terça-feira, 5 de maio de 2020

Pedro Santos em Londres: "Aqui a situação está mais complicada"

Pedro Santos vive há alguns anos no Reino Unido,
onde casou e trabalha
Em Albufeira, 2006, na quadrilha do diestro brasileiro Fernando
Guarany. Da esquerda para a direita: os saudosos José António
Lázaro, Vidal Patrício e Álvaro Catoja, Pedro Santos, Frenando
Guarany, Miguel Alvarenga e Pedro Gonçalves
Pedro Santos na quadrilha de João Salgueiro com Amâncio Grilo
Novilheiro "puntero" nos anos 80: actuando em Vila Franca
Aparatosa colhida ("Era o preço de nos arrimarmos", diz) em
Alcochete (1984) na disputa da I "Orelha de Ouro". E, em
baixo, um grande par de bandarilhas no Campo Pequeno


Promissor novilheiro nos anos 80, depois destacado bandarilheiro, Pedro Santos vive há uns anos em Londres e foi da capital do Reino Unido que falou esta manhã com o "Farpas", manifestando-nos as suas preocupações pelo momento que vivemos e também pelo futuro da tauromaquia no mundo

Miguel Alvarenga - Promissor e destaco novilheiro vilafranquense nos anos 80, trocando depois o ouro pela prata e prosseguindo a sua desmedida aficion numa brilhante carreira de bandarilheiro ao lado de grandes figuras nacionais, Pedro Santos mudou-se há alguns anos para Londres, onde casou e trabalha. Quisemos saber como está a passar este dramático período da pandemia num dos países mais afectados pela Covid-19.
- Estou bem, graças a Deus, estamos bem, embora por aqui as coisas estejam complicadas, tem havido muitas mortes e a situação está longe de se encontrar controlada. É difícil e é perigoso, mas vou-me aguentando. O meu irmão está na Madeira, onde graças a Deus as coisas estão muito menos complicadas. 
- Saudades do mundo dos toiros?
- Muitas! Neste momento não posso ir, mas tenho ido várias vezes a Portugal. No ano passado fiz a minha despedida das arenas, lidando um toiro numa festa privada para amigos. Foi um 'corte de coleta' inédito, mas tive a meu lado alguns amigos importantes que me acompanharam ao longo da minha carreira. Quando vou a Portugal não deixo de ir às corridas, ainda no ano passado nos encontrámos na 'Palha Blanco'. E de resto, vou acompanhando diariamente toda a informação no 'Farpas'.
- Preocupado com o futuro da tauromaquia?
- Bastante, como é natural. Se as coisas já não estavam famosas, agora ainda estão pior a todos os níveis. É preocupante a situação dos toureiros, dos ganadeiros, dos empresários, de todos os que vivem do toiro, mas ainda há dias li as declarações do Luis Miguel Pombeiro e concordo em absoluto com ele, ninguém morrerá se a tauromaquia parar um ano, mais vale que quando regresse, regresse em grande e com tudo devidamente organizado. Isso de se realizarem corridas com lotações limitadas, penso eu, será um descalabro e ninguém vai ganhar nada com isso. Acho que mais vale esperar e quando voltarmos às praças que seja em grande. É natural que todos estejam ansiosos por voltar às praças, toureiros, ganadeiros, empresários, forcados e público. Mas não devemos recomeçar de qualquer maneira.
- Chegou a falar-se da realização de corridas à porta fechada, sem público...
- Nem vale a pena comentar isso. Já estou como o Morante, uma corrida sem público é um sacrilégio. Isto está mau para todos, ainda há dias um amigo me dizia que se isto está mau até para o 'Juli', como é que não há-de estar para os outros... Mas, a meu ver, quando as corridas voltarem, têm que voltar em grande, como antigamente!
- Como vês a Festa em Portugal neste momento, diferente da do teu tempo?
- O principal problema, quanto a mim, é não existirem figuras. Há muitos toureiros bons, quer a cavalo, quer a pé, temos bons empresários e boas ganadarias, mas faltam toureiros-figuras que levem pessoas às praças, faltam ídolos no toureiro. Antigamente havia muitos, os toureiros eram verdadeiros ídolos nacionais, como os futebolistas e os cantores, eram conhecidos na rua, eram ídolos do público. E hoje é isso que falta à nossa Festa.
- Uma palavra final à aficion portuguesa...
- A minha saudade de estar convosco. E os desejos de que se cuidem todos e de que voltemos rapidamente a beber uns copos juntos e a ver corridas!

Fotos D.R., Henrique de Carvalho Dias e Luis Azevedo/Estúdio Z