutivelmente a liderança do pelotão. As duas "mourinas", por que toda a gente agora espera, com que encerrou esta sua apoteótica e marcante passagem pela "Celestino Graça", deixaram tudo e todos em alvoroço.
João Ribeiro Telles foi ontem bafejado pelo melhor lote, o seu segundo toiro, sobretudo, quinto da ordem, foi um toiro de bandeira. E teve pela frente um toureiro que se agigantou e confirmou o momento alto - altíssimo - que está a viver, voltando a empolgar e a galvanizar com ferros cravados a pisar a linha de fogo, os terrenos da verdade.
Francisco Palha reaparecia depois da colhida em Salvaterra. E voltou em grande, com a atitude e a vontade de sempre, o espírito heróico com que sai todas as tardes a uma arena - para triunfar ou morrer (acreditem, que não é exagero). Recebeu os dois toiros sem bandarilheiros em praça, com duas portas gaiolas das que assustam. Esteve brilhante e "à Palhinha" com o seu primeiro toiro. Menos feliz com o segundo, mas sem que isso queira dizer que esteve mal. Apenas andou uns pontos abaixo do seu melhor. E reconheceu-o, quando no fim recusou a volta e entregou o tricórnio ao forcado.
Tarde grande e dura para os valentes forcados de Santarém e de Montemor. Grandes pegas do grupo anfitrião por intermédio de António Taurino (à terceira), Francisco Graciosa (à primeira) e Lourenço Ribeiro (à primeira); e dos montemorenses, por João da Câmara (à primeira), Francisco Bissaya Barreto (à primeira) e Francisco Borges (à segunda), com uma ajuda enorme de António Cortes Pena Monteiro, que também deu volta à arena.
O ganadero António Francisco da Veiga Teixeira foi premiado com volta à arena no último toiro, não propriamente por esse toiro, presumo que a decisão do director de corrida Lourenço Luzio teve mais a ver com a seriedade geral dos seis toiros. A volta, tinha-a merecido muito mais no quinto toiro.
Assistiu à corrida, acompanhado pelos dirigentes da CAP, o secretário-geral Luis Mira e o presidente Eduardo Oliveira e Sousa, o ministro da Agricultura, Capoulas Santos. Alguns aficionados vaiaram-no quando o Grupo de Santarém lhe brindou a terceira pega da tarde. Foi, lamentavelmente, uma falta de delicadeza - e de educação. E de bom senso, também.
Pode-se não gostar do governo socialista, pode-se não gostar deste regime, mas quando passamos a vida a bradar aos céus porque os governantes não vão aos toiros, a começar pelo presidente da República, e temos depois numa praça um membro do governo a assistir a uma corrida, o importante é agradecer-lhe por ter vindo. E não brindá-lo com uma vaia. Lamentável a todos os títulos. Continuamos eternamente a fazer tudo ao contrário. É preso por ter cão e preso por o não ter.
Os aficionados (alguns, não todos, felizmente) fizeram ontem uma triste figura. Que pena.

Durante o dia de hoje não perca a análise detalhada de Miguel Alvarenga e todas as fotos da corrida de ontem: as pegas uma a uma, os Momentos de Glória, os Famosos que encheram a Monumental. E muito mais!

Fotos Mónica Mendes e M. Alvarenga