domingo, 19 de fevereiro de 2012

Já passaram 39 anos...


Miguel Alvarenga - Parece que foi ontem. Eu tinha 14 anos. Iniciara dois anos antes, graças ao apoio de meu Pai, a minha colaboração com a empresa do Campo Pequeno e com o empresário e antigo matador de toiros Manuel dos Santos. Lembro-me como se fosse hoje: "Quero gente nova nisto. Na arena, na crítica, em tudo" - disse-me quando numa manhã, cheio de receios, subi ao seu escritório na praça do Campo Pequeno para o "enfrentar" pela vez primeira. "Trazes-me a tua crónica às sextas de manhã, discutimos o que achaste e ganhas sempre um bilhete para a corrida seguinte" - foi esse o acordo. Com este particular aviso: "Não tenhas medo nunca, se eu estiver mal, como empresário, bate-me...". E assim fiz.
Todas as sextas lá ia, batia à porta, abria-ma o Manolo Escudero, subia no elevador, batia à porta do seu escritório, "entra, Miguelito", sentava-me na cadeira em frente da dele e passava um "suplício". Manuel dos Santos lia atentamente o meu escrito. "Achas que sim? Viste assim? Viste assado? Foi antes isto..." - emendava-me. E eu aprendia. Quem dera a muitos terem aprendido com um Mestre como ele.
Há 39 anos saí de casa e fui à tabacaria ali a lado, no Campo Pequeno, do "velho" Bogarim. "Ó menino Miguel. lá se foi o nosso Manolo!". E explicou-me. Na recta de Vendas Novas, um desastrre. Morrera o Manolo Escudero, Pai do meu querido amigo de infância Victor. Manuel dos Santos estava mal, internado no Hospital Particular. Morreria no dia seguinte, cumprem-se hoje 39 anos.
Alguma coisa teria sido diferente se ele não tem morrido? Alguma coisa, não. Tudo. Quando, naquela tarde de Fevereiro fui com o meu Pai à Igreja de São João de Deus, em Lisboa, estava a Praça de Londres cheia, prestar a minha última homenagem a Manuel dos Santos e a Manolo Escudero, tinha apenas 14 anos, mas tive a certeza de que a Tauromaquia em Portugal estava ali enterrada, desaparecida.
E 39 anos depois, não tenho a mínima das dúvidas. Com Manuel dos Santos era a sério. Agora, por mais sérios que eles sejam, brinca-se. Às toiradas.

Foto D.R.