quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Maestro Moura faz o balanço da temporada: "Aceitei todos os desafios e dei a cara com ganadarias duras!"

Na 43ª temporada como cavaleiro de alternativa (que recebeu em 11 de Junho de 1978 na Monumental de Santarém, das mãos de Mestre David Ribeiro Telles), João Moura deixou escrito que ainda é o Maestro dos Maestros, sobretudo nos memoráveis triunfos que obteve a 24 de Julho em Évora e a 26 de Agosto em Lisboa, no Campo Pequeno, onde foi homenageado. Terminou a sua campanha totalizando 16 actuações e com a certeza de que vai seguir em frente com o objectivo de celebrar os 50 anos de alternativa em 2028! O balanço de 2021 - por ele próprio.

Entrevista de Miguel Alvarenga

- Polémicas e guerras à parte, que balanço se pode fazer da tua temporada de 2021?

- Houve polémicas e houve guerras que considero lamentáveis, mas prefiro lembrar apenas e só todo o lado positivo de uma temporada onde ainda fui capaz de estar à altura do que os aficionados esperam e exigem de mim e onde voltei a sentir o carinho e o apoio que as pessoas sempre me dedicaram em mais de cinquenta anos de carreira e quarenta e três de alternativa. A corrida de Lisboa foi marcante, a praça esgotou a lotação possível e apesar de toda a contestação dos anti-taurinos, que se manifestaram à frente do Campo Pequeno em número muito maior que o habitual, foi uma noite de grande êxito e da qual saí muito satisfeito e ainda mais moralizado para continuar em frente. Foi uma homenagem bonita e que agradeço muito a todos os que a proporcionaram, a começar pelo empresário Luis Miguel Pombeiro e a terminar no público aficionado que encheu a praça, pela primeira vez, depois da pandemia.

- Antes do Campo Pequeno, a temporada já tinha ficado marcada pelo teu grande triunfo em Évora a 24 de Julho e com toiros de Murteira Grave...

- Sim, penso que é importante realçar o triunfo de Évora com toiros Grave e depois o de Lisboa com toiros Veiga Teixeira. Foram duas corridas muito importantes e em que dei a cara com toiros que não são fáceis...

- E isso, sem já teres que provar nada a ninguém...

- Mas continuo a gostar de aceitar todos os desafios. Nunca gostei de perder nem a feijões...

- Isso eu sei, sabemos todos. Outro desafio foi o mano-a-mano com João Telles e com toiros de António Silva a 25 de Setembro em Santarém, quando o João Jr. sofreu o acidente e o foste substituir. Não teria sido uma óptima oportunidade para o Miguel entrar nesse cartel, em vez de ti?...

- O Miguel teve este ano uma belíssima temporada, acho que deu o passo em frente e se consagrou de uma vez por todas. Esteve enorme na nossa corrida em Lisboa e em outras. Mas a empresa de Santarém quis-me a mim para substituir o João e eu não disse que não, fui. Já sabia que não era fácil um mano-a-mano com o "Ginja", que está num momento fabuloso, mas aceitei o desafio...

- Nesse dia, lembras-te, jantámos no "Toucinho" em Almeirim e confessaste-me que tinhas levado "uma banhada do Ginja"...

- E levei! Não estive mal... mas o "Ginja" tem idade para ser meu filho e está num momento importantíssimo, muito mais bem montado que eu, era natural que assim acontecesse...

- Dos cavalos também queria falar. Conseguiste esses triunfos importantes em Évora, em Lisboa e noutras praças sem contares com uma quadra fabulosa...

- Pois. Já não tenho o "Ferrolho", nem o "Importante", nem nenhum dos cavalos dos meus tempos áureos, sei que não estou montado como queria... mesmo assim, fiz o que pude e aconteceu o que aconteceu em Évora e no Campo Pequeno!

- Quem sabe, sabe...

- Mas seria diferente se tivesse uma grande quadra!

- E se fizesses uma dieta... Sei que gostas pouco de falar disso, mas a realidade é que toda a gente diz e reconhece que se perdesses uns bons quilitos e voltasses a ter grandes cavalos... ninguém te agarrava!

- Tenho tentado fazer dieta, tenho que me mentalizar de uma vez por todas para a fazer. Vamos ver se consigo neste Inverno...

- Bom, esperemos que sim. Feitas as contas, satisfeito com a temporada, João?

- Sim, estou satisfeito. Houve esses triunfos de que falámos, voltei a tourear em Espanha e cortei uma orelha em Mérida, e houve outras tardes de triunfo em várias praças. Gostava de agradecer a todos os que estiveram a meu lado nesta temporada, muito em especial ao Luis Miguel  Pombeiro, que, depois de algumas polémicas, teve esse rasgo de vir ter comigo e montar a corrida de 26 de Agosto no Campo Pequeno, que felizmente foi um êxito para ele e para nós. E para a Festa, creio que também foi uma noite importante e de afirmação da tauromaquia. Estou grato a todos os empresários, não vou aqui citar nomes porque me posso esquecer de algum, que continuaram a acreditar em mim e nos meus filhos. O João toureou menos do que se previa, pelo acidente que sofreu no início de Setembro, mas penso que manteve o seu nível elevado. E o Miguel, como disse, deu este ano um importantíssimo passo em frente, penso que as empresas vão contar com ele para os grandes cartéis de 2022.

- Este foi o ano de todos os perigos e de todas as colhidas...

- Sim, infelizmente foi. O António Telles sofreu a colhida em Reguengos quando ia a meio da temporada e a triunfar como sempre. Graças a Deus não foi tão grave como se temia e esperamos todos pelo seu regresso em força no próximo ano. Depois foi o Manuel Telles Bastos, a seguir o meu filho João, embora não tenho sido em praça. E depois o Francisco Palha. Aproveito para desejar a todos eles rápidas melhoras e que voltem em grande na próxima temporada.

- Projectos para 2022?

- Continuar a tourear. Procurar um ou dois cavalos novos. Tentar fazer a dieta...

- E chegar aos 50 anos de alternativa...

- É uma meta que idealizei. Faltam sete anos, mas espero poder ainda tourear e celebrar meio século de alternativa dando a alternativa ao meu filho Tomás. Gostava de conseguir isso!

Fotos M. Alvarenga e Fernando Clemente

"Estou grato ao empresário Luis Miguel Pombeiro pela aposta
que fez na nossa corrida de Agosto em Lisboa e que foi um
êxito para a Festa e para todos!"

Foto Fernando Clemente
Campo Pequeno, 26 de Agosto: dois momentos da lição
de cátedra que marcou a temporada
Lisboa: público de pé a aclamar o Maestro dos Maestros
Triunfal saída em ombros do Campo Pequeno