domingo, 31 de maio de 2020

Voltámos a ser "comidos por parvos" e parece que ninguém entendeu isso...


Abrem a partir de amanhã as salas de espectáculos e até se vão realizar concertos no Campo Pequeno na segunda e terça-feira e outro no sábado. Mas apesar do incompreensível optimismo dos homens dos toiros, que já embandeiravam em arco com a possibilidade de voltar a realizar touradas, as mesmas continuam proibidas... até ver. Voltámos a ser "comidos por parvos"...

Miguel Alvarenga - Apesar do excessivo e provavelmente impensado optimismo dos homens dos toiros, que interpretaram a reabertura das salas de espectáculos como também a reabertura das praças de toiros; apesar da ministra da Cultura ter afirmado há duas semanas no Parlamento, quando questionada pela deputada centrista Ana Rita Bessa, que a lei "era igual para todos" e quando reabrissem as salas de espectáculos, reabririam também os recintos tauromáquicos; a verdade é que o Governo ainda não deu ordem para que voltem a abrir as praças nesta nova fase do desconfinamento que se inicia amanhã, segunda-feira e termina às 23h59 do próximo dia 14.
A Associação Portuguesa de Empresários Tauromáquicos (APET), presidida por Paulo Pessoa de Carvalho, anunciou ontem em comunicado este novo impasse e afirmou "querer acreditar" que "esta limitação é motivada apenas e só por questões operacionais por parte da Direcção-Geral de Saúde, apesar do enquadramento das praças de toiros enquanto salas de espectáculos estarem a ser uma exclusão".
É óbvio - e parece que ainda ninguém entendeu ou não quer entender - que não se trata de "questões operacionais" da DGS, mas sim, de facto, de uma "exclusão" a que, uma vez mais, estão a votar a Tauromaquia.
As praças de toiros enquadram-se, doa a quem doer, nos recintos e salas de espectáculos que o Governo e a DGS permitiram que reabrissem a partir de amanhã. Com as distâncias devidas entre espectadores, com a menor utilização das lotações das praças e respeitando todas as normas de prevenção ao contágio da covid-19, as corridas de toiros poderiam já realizar-se - da mesma forma que amanhã, segunda-feira, na terça e no sábado, dia 6, se vão realizar três concertos na praça de toiros do Campo Pequeno, com as devidas limitações (apenas 2 mil espectadores em cada espectáculo) e as necessárias precauções (uso obrigatório de máscaras, distanciamento social, etc.).
Os homens dos toiros embandeiraram em arco quando leram as novas normas para a reabertura dos recintos e salas de espectáculos e embora o Governo e a DGS nunca tivessem sido suficientemente esclarecedores quanto às praças de toiros, partiram do princípio e interpretaram que elas se incluiam nos recintos que já vão poder reabrir nesta nova fase de desconfinamento. 
Mas levaram outra vez com um balde de água fria. Chamando os bois pelos nomes, que é há muitos anos uma máxima deste mundo tauromáquico, foram de novo "comidos por parvos"
Afinal reabre quase tudo, há de novo concertos na praça de toiros do Campo Pequeno, vai haver Festa do Avante, voltam os espectáculos nos recintos ao ar livre e até nos fechados e touradas... nada!
Volta a registar-se uma preocupante descriminação ao sector tauromáquico. E a APET continua à espera. E a PróToiro ainda nem sequer tomou posição sobre esta anomalia. E continuam todos (in)felizes e (des)contentes, a aguardar por Julho, depois por Agosto, a seguir por Setembro, até que o Governo se lembre finalmente de que se podem realizar-se concertos também se poderiam realizar corridas de toiros...
Mais preocupante ainda: eu sei, a PróToiro sabe e as associações tauromáquicas também sabem, mas estão todos fechados em copas, que está na gaveta um projecto-lei para ser posto em prática já no próximo ano e que pode castrar de forma dramática - mas talvez lógica - aquilo que todos consideram a essência da Festa de Toiros. Esta proibição discriminatória da reabertura das praças de toiros não tem mesmo nada a ver com alegadas "questões operacionais" da DGS. E muitos sabem disso. Tem muito mais a ver com um fim anunciado das corridas de toiros tal como se processavam há anos e anos. Vai tudo ser alterado. E ninguém está a fazer nada para contestar e inverter esse projecto de lei com que o Governo num futuro próximo vai surpreender tudo e todos.
Assim, meus amigos, não vamos longe.

Foto Maria Mil-Homens