Tratando-se de uma lesão irreversível, portanto, sem recuperação possível, há que encarar sem grande esperança um futuro sem melhoras para o malogrado forcado Nuno de Carvalho, do Aposento de Moita, que ficou paraplégico em consequência da violenta colhida (foto ao lado) sofrida quinta-feira passada na arena do Campo Pequeno.
O "Farpas" procurou, com o apoio de especialistas, traçar o quadro futuro de Nuno de Carvalho, neste momento consciente da sua situação e certamente apoiado moralmente por familiares e amigos. Que pode - e deve - se Deus lhe der forças (e força é coisa que ele tem!), não ser tão dramático como se imagina.
Comecemos pela lesão que sofreu - o que é a paraplegia?
A paraplegia, tal como a tetraplegia, é
resultante de uma lesão medular. Este tipo de lesão classifica-se como completa
ou incompleta, dependendo do facto de existir ou não controle e sensibilidade
abaixo de onde ocorreu a lesão medular. A paraplegia traduz-se na perda de
controle e sensibilidade dos membros inferiores, impossibilitando o andar e
dificultando permanecer sentado.
Normalmente as lesões que resultam em
paraplegia situam-se ao nível da coluna dorsal ou coluna lombar, sendo que quanto
mais alta for a lesão maior será a área de impacto, abrangendo o controle e
sensibilidade, uma vez que a medula é afectada. Após uma lesão medular da qual
resulta paraplegia é possível que os membros afectados deixem de receber
permanentemente qualquer tipo de estímulo, tornando os músculos flácidos, o que
acarreta uma acentuada diminuição de massa muscular facilmente visível.
Em
determinados casos, ocorre um fenómeno denominado espasticidade, o qual ainda não
é totalmente compreendido pela comunidade científica. Este fenómeno mantém os
músculos activos através de movimentos involuntários, os quais no ponto de vista
da pessoa afectada se tornam incómodos e em determinadas situações podem limitar a
vida activa, ou até mesmo impossibilitá-la.
Outro tipo de efeito relacionado com a
paraplegia prende-se com o sistema fisiológico da pessoa afectada, que sofre um
grande impacto, uma vez que a pessoa perde na maioria dos casos o controle das
suas necessidades fisiológicas. Este facto leva a que seja necessário, em
algumas situações, proceder a algaliação, que têm como objectivo permitir
remover a urina acumulada na bexiga. Muitas vezes este processo gera infecção
urinária.
Sendo uma lesão irreversível a que sofreu Nuno de Carvalho, "o doente
tem que se adaptar a essa condição permanente. A reeducação física e a
aprendizagem a um uso correcto dos auxílios à mobilidade, como a cadeira de
rodas, podem melhorar a condições de vida dos paraplégicos, sobretudo se existe
a colaboração constante por parte do paciente".
Nuno não vai poder voltar a andar pelo seu próprio pé. Terá mobilidade da cintura para cima, o que lhe permitirá uma melhor condição de vida, não o deixando incapacitado a 100 por cento. Mas há ainda uma esperança chamada "ReWalk", que significa "ReAndar", ou seja, um sofisticado aparelho, denominado exoesqueleto electrónico que permite a um paraplégico voltar a andar e a quase fazer a sua vida normal.
Criado e comercializado em quase todo o mundo por uma empresa israelita, este milagroso aparelho foi inventado por Amit Goffer, o fundador da Argo Medical Technologies e permite que o usuário volte a levantar-se, a andar e a subir escadas, sem o auxílio de ninguém.
"O mais importante é a recuperação da dignidade, da auto-estima da pessoa", afirmou Goffer. O próprio inventor ficou paralisado da cintura para baixo num acidente em 1997, mas não pode utilizar o seu aparelho porque não tem controle total dos braços. O "ReWalk" custa sensivelmente o mesmo preço das mais sofisticadas cadeiras de rodas existentes no mercado.
O estudante americano Austin Whitney, de apenas 22 anos, paraplégico, foi quem celebrizou este tipo de aparelho nos Estados Unidos, utilizando uma versão muito idêntica à criada pelo israelita Goffer, um aparelho criado pela equipa coordenada pelo professor de engenharia mecânica Homayoon Kazerooni.
Fotos D.R. e Emílio de Jesus