Cumprindo a tradição, o público correspondeu à seriedade e à dignidade da organização de Simão Comenda e Paulo Vacas de Carvalho e Montemor foi ontem, outra vez, praça cheia! |
Vitor Ribeiro pôs a carne no assador com os dois mais reservados toiros da corrida e não foi por isso um mero espectador da tarde de apoteose de Moura e Palha. Ele também esteve lá! |
João Moura Júnior em tarde grande e a afirmar-se como o primeiro... mas com Palhinha à perna. Duelo e competição... a pedir aquele que seria um dos mano-a-manos mais desejados do momento |
Pedro Borges vestiu-se ontem de forcado pela última vez, pondo termo a uma carreira de muito valor. Deu uma grande primeira ajuda a seu irmão Francisco, que lhe brindou a sua fantástica pega |
João da Câmara com uma primeira-ajuda portentosa de António Cortes Pena Monteiro, que muito merecidamente o acompanhou na volta à arena com Moura |
A última pega da tarde, a cargo do enorme Francisco Bissaya Barreto, foi um assombro! Mais logo, vamos aqui mostrar as seis pegas ao pormenor |
Moura e Palha voltaram a pisar a linha de fogo, o Grupo de Montemor voltou a ter uma tarde de bradar aos céus. Montemor foi ontem praça cheia outra vez. Houve toiros, houve seriedade e emoção. A festa ali é sempre diferente.
Miguel Alvarenga - Montemor foi ontem praça cheia, sem ter esgotado - o que poderia certamente ter acontecido se a corrida se tem iniciado mais tarde, dado o calor intenso que se viveu no Alentejo e que terá desencorajado alguns aficionados de marcar presença. Mesmo assim, a sombra cheia e o sol bem composto, como as primeiras fotos de cima documentam.
Seriedade e emoção por obra e graça dos seis poderosos toiros de Pinto Barreiros, ganadaria que não lidava nesta praça há sete anos (desde 2011). Toiros exigentes, de excelente apresentação e comportamento variado, com destaque para os dois últimos, os melhores da tarde. No sexto, um toiro bravo e nobre, o director de corrida Agostinho Borges concedeu a volta à arena ao ganadeiro, mas Joaquim Alves de Andrade recusou-a, consciente de que os seus toiros não tinham tido um êxito redondo como o de Lisboa.
João Moura Júnior e Francisco Palha, que já haviam dado um ar da sua graça nos primeiros toiros, protagonizaram os melhores momentos da tarde nos dois últimos. Moura rubricou uma lide perfeita e emotiva, com ferros de muita verdade a entrar pelo toiro dentro e Palha levou o público ao rubro com ferros impróprios para cardíacos, com a sua marca, essa marca com que vem fazendo a diferença. Ambos pisaram a linha de fogo e foram, juntamente com os heróicos Forcados de Montemor, os triunfadores maiores de uma tarde de toiros emotiva e de grande esplendor artístico.
Picaram-se e da picardia entre toureiros nasce sempre a competição e triunfa a emoção. Moura é uma figura consagrada e continua com unhas e dentes a lutar pela permanência no trono. Palha vive o seu momento áureo, inquieta tudo e todos sempre que toureia, está a ser o grande fenómeno desta temporada e não dá tréguas a ninguém, assim como quem diz "agora quem manda aqui sou eu!".
Um e outro estão em alta e ambos têm seguidores distintos. É de toureiros destes que a Festa precisa e são toureiros como estes que a estão a elevar de novo. 2018 fica na História como a temporada do virar de página. Os cavaleiros da nova vaga, que andaram alguns anos a dormir, estão a afirmar-se de uma vez por todas. Ontem em Montemor tanto João Moura Júnior como Francisco Palha voltaram a dizer bem alto que são toureiros da frente. E que, como outros valores da nova geração, estão a lutar todas as tardes para que o toureio a cavalo viva uma nova época de ouro. Se na primeira parte da corrida já tinham "guerreado", na segunda ultrapassaram todos os limites: ao grande triunfo de Moura no quinto toiro, respondeu Palha com uma lide de parar corações no sexto. Rebentaram a escala.
Vitor Ribeiro, com dois toiros mais reservados, pôs a carne no assador e esteve ao nível em que tem estado desde que reapareceu, sobretudo no quarto toiro da tarde, prosseguindo a sua caminhada na reconquista do lugar que lhe compete e onde já esteve.
Como sempre acontece nesta data, os Forcados Amadores de Montemor pegaram os seis toiros em solitário. E também como vem sendo tradição, obtiveram ontem um triunfo de bradar aos céus com seis grandes pegas.
O cabo António Vacas de Carvalho fez uma pega valente ao primeiro toiro, à segunda tentativa, depois de pouco ter recuado na primeira e ter sofrido um fortíssimo e alto derrote.
Para a cara do segundo toiro foi o consagrado Francisco Borges, que fez um pegão à primeira, com a sua arte, o seu valor e a sua técnica, brindada a seu irmão Pedro, que ontem se despediu das arenas, após valorosa e destacada carreira em que se destacou sobretudo como um eficiente forcado a dar ajudas. Os dois deram volta à arena com Moura e depois Pedro Borges ficou sózinho no centro a receber a última grande ovação do público.
Manuel Ramalho brindou a terceira pega da tarde a Manuel Laurentino da Silva, antigo forcado do grupo, consumando com galhardia e grande decisão à primeira.
A quarta pega foi executada também ao primeiro intento por António Calça e Pina, que aguentou um forte derrote para baixo, fechado com braços de ferro na cara do toiro.
João da Câmara pegou o quinto toiro com a garra que lhe é peculiar, também à primeira e com uma grande ajuda de António Cortes Pena Monteiro, que depois o acompanhou, merecidamente, na volta à arena. A pega foi brindada a Luísa Freixo da Veiga, Mulher de Luis Miguel da Veiga (a quem Francisco Palha dedicou a sua primeira lide), a recuperar de um recente acidente de automóvel.
A última pega foi um assombro. Na cara do toiro esteve o experiente Francisco Bissaya Barreto, um forcadão de se lhe tirar o chapéu. Depois de sofrer um derrote na primeira tentativa, consumou
à segunda aguentando uma barbaridade de derrotes e a força de um comboio sem nunca sair.
Honra ao Grupo de Montemor nas seis pegas pela maneira eficaz e coesa com que ajudou. Tarde em cheio e, no final, a calorosa ovação do público com todos os forcados em praça.
Competência e aficion - foi assim que Agostinho Borges dirigiu a corrida de ontem em Montemor, assessorado pelo médico veterinário Dr. Feliciano Reis, ambos antigos forcados dos Amadores de Montemor.
Uma palavra final para os empresários desta praça - Simão Comenda e Paulo Vacas de Carvalho. A culpa não é deles, mas a praça de Montemor é uma das mais incómodas do país. A culpa não é deles, mas a praça não tem luz e por isso as corridas têm obrigatoriamente que se realizar cedo e à torreira do sol. Mesmo assim, fruto do seu trabalho empenhado e sério, da verticalidade e da honradez com que desempenham há anos esta misão, o público acorre à praça e enche-a. Organizam uma só corrida por ano, mas organizam-na tão bem - aqui não há trocas nem baldrocas, toureia quem tem valor e se destaca ao longo da temporada - que têm, há anos, um lugar de honra entre os primeiros e grandes empresários tauromáquicos deste país. E continuam de cabeça erguida. Ontem tiveram mais um triunfo, viveram mais um sucesso. Seria injusto se não os felicitasse, como os felicito todos os anos.
Ao longo do dia de hoje, não perca: todas as fotos de Emílio de Jesus e Maria João Mil-Homens - os Momentos de Glória, as pegas uma a uma, os Famosos que encheram Montemor... apesar do insuportável calor.
Fotos M. Alvarenga