sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Joaquim José Penetra: o adeus a um Forcado de verdade!

Volta à arena aos ombros dos companheiros
O último cite, a última pega
Com os filhos, despindo a jaqueta, já com o ombro partido
Abraçado por companheiro depois da sua pega
Sózinho na arena



Miguel Alvarenga - Oriundo de uma família de forcados, nascido na aficionadíssima vila de Alcochete há 46 anos, Joaquim José Penetra fez ontem no Campo Pequeno a última pega da sua carreira, com mais de trinta anos. A última? Nunca se sabe... Forcado que é forcado, é forcado até ao fim. E ele próprio confessou, em entrevista à TVI, que podia ser "um até já".
Brindou a Manuel Cardoso, o popular "Manda-Chuva", outra glória dos tempos antigos da forcadagem. Pegou ao terceiro intento, já com um braço partido, mas pegou na mesma, porque a sua vontade era essa e porque decidira que, quatro anos depois de ter "sido forçado" a abandonar a chefia do Grupo de Amadores do Ribatejo, para que este "se legalizasse", haveria de ser numa corrida televisionada que despia a jaqueta e mostrava, se dúvidas houvessem, os porquês de ter sido um dos grandes forcados deste país. Assim foi.
A seguir foi justamente passeado em ombros pelos companheiros do grupo e depois seguiu para o hospital, de onde regressaria já de braço ao peito, quase no final da corrida.
Joaquim José Penetra destacou-se como forcado nos Amadores de Lisboa. Depois foi, por pouco tempo, cabo dos Amadores do Aposento do Barrete Verde de Alcochete. E mais tarde, em 1996, assumiu o comando dos Amadores do Ribatejo, um grupo com largo historial e que estava, ao tempo, "adormecido". Penetra relançou-o, revelando-se também um excelente condutor e formador de homens. E esse terá sido o seu "crime".
Posto à margem, discriminado, vetado e prepotentemente boicotado, única e incrivelmente por "questões de ordem pessoal", invejas e guerrinhas antigas com elementos dos "grupos maiores", por quem pretendia mandar e dividir, como se alguma vez fosse possível falar-se de "forcados de primeira" e "forcados de segunda", de grupos "legais" e grupos "ilegais", Quim-Zé Penetra teve aí pela frente o mais difícil dos "toiros" da sua vida de valente forcado - a crueldade e a prepotência de quem. não lhe chegando sequer aos calcanhares como forcado, pretendia agora impôr pela força e à base de "leis" anticonstitucionais, regras de um "jogo novo" por que os verdadeiros forcados nunca se haviam regido. 
Mas não virou a cara. Lutou até poder, impôs o grupo, sempre apoiado pelos antigos cabos e pelos antigos forcados, homens de um tempo em que não havia guerras desta índole entre os heróis que honraram as jaquetas de ramagens, fossem elas de que grupo fossem.
Há quatro anos, acabou por "vergar", abandonando a chefia dos Amadores do Ribatejo e assim permitindo que o grupo fosse quase de imediato aceite por aqueles que o renegavam, repito, apenas e só por "questões de ordem pessoal". Não que Penetra fosse de "quebrar", mas colocou em primeiro lugar o nome do grupo, a continuidade da sua trajectória, agora sem ele, agora sem barreiras, sem adversidades - e saíu de cena.
Ontem voltou. Ao fim e ao cabo, provou como estavam errados aqueles que lhe "fecharam a porta". Entre homens desta raça não há "os de primeira" e "os de segunda". Há apenas forcados. E ele foi um dos grandes deste país.
Um abraço grande, Quim-Zé. As tuas melhoras. E o "muito obrigado" de um amigo que, como aficionado, recorda já com aguma nostalgia as grandes tardes e noites de glória que tu soubeste brindar-nos na arena. O único palco, afinal, onde se discute quem é "primeiro" e quem é "segundo". E tu foste um dos primeiros.

Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com