segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Ferreira Paulo sem papas na língua: "2021 foi o ano da confirmação de João Salgueiro da Costa como Figura do Toureio!"

Empresário, apoderado, antigo cavaleiro tauromáquico amador, José Manuel Ferreira Paulo, que todos conhecem por “Cachapim”, ruma dentro de dias à Colômbia, onde foi convidado para ser este ano o Presidente da Feira de Cali, considerada a feira taurina mais importante da América do Sul. A poucos dias da partida, o empresário falou ao “Farpas” desse desafio, da temporada nacional e da brilhante campanha do cavaleiro que apodera, João Salgueiro da Costa.

Entrevista de Miguel Alvarenga

- Vamos falar primeiro da temporada de 2021. Que balanço fazes, “Cachapim”?

- Foi um ano difícil para todo o meio taurino. Começámos na incerteza da evolução da Covid, fomos sendo marginalizados pelas decisões políticas e pela troca de votos entre partidos que nos querem atacar com a benevolência do Governo e cujo grande objectivo é acabar com esta parte importante da nossa Cultura e que nós todos, os que amamos este espectáculo, não vamos deixar.

Difícil, sobretudo, porque vínhamos de um ano anterior muitíssimo duro para todos os que vivem da Festa. Tiveram que se  adaptar ao público possível em cada momento e isso trouxe uma diminuição de receitas e, onde não há, todos se tiveram que ir adaptando a novos valores fruto das circunstâncias. Acredito num virar de página já em 2022!


- No que ao teu cavaleiro João Salgueiro da Costa diz respeito, penso que o balanço tenha sido muito positivo. Deu finalmente o salto que vinha prometendo há alguns anos, destacou-se e até já foi premiado por duas instituições como grande triunfador da temporada…

- Tenho que te dizer que não sendo ainda aquilo a que ele aspira (nem eu), foi, de facto, uma grande temporada. Dezanove corridas, que eram 25, mas que por uns motivos ou outros não se realizaram. Penso que, tirando a corrida da Moita em Maio, o nível foi em crescendo. Houve ferros e actuações que ficaram na memória dos aficionados e bem diferenciadores do seu estilo.

É um toureiro transparente e com uma verdade inigualável, só que tourear com essa verdade tem um custo, nem sempre se consegue, tem que haver a conjugação de vários factores, mas quando saíu  marcou bem a diferença daquilo que para mim é o toureio da verdade. Aquele que defendo há 50 anos. É, a meu ver, um toureiro que ainda não atingiu o seu tecto e espero que 2022 seja um ano para dar mais um passo em frente. Aos artistas não lhes podemos pedir que pintem paredes… mas que pintem quadros diferenciadores e nos deixem a sensação que aquilo não é para todos. E pisar os terrenos que ele tenta pisar, a proximidade com que faz a sorte enganando o toiro sem penaltis, é aquilo que, mais do que como apoderado, me satisfaz como aficionado. Porque isso serei até morrer, aficionado a um estilo que me enche as medidas… apoderado sou estilo “mulher a horas”, estou sempre pronto para sair, mas  sei bem aquilo que é gerir um toureiro, e se fosse fácil… Penso que o João demonstrou bem este ano ser uma figura do toureio!

- Como surgiu este convite para ser presidente da importante Feira de Cali?

- O convite para presidir à Feira de Cali partiu de gente que não conheço, mas que me tem ouvido falar quer pela rádio, quer em colóquios e tertúlias naquelas terras, ganadeiros, aficionados, toureiros, o que muito me honrou. 

Demorei a aceitar. Sou consciente, hoje mais, do que é ser Presidente de uma feira daquela envergadura e tendo na frente as maiores figura mundiais do toureio. Mas, como sabes, tal como gosto de ver tourear, decidi aceitar o convite bem de frente. Tentarei respeitar a praça e procurarei adaptar a presidência às circunstancias actuais da Festa. Porque é no ruedo que estão os protagonistas: toiro e toureiro. Sei que estarei num pais que sofre uma barbaridade com os anti-taurinos com muitas praças de província encerradas, Medellín desactivada como praça de toiros, Bogotá que já esteve encerrada e passa por sérias dificuldades, portanto temos todos que conseguir que o público saia “a tourear para as ruas”, a discutir de toiros e com vontade de voltar no dia seguinte.

- Outra questão: porque não organizaste este ano o festival taurino que já na temporada passada tinha estado agendado para Beja e não se realizou devido ao início da pandemia, mas que foi rodeado também de alguma polémica pelo facto de a Associação Acreditar ter recusado receber dinheiro proveniente de um espectáculo tauromáquico?

- Perguntas porque não dei o festival “dos Amigos da Minha Neta” em Beja este ano. Não dei porque entendi ter cumprido, com a ajuda de todos os intervenientes anunciados no ano passado (todos mesmo, do maior ao menor interveniente, a quem estou agradecido). Mesmo sem haver espectáculo ,  conseguimos angariar e entregar 10.000€ à Associação de Paralisia Cerebral de Beja (APCB),  uma vez que a Acreditar disse não querer o dinheiro do espetáculo. Porque ajudamos quem precisa e em condições normais, a Acreditar e os seus responsáveis preferiram deixar sem prótese ocular 20 crianças… só me resta perguntar se foram eles ou quem pagou essas próteses ou se preferiram humanamente deixar as crianças e as suas famílias privados desse privilégio que bem conheço e que sinto quase diariamente  na  minha neta quando faz a higiene à sua prótese. Mas os gestos ficam com quem os pratica!

Fotos M. Alvarenga

"Cachapim" entre Salgueiros