A primeira corrida das Sanjoaninas/2022, ontem na Monumental da Ilha Terceira, foi um grande e verdadeiro confronto de dinastias. Viu-se a classe do toureio de Pamplona no primeiro toiro, a grandiosidade de Moura no seu segundo do toiro, revelando-se como a lide da tarde, e a irreverência de Bastinhas nos seus dois oponentes. Associado a isso, uma corrida bem apresentada e exigente da ganadaria João Gaspar, junto a uma grande tarde dos forcados Amadores de Montemor (que regressavam à Terceira após 19 anos de ausência) e Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense.
Tiago Pamplona abriu a tarde com uma lide que rapidamente chegou às bancadas, quer pelo desenrolar da actuação, quer pela forma como comunicou com o público. Assim como o seu oponente, o cavaleiro açoriano foi marcando a sua actuação em tom crescente, cravando com acerto a ferragem curta, até culminar a sua actuação com dois ferros de palmo que chegaram facilmente às bancadas.
Frente ao quarto toiro da ordem, não iniciou da melhor forma, e perante o sentido que o seu oponente desenvolveu, acabou por ser uma lide pouco luzida.
Pela dinastia Moura, o cavaleiro João Moura Jr. mostrou uma vez mais que é um dos melhores cavaleiros da actualidade. No seu primeiro toiro, aproveitou a voluntariedade do seu oponente para cravar os primeiros ferros de praça a praça, no entanto, ao arriscar em mudar os terrenos do toiro, numa possível expectativa de estar perante um exemplar verdadeiramente bravo, equivocou-se e o astado de João Gaspar acabou por se fechar em tábuas e dar poucas alternativas ao cavaleiro de Monforte.
No segundo do seu lote, um toiro flavo e chorreado, com tranco e transmissão na investida, o cavaleiro entendeu na perfeição as mais-valias do astado e desenvolveu uma lide que fez levantar a praça por várias vezes, destacando-se na fase final com a execução colossal de uma “mourina” com a cravagem no seu sítio e uma brega verdadeiramente emocionante, com o famoso cavalo “Hostil”, que depois mereceu honras de volta à arena fortemente aplaudida pelo público.
Marcos Bastinhas, nas lides do terceiro e sexto da ordem, fez lembrar o toureio irreverente do seu pai, o eterno Joaquim Bastinhas. Recebeu o seu primeiro toiro à porta dos curros, mas algum desacerto na cravagem dos cumpridos causou algum resfrio que viria a ser compensado com os adornos do seu toureio e na fase final da lide com a cravagem de bons ferros e a brega em terrenos de compromisso que foram bem reconhecidas pelo público.
No seu último toiro, conseguiu chegar às bancadas no seu estilo comunicativo e rematou a sua actuação com um grande par de bandarilhas, desmontando do cavalo logo de seguida bem aos modos das memoráveis actuações do seu pai, Joaquim Bastinhas.
A primeira corrida da Feira Taurina de São João também foi uma tarde notável para os forcados. Entre pegas ao primeiro e o segundo intento, os dois grupos deram distâncias aos toiros e estes arrancaram-se de largo por várias vezes, criando pegas emocionantes que fizeram o público levantar-se da bancada por várias vezes.
Pelos Amadores de Montemor pegaram Bernardo Dentinho ao segundo intento, Francisco Borges à primeira e João Vacas de Carvalho à primeira.
Pelos Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense pegaram Francisco Matos à segunda tentativa, Toni ao primeiro intento e Carlos Vieira também à primeira.
Para que esta tarde de triunfos fosse possível, os toiros da ganadaria João Gaspar corresponderam em seriedade, e, embora tivessem comportamento desigual, evidenciaram casta, algum sentido é certo, mas acima de tudo transmitiram emoção. Seis toiros sérios e bem apresentados. Todos de pelagem flava, à excepção do sexto que era berrendo em negro. Tiveram comportamento desigual, destacando-se o toiro lidado em quinto lugar por João Moura Jr., pelo tranco na investida e pela sua fixidez, e que na volta à arena mereceu a chamada do ganadeiro à praça para saudar ovação do público.
Fotos André Pimentel
Tiago Pamplona triunfou no primeiro toiro da tarde e teve depois uma actuação menos brilhante com o seu segundo |
Marcos Bastinhas protagonizou duas lides empolgantes que levaram o público ao rubro |
A primeira pega, de Bernardo Dentinho (Montemor), à segunda |
A grande pega do histórico Francisco Maria Borges, do Grupo de Montemor, ao primeiro intento |
Primeira pega dos terceirenses, à segunda, por Francisco Matos |
Toni pegou à primeira o terceiro toiro, pelos Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense |
A última pega, ao primeiro intento, pelo Terceirense Carlos Vieira |