segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Vila Franca: já ninguém tem pachorra para as brincadeiras com os toirinhos dóceis dessa coisa chamada Murube ou lá o que é...


Depois de uma lide "a brincar" a um Murubesinho simpático e daqueles que
retiram brilho e valor a qualquer lide, João Moura Júnior esteve enorme no
quinto toiro da tarde, o único toiro de verdade lidado ontem a cavalo, da linha
não Murube da ganadaria Ribeiro Telles. Oa ganadeiros João e António Telles
foram muito justamente premiados com volta à arena
João Telles lidou primeiro um Murube em que esteve bem, mas a bondade
do animal retirou brilho ao seu labor...
... e depois esta insignifcante "cabrinha" sem o mínimo trapio, uma vergonha!
António Goes pegou sem dificuldade nenhuma o dócil Murube lidado em
primeiro lugar por João Moura Jr.
O segundo toiro foi pegado à terceira por Pedro Silva (Vila Franca)
António Taurino (Santarém) fez a pega da tarde ao quinto toiro, o único toiro
de verdade dos quatro lidados a cavalo
O toireco não tinha importância, mas foi boa a pega de David Moreira (Vila
Franca), a última da corrida
Faena de sonho de António João Ferreira no terceiro toiro da corrida de ontem.
O seu segundo não tinha ponta por onde se pegar, mas o toureiro fez o que pôde
Arte, valor, entrega, ofício e um brio profissional de bradar aos céus: Nuno
Casquinha
foi, nos seus dois toiros, o triunfador maior da tarde
Joaquim Oliveira, João Martins e João Ferreira: três bandarilheiros trinfadores
da corrida de ontem em Vila Franca. Tiro-lhes o meu chapéu!


A corrida de ontem em Vila Franca teve coisas muito importantes e outras sem importância nenhuma. Já ninguém tem pachorra para os dóceis e bondosos toiros dessa linha, encaste ou coisa chamada Murube ou lá o que é. Moura Júnior esteve magistral no único toiro a sério lidado a cavalo. Ferreira e Casquinha deram a cara como uns heróis nos toiros sérios lidados a pé. Os bandarilheiros Joaquim Oliveira, João Martins e João Ferreira foram também triunfadores da tarde. Muita coisa se provou. E tiraram-se lições. Sem emoção e com toiros de brincar acaba-se depressa com isto. Tenham atenção, senhores!

Miguel Alvarenga - Os matadores de toiros António João Ferreira e Nuno Casquinha foram ontem os heróis da tarde na corrida que assinalava os 117 anos da praça "Palha Blanco". É pena que o toureio a pé continue a não entusiasmar o nosso público e é pena, sobretudo, que não haja sequência. Tourearam os dois no início de Agosto no Campo Pequeno. Só voltaram a ser repetidos ontem, no último dia de Setembro. Na bancada estava outro matador, Manuel Dias Gomes, que esteve o ano parado. As empresas não apostam nas corridas mistas. Mas entende-se. As corridas mistas também não levam ninguém às praças. Vila Franca tinha ontem pouco mais de um quarto das bancadas preenchido. Não chegava a meia casa. E assim não se vai a lado nenhum.
Ferreira e Casquinha enfrentaram quatro toiros sérios, a transmitir verdade e emoção, da ganadaria Ribeiro Telles. De excelente jogo os dois primeiros, complicado o sétimo, duro o último. Nada a ver com os dóceis Murubes lidados a cavalo, a raiar a vergonha e o ridículo.
Na segunda vez que se vestia de toureiro este ano (parece impossível que um diestro assim não actue mais...). António João Ferreira voltou a provar, como aconteceu no Campo Pequeno, que é, na realidade, um grande, um enorme toureiro. Com Casquinha, picou-se nos quites de capote - em que estiveram os dois magníficos. Com a muleta, desenhou uma primeira faena variada e completa, faena de arte, de mando, de entrega, de êxito. Acima de qualquer média.
O seu segundo toiro era distraído, solto e complicado. Ferreira fez o que pôde e a mais não era obrigado. Mas deu a cara, esteve lá.
Nuno Casquinha é um lutador nato, um toureiro de paixão, de entrega. Esteve artista nos tércios de capote, poderoso a bandarilhar os dois toiros (que eram dois tios), mandão com a muleta, espremendo tudo o que os oponentes tinham para dar. Brilhante, sobretudo, a faena ao último toiro, complicadote, mas a que o toureiro deu a volta, dando a cara, provando imenso valor.
Foi uma tarde importante dos matadores - e do toureio a pé. Em fim de temporada, pode não ter valido de nada. Mas valeu pela lição e pelo exemplo - temos bons matadores, o nosso toureio a pé está a ressugir e tem futuro. Terá mesmo? Primeiro que tudo, precisava de ter público, de ter aficionados que vibrassem como outrora. E isso já é outra conversa...
As lides a cavalo ficaram-se pelo triunfo magistral de João Moura Júnior frente ao quinto toiro dos Ribeiro Telles, o único toiro de verdade, da linha espanhola não Murube. Um toiro sério e empenhado, que cresceu ao castigo e impôs a seriedade e a emoção que fazem falta à Festa. Com ele, Moura Júnior esteve simplesmente enorme. Lide brilhante, brega "à Moura", ferros emotivos em terrenos de verdade e muito improviso numa actuação séria e plena de maestria, a marcar por completo a diferença. O público vibrou, aplaudiu de pé, a banda tocou e no final até os ganadeiros João e António Telles acompanharam o cavaleiro e o forcado na mais que merecida volta à arena a consagrar a bravura e a seriedade do toiro. Que contrastou, e de que maneira, com a brincadeira que foram os outros três lidados a cavalo. Brincadeira mesmo.
Estavam nos currais, dizem-me, dois outros toiros da linha espanhola da ganadaria Ribeiro Telles. Optou-se (culpa de quem?) pela lide dos Murubesinhos. O primeiro da tarde, para Moura, tinha 610 quilos mas era escorrido, não tinha cara, e foi uma "cabra tonta", acompanhando o cavalo a trote, mais dócil que um cãozinho de estimação, retirando todo e qualquer brilho à actuação (boa) do cavaleiro. O director de corrida chegou a mandar tocar a banda (porquê?...), mas o público explodiu em protestos e a música calou-se. Foi uma lide a brincar.
O segundo, para João Ribeiro Telles, era outro Murubesinho de estimação, com um pouco mais de chama que o anterior, mas mesmo assim sem transmitir nada. Telles lidou-o bem, mas a lide não teve imprtância nenhuma pela bondade do toirinho.
Em sexto lugar, Telles lidou um toirecozinho pequenino, avacado, sem o mínimo de trapio, uma verdadeira vergonha. Como foi possível sair uma coisa daquelas? Falavam tão mal do Paulo Pessoa de Carvalho e...
Telles até esteve bem, mas a lide foi acompanhada de protestos, de risadas e da revolta do público. Primeiro, o público já não tem a mínima pachorra para os Murubes e para as brincadeiras às touradas. Depois, o público de Vila Franca é demasiado exigente, conhecedor e sério para levar com números destes. Foi ridículo. E foi vergonhoso. Ninguém merece.
João Ribeiro Telles merecia terminar de outra forma a temporada em que comemorou dez anos de alternativa. Não numa brincadeira destas com toiritos de corda a fingir que eram toiros...
Oa forcados de Santarém e de Vila Franca viveram uma tarde com pouca história. António Goes pegou o primeiro Murube com a maior das facilidades e António Taurino brilhou numa grande pega ao único toiro de verdade, o quinto. Foram estes os dois intervenientes pelos Amadores de Santarém, sendo de destacar que a segunda pega foi brindada a Ricardo Castelo, o cabo do Grupo de Vila Franca que se vai despedir das arenas.
Por Vila Franca foram caras Pedro Silva, que sentiu alguma dificuldade em pegar o segundo toiro, consumando à terceira depois de nas tentativas anteriores ter sido sacudido da cara do oponente com violência; e David Moreira, numa boa pega ao toirinho sem importância, brindada a Carlos Grave, antigo cabo do Grupo de Santarém.
João Cantinho foi o director de corrida e feitas as contas, esteve correcto. Concedeu música a Moura na primeira lide sem se entender porquê, mas depressa deu o dito por não dito devido aos fortes protestos da assistência. Não concedeu volta à arena ao quinto toiro, pedida pelo público, mas compensou essa falha com a autorizada volta aos ganadeiros.
Ao início da corrida, foi guardado um minuto de silêncio em memória do antigo cavaleiro Vitorino Marques, que morreu na semana passada.
Resumindo e concluindo, a corrida valeu pela afirmação dos matadores e do toureio a pé, pelo valor de sobra demonstrado pelos nossos bandarilheiros e pela reafirmação de Moura Júnior como o número um da nova vaga. De uma vez por todas, o público aficionado disse não aos toirinhos de brincar. Já chega de Murubes dóceis, já não há a mínima pachorra para essas brincadeiras.
É incrível como se conseguiu, com estes ditos encastes dóceis, retirar a bravura aos toiros. É o mesmo que criar leões, tigres e leopardos para ter em casa, sem fazerem mal. Ou crocodilos que não mordam, que brinquem com as crianças e que tomem banho connosco nas piscinas sem perigo algum...
A brincar, a brincar, se vai atirando a essência da Festa Brava pela pia abaixo...

Fotos Emílio de Jesus