O líder do Chega, André Ventura, vai apresentar hoje na Assenbleia da República um voto de pesar pela morte do Maestro Mário Coelho, que aqui publicamos na íntegra
No passado dia 5 de Julho de 2020, vítima de Covid-19, faleceu no Hospital de Vila Franca de Xira o conceituadíssimo e muito admirado toureiro Mário Coelho, nome grande da tauromaquia nacional e que durante décadas foi um dos maiores embaixadores de Portugal no estrangeiro.
Mário Coelho nasce em Vila Franca de Xira a 25 de Março de 1936 e com apenas 14 anos de idade apresentou-se como amador na praça de toiros "Palha Blanco" (Vila Franca de Xira), corria a Quinta-feira da Ascensão de 1950.
Detentor de uma intuição e qualidades técnicas acima da média, rapidamente prestou provas para praticante de bandarilheiro, o que uma vez mais veio a acontecer na mesma praça em 1955, seguindo-se a tão desejada alternativa de bandarilheiro em 1958 na praça de toiros da Nazaré.
Na classe dos de prata fez parte das quadrilhas de alguns dos maiores e mais importantes matadores de toiros portugueses e espanhóis de onde se contam nomes como Manuel dos Santos, José Júlio e Diamantino Viseu ou Andrés Vásquez, tendo sido apelidado de “maior bandarilheiro do mundo” e tornando-se rapidamente incontornável da sociedade portuguesa, conquistando todos os troféus para a sua actividade no nosso país, e muitos além fronteiras e saindo em ombros das praças de toiros com os matadores, circunstância que até então nunca havia acontecido.
Mas o êxito e o sucesso não ficariam por aqui. Mário Coelho troca a prata pelo ouro e depois de em maio de 1967 debutar como novilheiro na praça de Las Ventas, em Madrid, toma a alternativa de matador de toiros a 25 de Julho do mesmo ano na praça de toiros de Badajoz, tendo como padrinho Julio Aparicio e como testemunha Manuel Cano «El Pireo». Ao longo da sua trajectória de matador, Mário Coelho ombreou com as maiores figuras do toureio como Ordoñez, Ojeda, Palomo Linares ou Dámaso González.
A confirmação da alternativa chegaria anos mais tarde, na Monumental do México em 1975, e depois novamente na Monumental de Madrid a 14 de Maio de 1980 durante a mais conceituada Feira taurina mundial para um matador de toiros, a Feira de Santo Isidro.
A sua vida, que a cada momento se confunde com a História e a grandiosidade da tauromaquia mundial, possibilitou-lhe percorrer quase toda a geografia taurina do globo, tendo vivido em Espanha e no México, mas passando igualmente por França, Marrocos, Canadá, EUA, Angola, Moçambique e América Latina, privando e tornando-se amigo de outros vultos da maior importância citando apenas como exemplos, a actriz Ava Gardner, o pintor Pablo Picasso e os escritores Hemingway e Orson Welles, entre outros.
Em 1990 chegaria o momento que mais custa a um toureiro: o da sua retirada. Mário Coelho viria a despedir-se na praça de toiros do Campo Pequeno naquela que foi uma corrida histórica.
Daí para cá manteve intacta a sua afición e a nobre missão de homem de cultura tendo em 2001 sido aberta ao público a Casa Museu Mário Coelho, na sua Vila Franca de Xira, mais concretamente na morada onde nascera, numa merecida homenagem a um homem bom e que reuniu os apoios da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira em particular pelo empenho da então Presidente da Câmara e hoje deputada à Assembleia da República, Maria da Luz Rosinha.
Em 2005, pelo seu quinquagésimo aniversário de toureio, publicou o livro "Da Prata ao Ouro", (prefácio de Agustina Bessa-Luís) onde estão compilados alguns textos autobiográficos, e já em Fevereiro deste mesmo ano António de Sousa Duarte escreveu a sua biografia, tendo a obra sido apresentada por Manuel Alegre no Campo Pequeno em pleno Dia da Tauromaquia.
De entre os inúmeros troféus com que ao longo da sua vida foi agraciado, destacam-se, naturalmente, a Medalha de Mérito Cultural que a 20 de Setembro de 1990 recebeu do Secretário de Estado da Cultura, a Medalha de Valor Cultural da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, recebida a 10 de Dezembro de 2004, mas sobretudo a condecoração como Comendador da Ordem do Mérito recebida a 23 de Junho de 2005 pelo então Presidente da República Jorge Sampaio, numa altura em que em Portugal os políticos não tinham medo em condecorar um toureiro, porque um toureiro tanto como qualquer outro artista eleva o nome de Portugal por todo o mundo.
Numa sociedade onde a diferença de gosto se respeitava, mas onde variando o gosto a igualdade de importância entre os vários intervenientes artísticos de mantinha.
Depois de uma vida profissional, pessoal e socialmente rica, Mário Coelho partiu aos 84 anos. Mas como dizia o poeta “Só morre quem é esquecido”.
Mário Coelho nunca será. Nunca será esquecido pela sua família, pelos seus amigos mais próximos, pelos seus companheiros, por todos quantos consigo aprenderam ou conviveram e sobretudo por Portugal, o país que sempre levou consigo no coração por todos os sítios por onde passou.
A Assembleia da República manifesta assim o seu mais profundo pesar pela morte do matador de toiros Mário Coelho, enderençando aos seus familiares, amigos mais directos e companheiros, as suas mais profundas e consternadas condolências.
Assembleia da República, 6 de Julho de 2020
O deputado André Ventura
Foto D.R.