segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Montijo: triunfou Telles, ganhou Rouxinol e houve uma pega de José Pedro Suissas para a História!

A histórica pega de José Pedro Suissas, dos Amadores do Montijo, à quinta,
sempre mal ajudado, valeu por ele - e foi um monumento!
Toiros de Paulino da Cunha e Silva foram ossos duros de roer... Este, o primeiro
da tarde, foi o maior, com 615 quilos!
João Ribeiro Telles pisou a linha de fogo e no quarto toiro da corrida assinou
a melhor e mais emotiva lide da tarde de ontem no Montijo... mas o prémio
foi parar a outras mãos...
Francisco Palha (aqui, com o heróico forcado José Pedro Suissas) defendeu ontem
o trono - e nada se alterou. Grandes ferros de parar corações, sobretudo, no
quinto toiro da tarde
Momentos da lide deslumbrante de Luis Rouxinol Jr. ontem no sexto toiro da
corrida do Montijo. Vencedora do prémio. Em baixo, o cavaleiro com o grande
forcado Hélder Parker, do Grupo de Tomar, vencedor do prémio para a melhor
pega


Uma pega heróica de José Pedro Suissas, dos Amadores do Montijo, apesar de concretizada só à quinta, foi o momento alto da Corrida das Tertúlias, ontem na Monumental do Montijo. O tira teimas entre os cavaleiros foi ganho por Luis Rouxinol Jr., mas João Telles (melhor lide da tarde, indiscutivelmente) e Francisco Palha também mereciam o prémio... Coisas e loisas da sempre atribulada atribuição de troféus. Valerá a pena insistir?...

Miguel Alvarenga - Luis Rouxinol Jr. ganhou ontem no Montijo o troféu - decidido pelas tertúlias, que compunham o júri - para a melhor lide. Quase ninguém protestou. O jovem Rouxinol protagonizou uma lide soberba no sexto toiro. Mas João Telles e Francisco Palha não lhe ficaram atrás nas lides da segunda parte. Valerá a pena insistir nesta história de atribuir prémios... quase sempre discutível e que nunca agrada a gregos e a troianos?
Não retirando valor de modo algum à grande lide do jovem Rouxinol, que está a marcar esta temporada com sucessivos êxitos (e prémios conquistados) que lhe conferem uma maturidade apurada e um estatudo de triunfador, ontem o prémio, se houvesse justiça, tinha que ser entregue aos três cavaleiros. E tenho dito.
No que à melhor pega diz respeito, o prémio foi entregue ao valente Hélder Parker, dos Amadores de Tomar, pela brilhante concretização, ao primeiro intento, também no último toiro da tarde (que já era noite). Mas o momento alto da corrida foi, sem dúvida, a pega do quinto toiro, concretizada à quinta tentativa pelo heróico José Pedro Suissas, forcado dos Amadores do Montijo, que nas cinco vezes aguentou uma barbaridade de derrotes e nunca virou a cara, sempre a mesma galhardia, sempre a mesma decisão e a enorme valentia e técnica de um jovem que está a sobressair e não cometo nenhum erro se disser que é um dos grandes forcados da actualidade. Pena, só, estar num grupo onde, como ontem se viu, as ajudas pecam pela eficiência. A pega foi ele e só ele. As ajudas nunca estiveram lá...

Ninguém roubou o trono a Palha

Ontem não se ia propriamente disputar o trono de triunfador da temporada. O tira teimas final... era apenas uma forma publicitária de promover a corrida. É certo que João Ribeiro Telles, apesar de este ano ter toureado menos em Portugal, triunfou nas praças por onde passou e, à semelhança do ano passado, continua a ser um dos cavaleiros mais destacados desta temporada. É certo que Luis Rouxinol Jr. é um cavaleiro que está todos os dias a subir degraus e que também tem marcado com notáveis triunfos a esmagadora maioria das corridas em que tem participado. Mas é mais certo ainda que Francisco Palha atingiu este ano um patamar de onde tão cedo não acredito que o vão destronar. O trono da temporada é dele - e continou a ser dele depois da corrida de ontem. Isso não estava em causa.
João Ribeiro Telles deu ontem a cara e o corpo ao manifesto, como sempre, na lide do primeiro toiro da tarde, com 615 quilos, o maior da corrida, algo reservado e distraído. Lide de muita entrega, a pôr a carne no assador, conseguindo ferros de grande emoção.
Mas a grande actuação de Telles foi no quarto da ordem, um toiro sério e exigente, que impôs respeito e seriedade e ao qual o toureiro respondeu com uma lide de grande mérito e muita arte, pisando a linha de fogo, arriscando, cravando com arrepiante emoção e lidando com o maior dos aprumos.
Uma actuação centrada e redonda, com a qual o público só vibrou quando já na recta final João cravou um fantástico "violino". Talvez fosse do calor, talvez fosse de outra coisa qualquer, mas a verdade é que os aficionados montijenses não deram o devido valor, que se impunha, à lide deslumbrante de Telles, que foi, para mim, a melhor e mais conseguida de toda a corrida. Foi, a meu ver, também, a melhor lide de João Telles este ano em Portugal. Merecedora de prémio em qualquer praça do mundo. Inteiramente merecedora do troféu que ontem estava em disputa. Esta sim!
Francisco Palha esteve no Montijo decidido e com atitude, a defender o já referido trono que é seu por méritos próprios. O segundo toiro da tarde era reservado e "não queria", parava-se na investida. Palha deu-lhe a volta com experiência e saber, subiu o tom da sua actuação nos dois últimos ferros, mas as poucas condições do oponente não lhe permitiram brilhar.
O quinto toiro era duro e muito exigente, sério e brusco na investida. Francisco alcançou momentos de grande emoção nos ferros a entrar pelo toiro dentro e a sair num palmo de terreno... quase sem saída. Ferros que já são a sua grande imagem de marca - como o foram a imagem de marca (e que marca!) de João Salgueiro noutros tempos não muito longínquos. Esteve enorme! Lide, também, inteiramente merecedora do prémio que se disputava. Ou há moral, ou comem todos... E nesta história de dar prémios, há que haver justiça. Acima de tudo - e justiça para todos!
Luis Rouxinol Jr. é, insisto, digo-o desde o princípio, um caso. E vai ser um caso ainda mais sério. Há muito tempo, também, que digo que não há nenhum filho melhor que o pai, mas este para lá caminha a passos largos. É um lutador e por isso mesmo é um vencedor.
Os toiros não foram nada fáceis, pelo contrário. Mas o jovem Rouxinol pode com todos os toiros, está um toureirão, maduro, toureado, experiente e a subir de tarde oara tarde. A primeira actuação deu para entender que estava ali para partir a loiça. A segunda confirmou isso. Depois do triunfo enorme de João Telles e dos ferros de estrondo de Palhinha, Rouxinol veio à praça para "comer tudo". E comeu.
A sua segunda actuação foi um monumento. Bem a lidar, grande a reunir e a cravar em sortes de uma imensa verdade e de uma desmedida ousadia, a levantar o público, galvanizando. Por fim, a cereja no topo do bolo com um ousado par de bandarilhas em sorte frontal e a pisar terrenos impossíveis. Grande!
Mereceu o prémio? Mereceu, sim senhor, mas teria tido muito mais valor e um significado muito mais especial se o mesmo tem sido repartido pelos dois companheiros de cartel. Assim, cheirou a mais do mesmo. E era importante, sobretudo para ele próprio, que o jovem Rouxinol não entrasse pelo mesmo caminho do pai, que a dada altura já era conhecido pelo "papa troféus"...

Toiros duros para forcados 
de barba rija

Duros, brutos, com excelente apresentação, a dar seriedade e emoção ao espectáculo, os toiros de Paulino da Cunha e Silva não foram pêras doces de roer. Bem pelo contrário. Destacou-se, como melhor da corrida, o sexto, mais bravo e com maior nobreza. E se dificultaram a vida aos toureiros e foram demasiado exigentes, mais complicados ainda foram para as pegas. Quando se anunciam toiros deste calibre, há que ter um maior rigor na escolha dos grupos de forcados. Não quero com isto dizer que os de ontem tivessem menos valor, mas que fossem grupos, ao menor, com maior rodagem e mais traquejo. Evitar-se-iam lesões e momentos de aflição que só acontecem, na maior parte dos casos, pela inexperiência e fraca rodagem dos grupos.
Os Amadores da Tertúlia Tauromáquica do Montijo pegaram o primeiro e maior toiro da corrida por intermédio de Luis Carrilho, que me brindou a mim e a Francisco Costa Montezo, meu querido amigo, histórico forcado montijense e antigo cabo dos Forcados Lusitanos. Violentamente derrotado na primeira tentativa, por evidente falta de ajudas, recolheu à enfermaria e foi (mal) dobrado por seu irmão Rodrigo Carrilho, regressando depois à arena, já mais ou menos refeito, para concretizar a pega ao segundo intento, com as ajudas carregadas.
A quarta pega, segunda deste grupo, foi executada à terceira tentativa pelo experiente cabo Márcio Chapa, com boa técnica e muita decisão, depois de, também, nas duas primeiras tentativas, terem falhado as ajudas.
Pelos Amadores do Montijo, igualmente com visível falta de ajudas, pegaram João Paulo Damásio, à primeira, quando o toiro já estava sem forças e com evidentes debilidades; e o enorme (enorme, mesmo!) José Pedro Suissas, à quinta tentativa, numa pega histórica em que valeu só ele. Por cinco vezes esteve grande a citar, a recuar toureando e a fechar-se com uma decisão assombrosa, sem nunca virar a cara, aguentando uma enormidade de derrotes sózinho, só saindo quando já era impossível continuar. As ajudas, o grupo, tá quieto, estiveram sempre ausentes. Este jovem é um dos grandes forcados do momento e é pena estar num grupo assim. Merece muito mais e é, não tenho dúvidas, uma mais valia para qualquer grande grupo de forcados. Tomem nota, senhores cabos: chama-se José Pedro Suissas. E há poucos como ele. Ou me engano muito ou no próximo defeso vai ser protagonista de grande transferência do ano.
Os Forcados Amadores de Tomar foram ontem ao Montijo competir com os dois grupos da terra e limparam aquilo com uma facilidade dos diabos. Duas belíssimas pegas à primeira, frente a dois toiros que, diga-se de passagem, também foram os que menos mal fizeram. Vasco Freitas pegou o terceiro da tarde e para a cara do sexto foi o consagrado Hélder Parker, um forcado de eleição, que se fechou com galhardia e decisão, aguentando a viagem até às tábuas, onde o grupo fechou com coesão. Esta foi a pega vencedora do prémio que se disputava.
Em dia de super calor, insuportável nos sectores de sol, a Corrida das Tertúlias registou ontem uma entrada fraca a rondar a meia casa. O cartel era belíssimo, estava muito bem rematado e exigia uma maior afluência de aficionados. A corrida foi adiada das quatro e meia para a cinco, mas não é uma simples meia-hora que influencia ou faz a diferença num dia de tanta caloraça...
Tiago Tavares dirigiu com rigor e acerto e esteve ontem assessorado pelo médico veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva. Houve por parte do "inteligente" uma boa dose de condescendência e boa vontade, de aficion também, no que respeita aos forcados.
A corrida viu-se, houve seriedade com os toiros e o anunciado tira teimas não modificou muito as coisas nesta altura do campeonato. Palha continua a ser o grande triunfador da temporada, Telles continua na linha da frente como um dos grandes toureiros do momento e Rouxinol Júnior deu mais um passo em frente na confirmação do seu estatuto de triunfador.

Fotos Emílio de Jesus