Campo Pequeno, 20 de Setembro. O triunfo na merecida repetição |
Em Évora, um grande ferro com o cavalo "Oboé" |
Os cães, os cavalos, a quinta. O cenário da vida de um toureiro |
Com o pai, o grande Emídio Pinto. E o apoderado (há onze anos) Luis Miguel Pombeiro. "Em equipa que vence, não se mexe", garante Duarte |
Grande triunfador da temporada na Monumental de Lisboa, galardoado pelo canal Campo Pequeno TV (venceu, nomeado entre as maiores figuras), Duarte Pinto foi um dos mais destacados cavaleiros de 2018 e na próxima época comemora dez anos de alternativa. Esta foi a temporada da sua consagração definitiva e da "explosão" que há muito ele "ameaçava". Mas os artistas nunca estão satisfeitos e ele confessa-me que "quer mais, muito mais". Tem direito a mais e tem, sobretudo, valor, arte, sentimento e argumentos para alcançar os seus objectivos. É um grande cavaleiro e um toureiro notável. Com a frontalidade e a verdade com que toureia há anos e com que finalmente "explodiu" esta temporada, ei-lo aqui numa grande entrevista - por ele próprio
Entrevista de Miguel Alvarenga
- Duarte, esperavas há muito por uma noite como a de 9 de Agosto no Campo Pequeno?
- Uma noite tão especial e uma actuação tão importante e marcante é sempre um objectivo e algo que trabalhamos para acontecer. Ainda para mais na catedral do toureio a cavalo mundial, com o impacto que teve no público e o carinho que senti nas duas voltas à arena que dei.
- O que mudou depois desse memorável triunfo?
- Mais do que uma mudança no imediato, todo o caminho de evolução e consagração de um toureio faz-se com estas actuações e com estas noites. Aliás, responder um mês depois, na repetição imediata no Campo Pequeno, numa corrida importante e com a dimensão que teve com a despedida do Maestro Padilla, com duas actuações também elas importantes e reconhecidas por toda a aficion, é o caminho e a mudança que eu posso como toureiro realizar.
- Apesar desse êxito, nao marcaste depois presença, como se impunha, em feiras como as da Moita e a de Outubro em Vila Franca. Queres comentar?
- Compreendo a dificuldade que muitas vezes os empresários têm para montar os cartéis e as feiras que pretendem, não é fácil para eles. As feiras da Moita e de Vila Franca são especiais para mim pelo simples facto de já ter conquistado actuações importantes nestas feiras e de sentir que se identificam com o meu toureio e a maneira de o interpretar. Só para dar um exemplo, relembro-me de, pelo menos, três Feiras de Outubro em Vila Franca exigentes, duras, mas muito reconhecidas pela aficion.
- 2018 foi uma temporada de mudança. Os novos cavaleiros deram finalmente o esperado passo em frente e o teu caso foi um deles. Nada vai ser como dantes?
É muito importante que a nova geração avance com força e responda cada dia mais. E como penso que têm muita qualidade, com diferentes interpretações, com estilos diferentes, mas com dimensão e muita qualidade, esse será o caminho para chamar cada vez mais aficionados às praças de toiros.
- Foi também uma temporada de mudança no que diz respeito aos toiros. O púublico vibrou com a emoção do toiro de verdade. Passou o tempo dos toiros “nhoc-nhoc”?
- O Miguel disse e muito bem “a emoção do toiro de verdade”. Duas palavras chaves: emoção e verdade. O toiro como elemento primordial da Festa terá sempre que transmitir medo, emoção, adrenalina e dificuldade. Só assim todos os aficionados podem dar valor ao que os toureiros fazem e vibrar com eles e com as corridas de toiros. Isso faz aficionados e chama cada vez mais aficionados. O contrário penso que não.
- Com quem gostavas de tourear um mano-a-mano e porquê?
- Com muitos toureiros, sinceramente! Parece-me muito injusto estar a nomear um ou outro e deixar de fora muitos outros em que a competição seria também forte. Gostava muito, pelo momento que vivo e pela quadra de cavalos que tenho, de competir mano-a-mano com toureiros da geração mais velha como de outras gerações mais jovens. Penso que vários “duelos” destes também fazem muito bem à Festa.
- A crítica e o público foram unânimes em aclamar-te como grande triunfador da temporada no Campo Pequeno e muitos referenciaram mesmo que a tua actuação em Agosto foi a melhor dos últimos anos em Lisboa. O que sentiste nessa noite?
- Orgulho, muita felicidade e grande honra. Ser considerado o triunfador de uma temporada na principal praça do mundo para o toureio a cavalo é marcante! Com uma actuação tão especial e tão unânime ainda melhor! E, ainda mais marcante para mim, foi o meu pai que, como muitos sabem, é tão importante e fundamental em tudo na minha vida, me ter dito: “Muitos parabéns por esta grande noite e por este impacto, mas, sinceramente, já vi tudo isto e muito mais em várias actuações ao longo das últimas cinco ou seis épocas”! Sem dúvida, marcante para mim!
- Haverá mudanças na tua equipa na próxima temporada ou em equipa que vence não se mexe?
- Em equipa que ganha não se mexe, sem dúvida! Aliás, só para verem, o meu apoderado Luis Miguel Pombeiro está comigo há onze anos seguidos e é uma pessoa que adoro ter ao meu lado. O mesmo acontece com os meus bandarilheiros, caso do Joel Piedade que está connosco desde 2013, a que se juntou este ano o João Ferreira, juntos fazem um trabalho muito importante. Já para não falar dos meus tratadores de cavalos, Silvino e Virgínia (e Fernando), que estão em nossa casa há mais de 45 anos!
- Qual foi o cavalo da tua vida?
- Tenho trabalhado muito ao longo dos anos para ter quadras de cavalos de qualidade e penso que têm sido um dos meus trunfos! Mas destaco dois cavalos marcantes: o “Oboé”, um luso árabe com o nosso ferro, que me colocou num patamar de atenção e muito me ensinou a tourear, muito do que sei foi este cavalo que me permitiu, foram seis épocas fantásticas; e o “Visconde”, um cruzado português do ferro Ortigão Costa, que para minha sorte, ainda faz parte fundamental da minha quadra, já lá vão onze épocas juntos com muitas corridas e muitos toiros toureados. Colocou-me no patamar alto com as suas prestações e actuações tão marcantes, é um cavalo que marca e faz a diferença!
- E qual o cavalo que gostarias de ter na tua quadra?
- Tantos! Adoro os cavalos e tentar ao máximo enaltecer as suas virtudes e mais valias. Sinceramente, escolheria tantos, mas posso dar um exemplo: o “Disparate” do Pablo Hermoso, pela qualidade, generosidade, vários tipos de toureio que interpreta, ao longo de várias épocas, e pela confiança que transmite. Gosto de cavalos que são sempre iguais e se pode contar com eles todos os dias perante todas as adversidades.
- 2018 foi também um ano de grande afluência do público às praças. A tauromaquia está em grande?
- Considero que a tauromaquia, no que diz respeito a todos os seus intervenientes, desde toureiros, a cavalo e a pé, bandarilheiros, forcados, ganadarias e todos os outros intervenientes, vive um grande momento. Existe muita qualidade, mesmo muita, e quando a qualidade é elevada, naturalmente a tauromaquia terá força. No entanto é necessário estarmos todos muito atentos, e respondermos de forma intensa e sem margem de dúvida, aos diferentes e mais injustos ataques que a tauromaquia sofre nos últimos anos! É muito importante esta questão!
- Lisboa continua a ser o espelho e o barómetro da temporada tauromáquica nacional?
- O Campo Pequeno, como catedral do toureio a cavalo no mundo, foi sempre e sempre será a base e um foco da temporada. E relembro o exemplo marcante que a empresa deu este ano, não só para mim mas, mais importante, para todos os intervenientes da Festa, ao exigir repetir-me um mês depois da grande noite de Aagosto, numa corrida forte, incentivo ao qual, penso ter respondido ao mesmo nível! Foi uma atitude também ela marcante da empresa!
- Como é o teu dia-a-dia, Duarte? Tens tempo para ler, para ir ao cinema?
- Há mais de dez anos que a minha vida passa entre a empresa em que trabalho, a AgroGes, sociedade de estudos e projectos agrícolas, todas as manhãs, e todas as tardes pela quinta com os cavalos até bem tarde. E não deixo de ser um profissional a cem por cento, monto muitas horas todos os dias para me tornar melhor cavaleiro e melhor toureiro. É duro mas tenho a sorte de fazer o que gosto e dou valor a isso todos os dias. Para além disso, gosto muito de fazer de tudo um pouco, desde que seja com quem gosto e seja importante para mim.
- Como vão um dia, no futuro, os aficionados recordar o cavaleiro Duarte Pinto?
- Não sou eu quem tem, a meu ver, de responder a essa pergunta… trabalho muito para responder às mais diversas exigências dos aficionados… mas deixo para todos essa resposta.
- Que expectativas e que novidades para a temporada de 2019?
- As expectativas para a próxima época, ainda para mais porque comemoro 10 anos de alternativa, são elevadas tendo em conta as minhas últimas épocas e sobretudo depois deste final de temporada de 2018. Tenho participado, nas últimas épocas, em muitas praças e datas marcantes das temporadas, mas quero mais, muito mais! Quero cada vez mais marcar e conquistar os aficionados com competição e máxima verdade em tudo o que faço!
Fotos Frederico Henriques, Emílio de Jesus e @Duarte Pinto/Facebook