sábado, 24 de novembro de 2018

Primeiro foi o IVA, agora é o velcro: touradas continuam na ordem do dia

Desde o final dos anos 70 que na Califórnia os toiros são protegidos com um
velcro e não sangram e essa foi a solução encontrada para que as touradas ali
não acabassem


Primeiro era o IVA, agora é o velcro. As touradas continuam na ordem do dia e hoje mesmo voltam a ser manchete no semanário "Expresso". Deputados socialistas propõem touradas "à americana", com velcro que evite o sangue. Anti-taurinos, menos drásticos, admitem que pode ser uma solução. Manuel Alegre diz que "é interessante". E o presidente da PróToiro emite comunicado a dizer que não disse aquilo que o jornal diz que ele disse...

Pedro Delgado Alves, deputado do Partido Socialista, vai apresentar ainda nesta legislatura, ou seja, nos próximos meses, uma proposta de lei para que as touradas em Portugal passem a ser como na Califórnia (Estados Unidos), com velcro nos toiros para evitar o sangue - anuncia hoje em manchete o jornal "Expresso".
"É o meio caminho possível. Retira do espectáculo a dor e o sofrimento desnecessários", justifica o deputado, que está a preparar a proposta com o também companheiro de bancada socialista Tiago Barbosa Ribeiro.
O histórico socialista Manuel Alegre, que sempre tem defendido - e bem - a continuidade do espectáculo tauromáquico, admite que a ideia "é intersssante". E até o deputado do PAN, André Neves, diz que "é uma solução melhor do que a que existe actualmente", frisando que "se os aficionados dizem que não é o sofrimento do animal que os motiva a ver o espectáculo, julgo que não têm como recusar esta solução".
Paulo Pessoa de Carvalho, empresário, antigo forcado e presidente da federação que congrega todas as associações tauromáquicas, a PróToiro, diz que "é claro que prefiro que as coisas continuem como estão" e que "sem sangrar, o comportamento do animal altera-se. Já peguei um toiro com velcro na Grécia e de facto batem com mais força. Duvido que toureiros e ganadeiros aceitem, mas se a tourada tiver de se adaptar a uma nova realidade pode ser uma solução".
Já esta manhã e depois de as declarações de Pessoa de Carvalho terem gerado grande polémica entre os aficionados nas redes sociais, a PróToiro emitiu um comunicado (que publicaremos já a seguir) desmentindo que o seu presidente tenha admitido as "touradas à americana" como uma solução para cá...
Rui Salvador, consagrado cavaleiro tauromáquico que já toureou toiros nesta modalidade do velcro na Califórnia, disse ao "Expresso" que isso "nunca seria viável em Portugal".
"Já estive em praças americanascom mais de oito mil pessoas, aquilo é uma festa enorma, mas não é uma tourada. É uma simulação. Para os emigrantes é mellhor que não ser nada", afirma o toureiro.
Há dois anos, o popular cantor José Cid, que é um grande aficionado à Festa Brava, defendeu, em directo na RTP e quando assistia a uma corrida na Chamusca, como solução para o futuro das touradas em Portugal isso mesmo, o uso do velcro nos toiros, como se faz na Califórnia... e os aficionados chamaram-lhe todos os nomes nas redes sociais...
O velcro nos toiros, para evitar o sangue, foi a solução encontrada na Califórnia no final dos anos 70 quando as autoridades americanas proibiram espectáculos "com sofrimento dos animais". Já este ano e como contaram ao "Farpas" alguns elementos dos Forcados Amadores de Turlock (pioneiro dos grupos de forcado na Califórnia), quando aqui actuaram, voltou a haver uma mais apertada vigilância das autoridades às corridas de toiros, depois de terem existido denúncias de que em algumas praças se utilizavam bandarilhas com um "pequeno ferro" que trespassava o velcro e fazia sangrar os toiros.
O facto de o toiro não sangrar, de nunca chegar a ser farpeado, diz-nos um, conhecido forcado, torna-o "mais potente e mais perigoso" e é sobretudo "mais prejudicial para os forcados", já que chega à pega "inteiro", como se diz na gíria tauromáquica. E isso pode ser um dos argumentos que os taurinos aqui utilizarão para fazer frente à aplicação do velcro.
Por outro lado e segundo um afamado toureiro nos diz, "essa solução pode ser a salvação das touradas e pode até calar de vez os anti. Não devemos ser já, à partida, completamente contra isso. Temos que pensar no futuro e admitir essa possibilidade como a única para que cessem de uma vez por todas os ataques à tauromaquia".
O velcro foi utilizado há uns anos em touradas realizadas no Canadá e na Grécia, organizadas pelos empresários portugueses Manuel dos Santos e Alfredo Ovelha (Canadá) e Manuel Gonçalves (Grécia), em que actuaram cavaleiros, matadores e forcados nacionais.
Luis Testa, deputado alentejano do Partido Socialista que sempre tem defendido a Tauromaquia, diz ao "Expresso" que "o velcro nunca será aceite pelos que defendem as touradas nem pelos que querem a sua abolição", acrescentando que essa solução "retira toda a emoção e a dimensão filosófica do combate igual entre o homem e o animal".
"Será a morte do espectáculo", preconiza o deputado aficionado.
Será?

Fotos D.R. e F. Romero