Ontem não saí à rua, recatei-me. Esta manhã foi só uma saltada, com todas as cautelas e sem contactos com ninguém, à tabacaria do Centro Comercial do Campo Pequeno para comprar jornais e revistas e tirar mais algumas fotos. A rotina da quarentena
Miguel Alvarenga - Os diabéticos não têm insulina nas farmácias, as famílias são agora impedidas de acompanhar funerais de vítimas e apesar dos tempos do covid-19, a prostituição não pára e a famosa Kikas de Santarém continua a receber diariamente dezenas de telefonemas a pedir os serviços das moçoilas - são as notícias do dia nos jornais "Correio da Manhã" e "i".
A "Sábado" de ontem diz-nos como proteger o nosso dinheiro (mas qual, se estamos todos tesos?...) e a "Visão" publicou a biografia de Winston Churchil, "um líder memorável". Já tenho leitura para me entreter em casa.
Notícias taurinas, não há. É tempo para recordar efemérides, umas mais tristes que outras. Hélder Antono, aquele forcado franzino que era um gigante a pegar toiros nos Amadores de Alcochete, morreu há 32 anos na praça da sua terra, quando pega um toiro de Maria Ana Passanha. Miguel Márquez, famoso matador espanho de Fuengirola (Málaga), um especialista de Victorinos, morreu repentinamente há 13 anos e mais logo haveremos de o recordar aqui. E há exactamente 54 anos, a 27 de Março de 1966, a praça do Campo Pequeno foi a eleita pelo matador espanhol Juan García "Mondeño" para fazer a sua reaparição mundial depois de ter deixado a vida de frade, que abraçara dois anos antes no Convento de Caleruega, outra efeméride que o "Farpas" aqui assinalará mais logo.
Aqui pelas bandas do Campo Pequeno, continua a viver-se a calmaria dos últimos dias. Pouca gente nas ruas, mas ainda algumas pessoas, quase todas às compras, mais essa rapaziada que entrega refeirções em casa e anda com umas caixas monstras às costas. Um ou outro sentado nos bancos do jardim, a fazer não se sabe o quê...
Hoje estavam uns repórteres a fazer filmagens e entrevistas às pessoas que passavam à porta do Campo Pequeno. Polícias não vi nenhum. e quem por aqui anda, anda de máscara, a gozar o sol, alguns como se nada se passasse...
Lisboa continua diferente. Como o mundo. À porta do Centro Comercial está um outdoor que diz que "vai ficar tudo bem" e nas paragens de autocarro estão outros a recomendar que nos protejamos.
Enfim, a vida segue igual, que é o mesmo que dizer: diferente.
Fotos M. Alvarenga