terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Augusto Gomes Júnior nasceu há 110 anos: cornada impediu-o de ser o primeiro matador de toiros nacional, foi o segundo, mas a História não o esqueceu

Nasceu há 110 anos (morreu há dez, com a bonita idade de cem) aquele que foi o grande pioneiro dos toureiros a pé de Portugal - Augusto Gomes Júnior. Parabéns a Você, esteja onde estiver. A nossa homenagem. Toureou pela última vez (foto de cima) com 86 anos em 1999 na praça alentejana de Mourão.

Augusto Gomes Júnior ficou na História por ter sido o primeiro novilheiro português a actuar de luces em Espanha e o segundo matador de toiros da nossa História - podia ter sido o primeiro, mas uma cornada obrigou a adiar a alternativa para cinco meses depois da de Diamantino Viseu.


Nascido no Montijo em 19 de Dezembro de 1913, estreou-se como bandarilheiro amador no ano de 1936 na praça do Sobral de Monte Agraço (hoje gerida por seu filho, o empresário José Luis Gomes), tomando a alternativa de peão de brega no ano seguinte no Campo Pequeno.


Mas os seus sonhos iam mais longe: no ano de 1938 apresentou-se no Campo Pequeno já como novilheiro e no início da década de 40 estabeleceu-se em Espanha disposto a tomar a alternativa de matador de toiros. Queria ser o primeiro - e podia tê-lo sido.


A 21 de Junho de 1942 toureou como novilheiro em Pamplona, sendo o primeiro português a fazê-lo, mas uma grave cornada sofrida em Tafalla obrigou-o a um interregno de quatro anos e impediu-o de ser o primeiro português a receber a alternativa de matador de toiros, honraria e feito histórico que acabou por ser protagonizado por Diamantino Vizeu a 23 de Março de 1947 em Barcelona.


Augusto Gomes tornou-se matador de toiros cinco meses mais tarde, recebendo a alternativa em Constantina (Espanha), a 10 de Agosto desse mesmo ano de 1947, precisamente dezoito dias antes de "Manolete" morrer em Linares. O grande António Bienvenida foi o seu padrinho de alternativa e os toiros pertenciam à ganadaria Natera.


Um ano antes da alternativa, em 1946, Augusto Gomes Júnior já se apresentara em Madrid, tendo sido também o primeiro espada português a estoquear um toiro nessa praça. Toureou e triunfou no Perú, na Colômbia, na Venezuela, em Angola e em Macau, mas no ano de 1951, três anos depois de se ter tornado matador de toiros, decidiu renunciar à alternativa, regressando à categoria de bandarilheiro, integrando durante muitas épocas a quadrilha do famoso cavaleiro José Mestre Batista.

 

Ensinou a sua arte a muitos jovens candidatos a toureiros na desaparecida Escola Arena, que funcionou em Lisboa. Posteriormente, foi um competente director de corrida.


Augusto Gomes Júnior era pai do antigo cabo dos Forcados Amadores de LisboaJosé Luis Gomes e avô do matador de toiros Manuel Dias Gomes e dos forcados Pedro Maria Gomes (actual cabo do Grupo de Lisboa) e Gonçalo Maria Gomes (retirado das arenas) e também da jovem e grande aficionada Madalena Dias Gomes.


Augusto Gomes Júnior morreu com 100 anos em Lisboa, a 3 de Outubro de 2014.


Recordamos a sua memória e rendemos homenagem a uma das maiores personalidades do mundo português da tauromaquia do último século.


Fotos D.R.


Em 1985, entrevistado por Miguel Alvarenga para "O Diabo",
dias depois da morte de José Mestre Batista, recordando a
figura do famoso cavaleiro, de quem fora bandarilheiro
Início dos anos 2000, recebendo das mãos de F. Morgado o
Prémio Prestígio outorgado pelo "Farpas"
Na extinta praça de toiros da Póvoa de Varzim, com seu filho
José Luis Gomes (então cabo do GFA de Lisboa) e seus netos
Gonçalo Maria e Pedro Maria
Augusto Gomes Júnior foi o segundo matador de
toiros português. Esteve para ser o primeiro