quarta-feira, 28 de julho de 2021

Recordando outras "guerras": venha o mano-a-mano Moura/Ventura!

Diego Ventura brindando um toiro ao Maestro Moura

Moura Jr. escreveu carta aberta a Ventura e disse-lhe para
voltar a cara quando se voltassem a encontrar...

Miguel Alvarenga - Amainaram finalmente os ventos e a tempestade parece ter acalmado depois da contenda Diego Ventura/Maestro Moura ter agitado as hostes tauromáquicas durante o último fim-de-semana.

João Moura deu uma entrevista na quinta-feira ao site "Tauronews" onde "puxou pelos galões" de Pablo Hermoso e Ventura para que se dignassem enfrentar "toiros de verdade", como ele o iria fazer no sábado em Évora (Graves) e não toureassem só toiros Murube, que com isso, considerou, estavam "a retirar a emoção ao rejoneio", além de referir que a existência actual de "dois grupos no rejoneio", o de Pablo e o de Ventura, estava a "acabar com a competição".

Diego Ventura sentiu-se atingido na sua honra e dignidade e no sábado, pouco antes do início da corrida em Évora, enviou uma mensagem para o telemóvel de João Moura na qual se excedeu e humilhou mesmo a figura do número-um do toureio a cavalo chamando-lhe "campino".

Moura também se sentiu ofendido e num instante tornou pública a mensagem privada que Ventura lhe enviara. Nas redes sociais - e não só - sucederam-se as mensagens de apoio ao Maestro de Monforte e de condenação a Ventura pela forma "menos educada" com que tratou um homem com idade para ser seu pai e aquele que é a maior figura do toureio equestre e que até há bem pouco tempo referia como "um Deus", "uma referência" e "o 'Manolete' do toureio a cavalo".

No domingo, ainda "a quente", Diego Ventura foi entrevistado pelo mesmo site "Tauronews" e não se redimiu do que escrevera. Antes pelo contrário, disse que mantinha tudo e lembrou que também João Moura "toda a vida toureou toiros Murube", nomeadamente nas suas "encerronas" no Campo Pequeno, referindo mesmo que o Maestro "criara ganadarias Murube em Portugal", apontando as de Maria Guiomar Moura e Francisco Romão Tenório.

Ventura disse que o assunto, por ele, ficava ali encerrado e quanto ao repto que Moura lhe fizeram para um mano-a-mano com toiros de Murteira Grave, aceitou-o: "Pode ser já amanhã, se Moura o quiser, mas em Espanha, porque ele diz que em Espanha é tudo mais fácil...".

João Moura Júnior, por seu turno, saíu a terreiro defendendo o pai e escreveu no Facebook uma duríssima carta aberta a Ventura. Também nas redes sociais, Benito Moura e mais recentemente João Augusto Moura, sobrinhos do Maestro, vieram a público defendê-lo e condenar Ventura pelos termos menos próprios com que se lhe dirigiu.

Depois da tempestade, os ânimos acalmaram. Ventura é o número-um do rejoneio na actualidade. Moura reafirmou sábado em Évora que, mesmo "com 50 quilos a mais", ainda é o primeiro. Os empresários ficaram com a faca e o queijo na mão: quem quiser - e souber - ganhar dinheiro, só tem agora que montar o mano-a-mano Moura/Ventura (em Portugal, claro, e não em Espanha) para que ambos discutam na praça o que nunca deveriam ter discutido fora dela.

A "guerrinha" que os dois protagonizaram não é, contudo, uma coisa inédita. Vale a pena recordar outras guerras entre primeiras figuras do toureio mundial.

A mais célebre ocorreu em 1975 no programa "Directísimo" da TVE, que era dirigido pelo jornalista José Maria Iñigo, quando Paco Camino chamou "muchacho" a Palomo Linares e este o agrediu em directo na televisão.

Uns anos antes, em 1 de Maio de 1965, na praça de Aranjuez, também Paco Camino e Manuel Benítez "El Cordobés" se travaram de razões e chegaram mesmo a vias de facto em plena arena, valendo a intervenção dos bandarilheiros de ambos para os separar. O assunto foi mesmo tema de capa no jornal "El Alcazar", como aqui recordamos. Mas a cena de pugilato acabou depois em abraços e ambos fizeram as pazes no mesmo dia e no mesmo "local do crime".

Posteriormente, no ano de 1985, também o falecido José Maria Manzanares e Vicente Ruiz "El Soro" andaram à estalada na arena de Valência, depois de Manzanares ter feito um quite ao toiro do companheiro.

Como se vê, a contenda entre Ventura e Moura, bem mais pacata que estas e felizmente sem cenas de pugilato, não se tratou de um caso inédito. Toda a vida houve "guerras" entre primeiras figuras. E quase sempre acabaram bem. Como esta vai certamente acabar.

Venha o mano-a-mano! No Campo Pequeno é que era! Onde, recorde-se, Manuel Gonçalves levou a efeito no início dos anos 80 o célebre mano-a-mano entre Domecq e Moura que pôs termo à "Guerra das Esporas" e era disputado ao tempo pelos empresários das principais praças de Espanha - lembram-se?

Fotos Maria Mil-Homens, M. Alvarenga e D.R.


A célebre cena de pugilato entre Paco Camino
e "El Cordobés" em 1965 na praça de Aranjuez
até teve honras de manchete no jornal "El Alcazar"



Momentos da briga televisiva de Palomo Linares e Paco Camino
em 1975 no programa "Directísimo" da TVE


"Manzanares" (pai) e "El Soro" andaram à estalada em
1985 na praça de toiros de Valência...