Miguel Alvarenga - Vão longe, tão longe, os tempos em que nas trincheiras das praças de toiros habitavam usualmente meia dúzia de repórteres fotográficos dos bons - e dos que o eram a sério, quando ainda não existiam "metralhadoras digitais" e era mesmo preciso saber de toiros para clicar no momento certo e conseguir a "chapa" importante nas 24 ou 36 fotografias que eram possíveis tirar por rolo.
Hoje em dia, qualquer um, seja bom ou seja mau (atenção que nem todos são maus), saiba ou não saiba o que é um toiro e conheça ou não conheça a arte para saber exactamente o momento em que tem que clicar (entre os quinhentos disparos que é possível fazer em cada ferro, tem sempre que estar o momento bom...), cria na internet um site ou um blog e depois é um instantinho enquanto aparece na trincheira, credenciado, para encher o seu orgão de comunicação social de "bonecos", estilo expositor de venda, com letras enormes sobre a cara das pessoas para que ninguém possa sacar as fotos e as imprimir, coisa que tem quase nada a ver com Jornalismo e mais se assemelha à prática utilizada pelos fotógrafos de casamentos e baptizados quando apresentam aos clientes as provas...
As trincheiras das nossas praças de toiros estão desde há uns anos invadidas por "curiosos" da fotografia - entre os quais, repito para que não me levem a mal, existem, na realidade, fotógrafos muito bons. Não preciso de citar nomes.
Mas vou citar um. O António Paulo, que conheci pessoalmente há pouco tempo, mas cujo trabalho (tirando também as letras enormes que escarrapacha nas suas fotos...) já admirava há algum tempo. Ele fotografa com sentimento e com alma - e isso marca a diferença.
E tudo isto vem agora a propósito do que li hoje, escrito pela Lara Vicente no seu blog "Aos Olhos de uma Aficionada".
No sábado, no Dia da Tauromaquia no Campo Pequeno, o António Paulo, fotógrafo do blog da Lara, foi pura e simplesmente vetado. Não sei se pela (ainda) empresa cujo staff se manteve pela última vez neste espectáculo, se pelos promotores do evento, a ProToiro e a marca Touradas. A realidade é que o António Paulo foi vetado e impedido de fotografar na trincheira. Vergonha o que lhe fizeram, falta de respeito, escreve a Lara.
E explica:
"A acreditação para o António foi pedida no dia 24 de Fevereiro como é sempre exigido, obtive resposta que a mesma estava concedida, até aí tudo bem, qual não foi o espanto quando o António no dia 29 se apresenta para levantar a sua acreditação e lhe respondem 'não existe acreditação nenhuma...'. Durante as épocas anteriores já tínhamos percebido que o António era sempre tratado como fotógrafo de quinta categoria pelos demais, resultado disso era que só o colocavam na trincheira quando havia outras corridas (de maior interesse e valor para alguns) e não aparecia ninguém no Campo Pequeno para fotografar, nas outras onde alguns fotógrafos aparecem como cogumelos a florescer no campo, o António era colocado sempre no sector 4! No passado sábado a falta de respeito foi ainda maior porque nem para trincheira (ele que reúne todas as condições exigidas para estar na presente) nem para o próprio sector 4....".
Lamentável a todos os títulos.
E mais não posso fazer para lá de aqui expressar a minha inteira solidariedade, pelo respeito e pela admiração que tenho por ele, ao António Paulo. E condenar veementemente o sistema. Que está instalado, mas que é preciso mudar.
Foto M. Alvarenga