terça-feira, 6 de novembro de 2018

Duarte Pinto, o grande triunfador do Campo Pequeno: "Quero mais, muito mais!"

Lisboa, 9 de Agosto. A noite da glória de Duarte Pinto
Campo Pequeno, 20 de Setembro. O triunfo na merecida repetição
Em Évora, um grande ferro com o cavalo "Oboé"
Os cães, os cavalos, a quinta. O cenário da vida de um toureiro
Com o pai, o grande Emídio Pinto. E o apoderado (há onze anos) Luis Miguel
Pombeiro. "Em equipa que vence, não se mexe", garante Duarte


Grande triunfador da temporada na Monumental de Lisboa, galardoado pelo canal Campo Pequeno TV (venceu, nomeado entre as maiores figuras), Duarte Pinto foi um dos mais destacados cavaleiros de 2018 e na próxima época comemora dez anos de alternativa. Esta foi a temporada da sua consagração definitiva e da "explosão" que há muito ele "ameaçava". Mas os artistas nunca estão satisfeitos e ele confessa-me que "quer mais, muito mais". Tem direito a mais e tem, sobretudo, valor, arte, sentimento e argumentos para alcançar os seus objectivos. É um grande cavaleiro e um toureiro notável. Com a frontalidade e a verdade com que toureia há anos e com que finalmente "explodiu" esta temporada, ei-lo aqui numa grande entrevista - por ele próprio

Entrevista de Miguel Alvarenga

- Duarte, esperavas há muito por uma noite como a de 9 de Agosto no Campo Pequeno?
- Uma noite tão especial e uma actuação tão importante e marcante é sempre um objectivo e algo que trabalhamos para acontecer. Ainda para mais na catedral do toureio a cavalo mundial, com o impacto que teve no público e o carinho que senti nas duas voltas à arena que dei.


- O que mudou depois desse memorável triunfo?
- Mais do que uma mudança no imediato, todo o caminho de evolução e consagração de um toureio faz-se com estas actuações e com estas noites. Aliás, responder um mês depois, na repetição imediata no Campo Pequeno, numa corrida importante e com a dimensão que teve com a despedida do Maestro Padilla, com duas actuações também elas importantes e reconhecidas por toda a aficion, é o caminho e a mudança que eu posso como toureiro realizar.


- Apesar desse êxito, nao marcaste depois presença, como se impunha, em feiras como as da Moita e a de Outubro em Vila Franca. Queres comentar?

- Compreendo a dificuldade que muitas vezes os empresários têm para montar os cartéis e as feiras que pretendem, não é fácil para eles. As feiras da Moita e de Vila Franca são especiais para mim pelo simples facto de já ter conquistado actuações importantes nestas feiras e de sentir que se identificam com o meu toureio e a maneira de o interpretar. Só para dar um exemplo, relembro-me de, pelo menos, três Feiras de Outubro em Vila Franca exigentes, duras, mas muito reconhecidas pela aficion.


- 2018 foi uma temporada de mudança. Os novos cavaleiros deram finalmente o esperado passo em frente e o teu caso foi um deles. Nada vai ser como dantes?
É muito importante que a nova geração avance com força e responda cada dia mais. E como penso que têm muita qualidade, com diferentes interpretações, com estilos diferentes, mas com dimensão e muita qualidade, esse será o caminho para chamar cada vez mais aficionados às praças de toiros.

- Foi também uma temporada de mudança no que diz respeito aos toiros. O púublico vibrou com a emoção do toiro de verdade. Passou o tempo dos toiros “nhoc-nhoc”?
- O Miguel disse e muito bem “a emoção do toiro de verdade”. Duas palavras chaves: emoção e verdade. O toiro como elemento primordial da Festa terá sempre que transmitir medo, emoção, adrenalina e dificuldade. Só assim todos os aficionados podem dar valor ao que os toureiros fazem e vibrar com eles e com as corridas de toiros. Isso faz aficionados e chama cada vez mais aficionados. O contrário penso que não.

- Com quem gostavas de tourear um mano-a-mano e porquê?

- Com muitos toureiros, sinceramente! Parece-me muito injusto estar a nomear um ou outro e deixar de fora muitos outros em que a competição seria também forte. Gostava muito, pelo momento que vivo e pela quadra de cavalos que tenho, de competir mano-a-mano com toureiros da geração mais velha como de outras gerações mais jovens. Penso que vários “duelos” destes também fazem muito bem à Festa.

- A crítica e o público foram unânimes em aclamar-te como grande triunfador da temporada no Campo Pequeno e muitos referenciaram mesmo que a tua actuação em Agosto foi a melhor dos últimos anos em Lisboa. O que sentiste nessa noite?

- Orgulho, muita felicidade e grande honra. Ser considerado o triunfador de uma temporada na principal praça do mundo para o toureio a cavalo é marcante! Com uma actuação tão especial e tão unânime ainda melhor! E, ainda mais marcante para mim, foi o meu pai que, como muitos sabem, é tão importante e fundamental em tudo na minha vida, me ter dito: “Muitos parabéns por esta grande noite e por este impacto, mas, sinceramente, já vi tudo isto e muito mais em várias actuações ao longo das últimas cinco ou seis épocas”! Sem dúvida, marcante para mim!

- Haverá mudanças na tua equipa na próxima temporada ou em equipa que vence não se mexe?

- Em equipa que ganha não se mexe, sem dúvida! Aliás, só para verem, o meu apoderado Luis Miguel Pombeiro está comigo há onze anos seguidos e é uma pessoa que adoro ter ao meu lado. O mesmo acontece com os meus bandarilheiros, caso do Joel Piedade que está connosco desde 2013, a que se juntou este ano o João Ferreira, juntos fazem um trabalho muito importante. Já para não falar dos meus tratadores de cavalos, Silvino e Virgínia (e Fernando), que estão em nossa casa há mais de 45 anos!

- Qual foi o cavalo da tua vida?

- Tenho trabalhado muito ao longo dos anos para ter quadras de cavalos de qualidade e penso que têm sido um dos meus trunfos! Mas destaco dois cavalos marcantes: o “Oboé”, um luso árabe com o nosso ferro, que me colocou num patamar de atenção e muito me ensinou a tourear, muito do que sei foi este cavalo que me permitiu, foram seis épocas fantásticas; e o “Visconde”, um cruzado português do ferro Ortigão Costa, que para minha sorte, ainda faz parte fundamental da minha quadra, já lá vão onze épocas juntos com muitas corridas e muitos toiros toureados. Colocou-me no patamar alto com as suas prestações e actuações tão marcantes, é um cavalo que marca e faz a diferença!

- E qual o cavalo que gostarias de ter na tua quadra?
- 
Tantos! Adoro os cavalos e tentar ao máximo enaltecer as suas virtudes e mais valias. Sinceramente, escolheria tantos, mas posso dar um exemplo: o “Disparate” do Pablo Hermoso, pela qualidade, generosidade, vários tipos de toureio que interpreta, ao longo de várias épocas, e pela confiança que transmite. Gosto de cavalos que são sempre iguais e se pode contar com eles todos os dias perante todas as adversidades.

- 2018 foi também um ano de grande afluência do público às praças. A tauromaquia está em grande?
- Considero que a tauromaquia, no que diz respeito a todos os seus intervenientes, desde toureiros, a cavalo e a pé, bandarilheiros, forcados, ganadarias e todos os outros intervenientes, vive um grande momento. Existe muita qualidade, mesmo muita, e quando a qualidade é elevada, naturalmente a tauromaquia terá força. No entanto é necessário estarmos todos muito atentos, e respondermos de forma intensa e sem margem de dúvida, aos diferentes e mais injustos ataques que a tauromaquia sofre nos últimos anos! É muito importante esta questão!

- Lisboa continua a ser o espelho e o barómetro da temporada tauromáquica nacional?

- O Campo Pequeno, como catedral do toureio a cavalo no mundo, foi sempre e sempre será a base e um foco da temporada. E relembro o exemplo marcante que a empresa deu este ano, não só para mim mas, mais importante, para todos os intervenientes da Festa, ao exigir repetir-me um mês depois da grande noite de Aagosto, numa corrida forte, incentivo ao qual, penso ter respondido ao mesmo nível! Foi uma atitude também ela marcante da empresa!

- Como é o teu dia-a-dia, Duarte? Tens tempo para ler, para ir ao cinema?
- 
Há mais de dez anos que a minha vida passa entre a empresa em que trabalho, a AgroGes, sociedade de estudos e projectos agrícolas, todas as manhãs, e todas as tardes pela quinta com os cavalos até bem tarde. E não deixo de ser um profissional a cem por cento, monto muitas horas todos os dias para me tornar melhor cavaleiro e melhor toureiro. É duro mas tenho a sorte de fazer o que gosto e dou valor a isso todos os dias. Para além disso, gosto muito de fazer de tudo um pouco, desde que seja com quem gosto e seja importante para mim.

- Como vão um dia, no futuro, os aficionados recordar o cavaleiro Duarte Pinto?
- 
Não sou eu quem tem, a meu ver, de responder a essa pergunta… trabalho muito para responder às mais diversas exigências dos aficionados… mas deixo para todos essa resposta.

- Que expectativas e que novidades para a temporada de 2019?

- As expectativas para a próxima época, ainda para mais porque comemoro 10 anos de alternativa, são elevadas tendo em conta as minhas últimas épocas e sobretudo depois deste final de temporada de 2018. Tenho participado, nas últimas épocas, em muitas praças e datas marcantes das temporadas, mas quero mais, muito mais! Quero cada vez mais marcar e conquistar os aficionados com competição e máxima verdade em tudo o que faço!

Fotos Frederico Henriques, Emílio de Jesus e @Duarte Pinto/Facebook