Lide de antologia: Salgueiro da Costa distanciou-se ontem em definitivo do pelotão! |
Três momentos da lide memorável de João Salgueiro ontem no Campo Pequeno |
34 anos de alternativa e a eterna maestria de João Moura |
Classicismo e experiência na lide de António Ribeiro Telles |
Uma faena de bom gosto - Manuel Telles Bastos voltou ontem a chamar as atenções |
Um belíssimo ferro de Miguel Moura... e o escusado "número" das mordidelas |
2012 promete ficar na história como o ano de ouro dos Salgueiro. O "júnior" João Salgueiro da Costa "acordou" finalmente, depois de ter andado alguns anos a "marcar passo", para desespero dos muitos aficionados que desde cedo o "viram" como "um dos melhores" entre os filhos das nossas Figuras. Devagar e sem pressas, está a dar passos largos e importantes, consolidando-se como o mais destacado dos cavaleiros praticantes, mercê de sólidas e consistentes faenas, triunfais e que nada têm a ver com êxitos "populistas". A sua actuação na Corrida TV/Norte na Póvoa de Varzim é um verdadeiro marco desta temporada. Ontem, no Campo Pequeno, Salgueiro da Costa "repetiu a dose" e fez vir a praça "abaixo" com ferros "do outro mundo". Em surdina, nas bancadas, recordava-se o saudoso José Mestre Batista.
"Conquistou um triunfo rotundo, indiscutível, que o coloca, com diferença, como o mais destacado cavaleiro praticante. O jovem cavaleiro deixou uma faena para 'el recuerdo', toureando sempre de frente e executando as sortes com pureza. Antes, seu pai, João Salgueiro, rubricou uma actuação inspirada, misturando harmoniosamente classicismo e modernidade" - escreve hoje o jornalista Manuel Andrade Guerra na página web da revista espanhola "Aplausos", sob o título "Salgueiro arrasa em Lisboa".
Na verdade e até ao intervalo da corrida de ontem em Lisboa, espectáculo que tinha o selo da revista "Lux" e que assinalava os 120 anos da praça do Campo Pequeno, o grande triunfo da noite pertencia a João Salgueiro (pai), que uma vez mais marcou a diferença, numa temporada em que renasceu, decidido a reconquistar a posição cimeira que fora sua há já alguns anos. Imparável, João Salgueiro tem marcado as arenas por onde tem passado com a "mensagem" de que está de volta - e em força! O "Morante do toureio a cavalo", como foi baptizado por Carlos Arévalo na revista "6 Toros 6", marcou ontem uma vez mais a diferença na arena da capital.
Os toiros da ganadaria Passanha lidados ontem em Lisboa estavam bem apresentados, como sempre, mas, apesar de nobres, primaram por transmitir pouco e foram, na generalidade, reservados. Valeu a entrega e o ofício dos toureiros, a começar pelo Maestro João Moura, que deu a volta ao primeiro com a maestria e a experiência que o consagram há mais de 30 anos (34 de alternativa!); passando pelo Maestro António Ribeiro Telles, que igualmente sacou do difícil segundo toiro da noite a faena que este não tinha para dar. Uma lide de total maestria dentro do melhor estilo clássico de que nunca António se distanciou um milímetro.
Dentro da mesma linha clássica de seu tio, também Manuel Telles Bastos voltou ontem a chamar as atenções com uma faena "de bom gosto e elegantes formas" em que se destacou "o seu sentido estético sem concepções à galeria", entenda-se, sem "populismo", como bem frisa Andrade Guerra.
Por fim e com a parada bem alta pela lide antológica de Salgueiro da Costa, estreou-se em Lisboa de casaca o jovem Miguel Moura. "Não acusou a responsabilidade e vimo-lo decidido", salienta Andrade Guerra na sua apreciação da corrida de ontem em Lisboa, destacando na lide de Miguel Moura o "labor vibrante em que logrou entusiasmar o público". No final as opiniões dividiram-se quando entrou em cena o cavalo "mordedor" e houve mesmo assobios "na sala". Entusiasmado, Miguel insistiu... e não o devia ter feito. Além de não ser coisa original, visto ser uma imitação de um número de Ventura, o jovem cavaleiro de Monforte tem atributos suficientes para brilhar sem recorrer a estas coisas. Nunca estivemos do lado dos "puritanos" que assobiavam Diego Ventura pelas "dentadinhas" do cavalo "Morante". Mas consideramos desnecessário que um cavaleiro português o imite. Apenas isso.
A corrida das Dinastias encheu o Campo Pequeno, que apresentava ontem três quartos fortes das suas bancadas preenchidas, com muitas caras famosas na bancada e muitos aficionados de olhos postos, sobretudo, ma actuação dos jovens na segunda parte do espectáculo.
Andamos há anos à procura de um ídolo. Esta temporada, por fim, os filhos das vedetas estão definitivamente decididos a singrar. Destacam-se João Moura Jr., João Moura Caetano, Duarte Pinto, Telles Bastos e Marcos Bastinhas. Espera-se por João Telles. Entre os praticantes, Salgueiro da Costa distancia-se claramente do pelotão, seguido de perto por João Maria Branco. Estão a nascer as novas Figuras do Toureio em Portugal!
Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com