Apresentar-se no Campo Pequeno como matador de toiros, regressar à praça da sua terra, a Moita, onde foi triunfador em 2007 e debutar na Monumental de Madrid são os três desejos maiores de Sérgio dos Santos "Parrita", que no ano passado enfrentou seis toiros em Alter e diz que isso lhe "modificou a carreira". Já esteve para desistir, reconhece que cometeu erros e "perdeu o comboio" no tempo em que o saudoso Fernando Camacho nele apostou, mas considera que está hoje "mais profissional que nunca" e que a sua hora há-de chegar a qualquer momento. Cumpre nove anos de alternativa no próximo dia 25 de Abril dia em que actuará na tradicional corrida de Alter do Chão. Vamos ouvi-lo, já a seguir.
Entrevista de M. Alvarenga
- Feitas as contas, "Parrita",
serviu de alguma coisa o gesto de enfrentar seis toiros em Alter no ano passado
no final da época? Isso abriu portas para a presente temporada?
- Serviu e muito, Miguel, foi uma tarde
importantíssima na minha carreira, onde penso que estive à altura de um desafio
enorme, onde demonstrei que tenho qualidade e que mereço estar em muitos
cartéis, que fui um profissional que deu a cara toda a corrida e que não me
derrubam emocionalmente de maneira alguma e que penso que irá abrir algumas
portas este ano! De certeza que muita gente me irá ver de outra forma...
- Houve algum contacto entre os seus
apoderados e as empresas da Moita, sua terra e do Campo Pequeno, para aí
toureie este ano?
- Até agora, não. O ano passado, sim,
houve conversações com estas empresas. Da parte do Sr. Rui Bento (Campo
Pequeno), foi-me dito que na temporada passada era impossível, mas que não
estava fora de hipótese a minha apresentação em Lisboa este ano. Sobre a Moita,
o ano passado houve contacto para regressar na Feira de Setembro e onde me foi
dito pelo Sr. "Nené" que sim, que tinha a sua palavra de homem que
iria entrar... mas à última da hora mandou uma mensagem via telemóvel (sms) a
informar que tal já não era possível... Enfim, este ano ainda não houve nenhuma
conversação com a actual empresa.
- A participação na corrida de Abril em
Alter, ainda que lidando apenas um toiro "entre" três cavaleiros, é
um desafio importante?
- Com certeza que sim, todas as tardes
nesta fase são muitos importantes, visto que tenho ganho o respeito da afición
a pulso, tarde a tarde, ainda para mais Alter que é a terra onde vivo, a praça
que mudou a minha carreira na tarde dos seis toiros e também por ser uma das
datas mais fortes no panorama taurino!
- Já esteve para desistir e passar a
bandarilheiro, depois voltou com a palavra atrás, isso significa alguma
instabilidade na sua carreira?...
- A decepção, por às vezes o mundo
taurino não ser leal, as injustiças, mesmo considerando-me um lutador... tudo
isso tem acontecido. Um ser humano não é de ferro e tem recaídas, mas essa fase
já lá vai... sinto-me mais profissional que nunca, mais motivado que nunca,
estou aqui para chegar onde quero, ser figura!
- Alcançou todas as metas que pretendia?
- Além da meta de conseguir ser matador
de toiros, não consegui muitas mais, faltam-me muitas metas por atingir... uma
delas, ir a Madrid este ano!
- Um mano-a-mano com Luis
"Procuna"... quando? Afinal, são os dois matadores da Moita...
- Quando ele quiser, na praça que ele
quiser e com a ganadaria que ele quiser... mas não me parece que queira... mas,
dizendo isto, não quero de maneira nenhuma ofendê-lo, porque como profissional
respeito-o muito, mas não é cartada que o seu apoderado queira arriscar, pelo
menos foi o que disse, "que não fazia sentido", mas vamos lá entender
o que fará sentido para o senhor... será porque das últimas vezes que isso
aconteceu as praças encheram e eu até estive muito bem?! Numa dessas vezes, fui
considerado triunfador (Feira da Moita de 2007)...
- Pena de não estar sábado no festival
da Moita a favor do forcado Nuno Carvalho?
- Terei de respeitar a organização do
festival, que assim o entendeu, mas não me pareceu bem, visto ser um matador da
terra e nem sequer ter sido contactado... mas lá terão as suas razões. Tenho,
sim, muita pena, porque conheço o Nuno há muitos anos e gostava de poder
colaborar e estar ao lado dele neste festival na minha terra, mas sempre que
ele precisar estarei disponível. Desejo que esgote e que seja um êxito!
- A apresentação como matador em Lisboa
é um sonho difícil?
- Tem sido muito difícil, mas tenho a
certeza que este ano será com certeza, penso que a empresa não irá ter motivos
para não o fazer!
- "Parrita", quantos anos de
alternativa? Valeu a pena?
- Faz nove anos no dia 25 de Abril que
tomei a alternativa. Claro que valeu a pena, tudo o que tenho, por muito pouco
que seja, foi esta profissão que me deu: os amigos, as vivências, as alegrias,
as tristezas, os sítios pelo mundo por onde toureei. Agradeço tudo a esta
profissão, a mais bonita e mais dura de todas: ser matador de toiros!
- Chegou a ser apoderado pelo saudoso
Fernando Camacho, que dizia ter em mãos "um novo Pedrito", lembra-se?
Falhou o quê?
- Falhou muita coisa: era novo demais
para o patamar onde me quiseram pôr e, claro, não estive à altura do momento, a
cabeça enquanto jovem também não funcionou, as miúdas, etc... tudo coisas que
me fizeram perder o comboio, mas rapidamente o agarrei de novo. Ddepois tive a
dupla dificuldade pela frente, a parte dura de ser toureiro e a parte que era
limpar as cabeças que tinham a ideia que eu antes lhes tinha transmitido, foi
sempre tudo muito duro para mim, mas até tive uma boa carreira de novilheiro e
tenho sido um lutador digno desde que me tornei matador de toiros e nestes dois
últimos anos, principalmente o último, cresci muito como profissional.
Chegou-me alguma madurez, sinto que estou no melhor momento da minha carreira.
- Perspectivas de futuro?
- Continuar a lutar pelo lugar e pela
categoria que mereço, aproveitar o momento que atravesso e chegar onde quero!
Não tenho nenhuma dúvida que o meu momento está muito próximo e agarrar as três
tardes que tenho em Abril como se fossem as últimas para decidir a minha
campanha 2013 e ser um grande ano taurino para mim!
- Sempre toureia no festival de Tomar
dia 6 de Abril?
- Sim, houve um site
espanhol que falou no nome de Miguelín Murillo, mas falei de imediato com o Rui
Salvador, que organiza o festival e ele disse-me que não sabia de onde tinha vindo
isso, que era eu quem toureava. Lá estarei!
Fotos D.R./Pedro Correia, Hugo Teixeira, Inácio Ramos Jr., Emílio de Jesus e Fernando Clemente