Miguel Alvarenga - Se a Tauromaquia fosse uma coisa à séria por cá, neste Portugalzinho das Toiradas (que até já foram Reais...), ninguém faltava à Gala da Tauromaquia, a festa que em três anos já ganhou o estatuto de melhor de todas e da mais importante e mais emblemática - com mais classe, maior nível e mais glamour - deste sector.
Não haveria amuos, não havia artistas que se auto-excluíam, que não votavam para, propositadamente, não irem a votos e não serem nomeados ou finalistas; muito menos haveria toureiros que ficaram entre os cinco primeiros e se estiveram nas tintas para a Gala, pura e simplesmente não foram, certamente porque não sabem perder ou até têm mau perder e só iriam se tivessem a certeza que ganhavam; e se isto fosse realmente levado a sério, como é em Espanha, em França e noutros países, iriam mesmo aqueles que não tiveram votos suficientes para ficar entre os cinco primeiros de cada categoria, fossem cavaleiros, matadores, novilheiros, forcados, bandarilheiros, ganadeiros, empresários...
Mas nada se passou ou se passa assim. Aliás, nunca assim se passaram as coisas na nossa alegre Festarola. Por norma e (péssima) tradição, vão só aos jantares de entrega de prémios aqueles que ganham os prémios, os outros mandam as festas às urtigas, nem sequer sabem ser bons companheiros e solidários para com aqueles que são distinguidos.
Há nestas atitudes dos homens dos bois uma carga muito grande de indelicadeza, de má educação, de falta de companheirismo - mas sobretudo de uma arreliante estupidez.
Não fui à I Gala da Tauromaquia, não me lembro porquê, certamente porque qualquer razão me impediu de estar presente. Fui no ano passado à II Gala e gostei muito. E ia este ano à III Gala, por isso mesmo marquei antecipadamente a ida a Madrid (é um retiro espiritual que ma fez bem todos os anos!) para o primeiro fim-de-semana de Dezembro, convencido de que, como aconteceu no ano passado, a festa seria no segundo fim-de-semana. E essa foi a razão por que não estive presente no sábado. Como, aliás, já aqui tinha explicado. Já pedi ao Mira que para o ano me avise com antecedência da data da Gala para que não volta e ir a Madrid no mesmo fim-de-semana.
O Francisco Mendonça Mira, o Diogo Toorn e o Nuno Santana (que desta vez esteve ausente porque dias antes foi de novo operado, em consequência da lesão no tornozelo que sofreu em Agosto a pegar um toiro no Concurso de Alcochete; sei que, felizmente, já está em casa e daqui o abraço desejando-lhe rápido restabelecimento) foram, há três anos, os grandes impulsionadores desta tão importante obra.
A Gala da Tauromaquia é, ao fim de três edições, indiscutivelmente, a grande Noite de Estrelas do mundo tauromáquica, a grande festa dos Óscares e a única organização com classe, com nível e com glamour - pela forma como é, cuidadosa e meticulosamente, organizada; pela imponência do espaço em que decorre, o Restaurante "Kais" em Lisboa; pelas importantes presenças de políticos e jornalistas que honram e dignificam a Tauromaquia ao estarem ali ao nosso lado nesta noite de tamanha importância e tão relevante significado.
Este ano a Gala contou ainda com a importantíssima particularidade de ter sido transmitida em directo, ao longo de duas horas, para 96 países, pelo canal espanhol OneToro TV, cujo Estado-Maior esteve em Lisboa.
Feito o balanço e sem desprimor para ninguém (de verdade), creio que os jantares de fim de temporada para entrega de prémios aos alegados triunfadores se deveriam circunscrever exclusivamente a este - porque é, de facto, o único com um nível e um glamour superiores e que engrandecem e elevam a Tauromaquia. Não vale a pena haver outros jantarinhos em tascas, quando existe uma Gala como esta e com a força desta. Pensem nisso. Não falo dos grupos (associações, tertúlias) regionais que premeiam os triunfadores nas suas terras, esses terão sempre que existir e é bom que prevaleçam. Falo de outras organizações sem categoria e que em nada concorrem, antes pelo contrário, para a dignificação da Festa.
Mas há o reverso da medalha. Nunca se consegue agradar a gregos e a troianos. Há sempre quem critique por isto ou por aquilo. E há sempre os outros que criticam por criticar, porque ninguém lhes dá importância e ninguém lhes telefona a convidar para irem à Gala...
Concordo com muitos dos eleitos, discordo de outros porque considero que estão completamente errados e não têm pés nem cabeça - mas não me compete comentar os resultados de uma eleição em que a decisão coube aos votantes. Decidiram, está decidido, pronto.
A meu ver, há que alterar - isso sim - a forma de eleição dos triunfadores. É uma crítica positiva. Da mesma forma que há um ano critiquei a ausência de um prémio para novilheiros - e este ano já o introduziram entre as categorias que foram a votos.
Na primeira Gala, foi o público aficionado que votou, por chamada telefónica, nos cinco nomeados que tinham sido votados pelos companheiros. Este ano, decidiu a organização alterar a forma de eleger os triunfadores - foram apenas os intervenientes na temporada (artistas, forcados, ganadeiros e empresários) que votaram. O público votou só na eleição do Município Mais Taurino - e ganhou o de Angra do Heroísmo.
Estes votos por telefone, sejam do público em geral, sejam circunscritos aos toureiros, ganadeiros, empresários e forcados (cabos), permitem sempre que se organizem claques, ainda que de forma legal (não estou a pôr em causa a seriedade com que as coisas são feitas) e sem qualquer suspeição, para votar neste ou naquele - e também para não votar neste ou naquele. No fim, ficam sempre dúvidas, focam suspensões que não têm que existir. É necessário e urgente que tudo seja claro e transparente, como a água.
Cada voto telefónico custa um euro mais IVA. Isso quer dizer que quem tenha muitos amigos - e muito dinheiro - pode levar centenas a votar em si. E outros não terem amigos suficientes para somar votos...
É tudo muito subjectivo. E por mais sérios que sejam os organizadores desta festa (e são, acredito plenamente nisso), ficam sempre suspeições no ar, haverá sempre quem diga que ganhou este, mas quem merecia ganhar era aquele, etc.
Maneira de ultrapassar isto?
Eu dei muitos prémios e organizei muitos jantares destes, as Galas dos Troféus "Farpas", como estarão lembrados. E nunca elegi triunfadores por votos. Era eu e a equipa do "Farpas" - o Emílio, o Pedro Pinto, o Hugo Teixeira e outros - quem elegia os triunfadores. Ganhavam os prémios aqueles que nós considerávamos que tinham sido os melhores. E assim ninguém tinha dúvidas. Concordassem ou não, era a nossa opinião, pronto! Toda a gente sabia que aqueles eram os nossos triunfadores. Os que nós considerávamos terem sido os melhores.
Penso que essa seria a melhor solução para elevar esta Gala da Tauromaquia à total perfeição e aceitação de todos - o que não aconteceu ainda em três anos da sua realização, como é normal.
Organizar um núcleo credível de avaliadores que constituiriam o júri que decidiria quem foram os triunfadores da temporada. Um jurado que fosse bem visto, composto por um ou dois críticos tauromáquicos (também não há muitos mais hoje em dia...), um ou dois cavaleiros retirados, e por aí adiante. Não sei, pensem nisso, mas creio que deveria haver uma outra forma de encontrar os triunfadores. Já foram tentadas duas nas edições anteriores e nesta de sábado, para o ano arranjem outra.
Não tenho mais nada a acrescentar à III Gala da Tauromaquia. Apenas me cabe aplaudir e louvar os seus obreiros - e quis deixar aqui estas poucas considerações e estes pequenos conselhos - que espero não interpretem como críticas negativas.
Fazer mais e melhor deve ser sempre a filosofia que nos norteia nos nossos projectos pessoais e profissionais. E vocês, Francisco, Diogo e Nuno, já fizeram muito em prol da Tauromaquia (que outros deveriam ter feito e nunca ousaram fazê-lo, mas isso é outra conversa para outro dia...). Podem fazer ainda mais. E melhor. E eu aqui estou para Vos apoiar.
Porque não amuo. Porque sei reconhecer que errei quando perco. Ou simplesmente quando não ganho. Porque sempre apoiei a Tauromaquia, lamentando profundamente que ela tenha chegado onde chegou e já não tenha nada a ver com aquilo que era antigamente. E, sobretudo, porque não sou casmurro. Nem estúpido. Posso ter muitos defeitos. Mas esse não.
- Mais logo, não perca a reportagem completa: quem ganhou, quem esteve presente, quem não esteve e devia ter estado, os políticos que marcaram presença, as fotos todas.
Foto D.R./cortesia Associação Gala da Tauromaquia